Tema da semana
“Irmãos”
De 10/01/2014 a 16/02/2014
Joanna de Ângelis
Enquanto a sociedade estertorava nas guerras cruentas
de dominação
de povos
e vidas, sentiste a necessidade de lutar
pela Pátria, evitando
o abuso daqueles que consideravam com o direito a
escravizar os seus
irmãos.
Não compreendendo a luta que deverias travar,
pensaste que as glórias antevistas em sonho referiam-se aos tesouros terrestres, e para melhor compreenderes o amor do Cristo, marchaste
para a defesa dos fracos,
pensando em servir
a Deus e ao país.
Nascido para a paz,
jamais poderias combater com armas
destruidoras,
e por isso tombaste
prisioneiro dos hábeis verdugos,
que te encarceraram e te
fizeram sofrer.
Humilhado e enfermo, retornaste ao lar, quando foste visitado pelo Amigo-Amor que
te convocou
para diferente luta, cujas armas seriam a mansidão, a renúncia, o
sacrifício.
Eras jovem e sonhador,
trovador das noites estreladas e amigo da ilusão. No entanto, possuías uma tristeza invencível que
nada conseguia diminuir.
Dissimulavas a melancolia com a jovialidade, mas sabias que a
tua vida
não te
pertencia, embora não entendesses a solidão interior que te macerava,
preparando-te para a soledade
entre todos pelo resto
da tua existência.
Mas quando ouviste o chamado
do Cantor
da misericórdia,
todo o teu ser tremeu de emoção e perdeste o interesse
pela existência convencional.
Começaste o despojamento, liberando-te das coisas, para poderes libertar-te
de ti
mesmo, a fim de te entregares
a Ele por inteiro.
Os teus não te compreenderam, mas os leprosos de Rivotorto
te receberam as doações
de pão, de paz, de carinho com lágrimas
que os olhos da alma
vertiam em abundância, na decomposição
em que se consumiam.
Mais tarde, outros solitários vieram
unir-se
à tua soledade, a fim de formarem
o rebanho submisso
ao cajado do
Pastor.
Ignorando a teologia, sabias
o Evangelho na sua integral pureza, sem
disfarces nem dissimulações, e saíste a vivê-lo, enquanto o
pregavas com palavras
simples e atos
de coragem incomum.
Transformaste as noites
festivas de cantos e banquetes em um perene poema
de beleza,
enaltecendo os irmãos Sol, Lua,
Chuva, Pássaros, Lobo, Neve, enquanto
o mundo de então te espreitava
com desconfiança e desinteresse.
Mas, o teu exemplo de abnegação continuo sensibilizando
outros corações ansiosos de vida
nova, que te passaram a acompanhar pelas estradas da
Úmbria, albergando-se na
Porciúncula modesta e desprovida de tudo,
menos da ternura.
Quando menos esperaste,
havia multidões que se comprimiam para ouvir
as tuas
canções de esperança e caridade, tocadas
pela tua presença
e a dos teus cancioneiros, tão desprotegidos
como tu mesmo, no
entanto amparados pelo
Sublime Cantor.
Irmão Francisco! Canta outra vez para
nós o teu poema de amor, nestes
calamitosos dias que vivemos!
As noites da
Terra já não são ricas
de cações,
mas de
expectativas dolorosas.
Os grupos juvenis
raramente se reúnem para sorrir
ou para
os folguedos
inocentes, e sim para a embriaguez alcoólica ou o envenenamento por drogas alucinantes.
O enamoramento que procede à união dos corpos foi sucedido
pela volúpia do sexo em
desalinho e a posterior dilaceração dos sentimentos face
ao abandono e às suas consequências perversas.
O relacionamento fraternal tem sido transformado
em
gangues violentas que se arremetem
umas contra as outras em fúria desconhecida.
A literatura
gentil e cavalheiresca cede lugar àpornografia
desabrida e às narrações de
funestos acontecimentos.
A música romântica
transformou-se
em vulcão de ruídos metálicos que induzem
à loucura e a bestialidade.
A poesia perdeu a inocência e a beleza, passando às arremetidas
de palavras
sem nexo
ou construções
de palavras
sem ritmo,
sem rima, sem mensagem.
É certo que ainda permanecem
em alguns grupos o sentimento de amor, de fraternidade, de
beleza e de harmonia, afirmando que nem tudo está perdido
na grande noite adornada de ciência e de
tecnologia, na qual as almas
estorcegam sob os camartelos do sofrimento.
Existe muito conforto
para uns e nenhum para outros.
Aliás, também nos teus
dias era assim,
razão porque preferistes os últimos,
oferecendo-lhes
carinho por faltarem
outros recursos.
O progresso
facilitou o intercâmbio entre as criaturas e propiciou o desenvolvimento da criminalidade e do ódio.
Há grandeza, sim, na arte e no pensamento, na
cultura e no sentimento, porém,
a fé empalideceu e agoniza
ante a predominância
do
comportamento hedonista que
se
espalha por toda a parte.
O firmamento
está cortado a cada momento por
grandiosas naves conduzindo milhões
de
indivíduos de
um para
outro lado, com todo luxo
e facilidade. Todavia, milhares de ogivas
nucleares carregadas de bombas de
alta destruição aguardam o simples movimento para dispararem suas cargas
terríveis de desagregação de
tudo.
Nesse pandemônio
de alegrias e pavor, de riquezas e misérias, de esperanças e desencantos, há milhões de pessoas anelando
por conhecer-te ou
reencontrar-te, a fim de
que a tua canção, Irmão da
Natureza, as reconduza
a Jesus a quem tanto
amas!
Volta novamente à Terra, Trovador de Deus, para que tua
pobreza inunde de poder
todos aqueles que acreditam na
força de não ter nada, nas infinitas possibilidades da não-violência e no infinito amor
do Pai!
Irmão Francisco: O teu irmão lobo
transformou-se no
monstro devastador de drogas que consomem a juventude,
em especial, e
a outros indivíduos, em particular.
As lutas de
cidades, umas contra as outras,
ainda continuam e agora mais
graves, na violência
urbana.
A poluição
química da atmosfera, que ameaça
a Terra, filha daquela de natureza mental e moral, lentamente destrói a Irmã Natureza que
tanto amas.
Homens dominadores e perversos
ameaçam-se ainda através
da política escravizadora das moedas que subjugam os povos que não têm voz no concerto
das Nações poderosas.
Az vozes que
proclamam a paz estão muito comprometidas
com
a guerra.
O mundo de hoje aguarda
o retorno da tua Canção,
pobrezinho de Deus, porque
ela impregna as vidas com
ternura, amor e paz.
Iremos fazer um grande silêncio
interior, preparar os caminhos e aguardar que tu chegues, simples e nobre como o lírio do
campo, bom e doce como o mel silvestre, amigo e irmão como o
Sol,
para que tua voz nos reconduza de volta ao rebanho que te segue e levas
ao Irmão Liberdade, que é Jesus.
Pensamentos extraídos da mensagem Irmão
da Natureza, escrita em
Assis, Itália, no dia 27 de maio de
2001.
[...] para os
verdadeiros espíritas, todos os homens são irmãos, seja qual for a nação a que
pertençam. [...]
Referência:
KARDEC, Allan. Instruções de Allan Kardec ao
Movimento Espírita. Org. por Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
- cap. 16
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