Tema da semana
“Minha família, o
mundo e eu”
de 26/11/2012 a
02/12/2012
Alberto Almeida
“Quem
ama pai ou mãe mais que a mim, não é digno de mim...”
Jesus.
(Mateus, 10:37)
***
Depois
de demorada reflexão, após conferência sobre o quanto se repete
aquilo que aprendemos com nossos pais, o esposo falou:
-
O que me intriga é que repito não só o que admirava no papai, mas
também as coisas que eu nele censurava.
E
acrescentou, decepcionado consigo próprio:
-
Hoje, como um absurdo, me vejo inclinado a fazer com minha esposa as
mesmas coisas que meu pai fazia com a mamãe: palavras ásperas,
gritos, relações extraconjugais... Até aquilo que odiava nele
quando, alcoolizado, partia para tentar agredir a mamãe, o que
motivava minha intervenção, interpondo-me entre eles.
E
imprimindo tristeza na voz, concluiu:
-
É a força do exemplo... Do mau exemplo!
Ao
que o expositor, ouvindo-o, aditou, trazendo-o ao presente com vistas
ao futuro:
-
Você tem filhos?
***
O
verdadeiro curso de preparação para a vida de conjugalidade não se
faz às vésperas das bodas, – qual acontece em tentativas honestas
de grupos especializados – cujos benefícios são tão somente de
nível informativo.
Contudo,
no âmbito formativo, estrutural, jamais se improvisa a edificação
de almas para conduzirem o barco conjugal no mar da vida, como, de
modo idêntico, não se formam, numa oficina de fim de semana,
comandantes para pilotar um navio.
Aprendemos
a ser esposos e esposas na convivência diuturna, especialmente com
nossos pais, de forma consciente e inconsciente. Basta observarmos as
crianças brincando de casinha e perceberemos, nas encenações, quão
fielmente nos traduzem, tanto nas palavras como na mímica, a ponto
de nos vermos, tal a perfeição com que se reproduzem nossos
comportamentos.
É
por mecanismo semelhante que se dá a internalização dos pais pelos
filhos, desde tenra idade, e que vai se fixando por toda a infância
e adolescência.
As
crianças modelam o comportamento dos pais – deuses de carne e osso
– introjetando-o de tal modo que se tornam “reféns”, pelo
menos relativamente, das figuras parentais, vida afora.
Mais
tarde, repetem os conteúdos positivos e negativos, frutos da
assimilação pela educação. Há sempre uma tendência em
reproduzir a relação conjugal da família de origem nos nossos
relacionamentos. É por este motivo que tendemos a nos acasalar com
pessoas que lembram nossos pais, notadamente aquele com o qual nossa
identificação foi maior.
***
Se as
figuras parentais foram exemplares nos papéis de cônjuges, a
repercussão nos filhos será muito positiva, favorecendo a reedição
de comportamentos adequados e virtuosos.
Os
filhos reproduzem com maior ou menor fidelidade e competência a
forma apropriada como os pais se tratavam, cuidavam-se, assistiam-se,
revelando o que viram quando eram crianças. Como atores, reeditam
exatamente o texto que aprenderam, seguindo o roteiro da peça
amorosa escrita encenada por seus pais.
Todavia,
se os filhos presenciaram vivências destrutivas e atitudes infelizes
dos seus pais, na posição de consortes, será inevitável que
tragam, inconscientemente, scripts
com tendência para repetir, nas relações afetivas de namoro ou de
acasalamento, as cenas que assistiram. Reproduzem, assim,
comportamentos muito similares àqueles que seus pais tiveram entre
si, ou então assumem atitudes outras, radicalmente diferentes, mas
raramente equilibradas, em oposição inconsciente ao que
experimentam no lar.
Escolhemos
pessoas que nos suscitam reproduzir o tipo de transação emocional
que frequentemente vimos em nossa família de origem. Talvez como uma
tentativa de “limpar” os conteúdos conflituosos que carregamos
de nossa história de vida e que não conseguimos elaborar ou
resolver.
É
por isso que vemos as cenas familiares se reescreverem, em reprise
indesejada, trazendo os mesmo conteúdos, com variações a depender
de cada Espírito encarnado:
-
filho que presenciou atritos decorrentes de abusos alcoólicos em
casa, mais tarde namora pessoas com um pé no alcoolismo, ou então
passa a beber tanto quanto o pai que ele criticava;
-
filha que acompanhou o ciúme descabido da mãe, manifestado por meio
de agressão ao pai, hoje se vê insegura afetivamente em seu namoro,
buscando, pela agressão, a forma de encaminhar, em vão, seus
conflitos;
-
filho que assistiu o pai a usar palavrões e empurrões contra a mãe
quando contrariado, agora se vale do mesmo expediente violento para
lidar com a namorada ou a esposa, quando contestado;
-
filha que viveu a submissão servil da mãe ante a dor das traições
do pai, se percebe mantendo atitude passiva diante de um
relacionamento com um homem poligâmico que lhe usurpa a dignidade,
ou então, estabelece para si a negação do casamento, afirmando que
“em homem não se confia”;
-
filho que vivenciou a dor da mãe, traída pelo pai, passa a seduzir
e a “usar” as mulheres em vingança inconsciente, ou vive o
sentimento paranoico, perseguindo a esposa em seus mínimos
movimentos.
E
assim, em infinitos tons desafinados, o eco conjugal dos pais alcança
os filhos até em sua idade adulta, exigindo destes apurada atenção
para identificá-los e tratá-los, a fim de que tais ruídos não
infelicitem a sinfonia da nova conjugalidade.
***
No
entanto, os filhos não são afetados apenas pelo comportamento dos
pais como cônjuges, mas também pelas relações pais/filhos. Ou
seja, todas as pendências, vazios, abandonos, castrações,
agressões e outros conflitos que resultaram da convivência entre
pais e filhos pequenos reaparecem nos filhos adultos nas interações
amorosas em geral, e, especialmente, nas de natureza conjugal.
Precisando
atualizar as suas relações com seus pais, os filhos transferem
essas necessidades na direção de outras pessoas, dentre elas as que
ocupam o lugar de namoradas ou esposas, por exemplo.
Não
é por outra razão que buscam pessoas muito parecidas com pai e/ou a
mãe, na ânsia inconsciente de equacionar problemas não resolvidos
em sua história de vida.
Justifica-se,
desse modo, o faro com que identificam, mediante micromensagens,
pessoas com as quais passam
a se relacionar, sem se darem conta de que são escolhas
inconscientes, automáticas, estabelecidas por comandos psicológicos
estruturados ao longo de sua história de vida, implicadas com seus
genitores.
***
A
vida sempre devolve aos Espíritos aquilo que ficou em suspenso,
precisando ser solucionado, aprendido.
Faz-
se imprescindível, e com urgência, usar a autoanálise pela
reflexão, meditando continuamente para identificar essas encrencas.
Trazê-las à luz do consciente, a fim de dissolvê-las, integrando
novos e inadiáveis aprendizados para nossa evolução intelecto
moral.
Este
não é um trabalho simples e de rápida execução. Ao contrário,
requer o esforço continuado de um garimpeiro para identificar as
pedras preciosas da boa convivência, separando-as do cascalho das
negatividades arroladas ao longo dos anos de convivência com pais e
outras pessoas que foram significativas na formação de nossa
personalidade.
Perceber
as pedras preciosas é tomar consciência das virtudes como um
legado, e que agora são incorporadas com reverência e gratidão.
Refazer
mazelas destrutivas herdadas dos nossos pais não é renegá-los ou
desconsiderá-los. Antes, é honrá-los, transformando as dores em
dons, com o aprendizado que se poderá haurir das experiências,
agora transformadas em lições.
Dedicação,
tato, paciência são recursos indispensáveis nessa tarefa da
própria reeducação continuada.
Os
filhos adultos enxergarão, nos parceiros atuais, espelhos que
refletirão com transparência as suas relações ancestrais,
facultando estabelecer, ao mesmo tempo, uma nova compreensão da sua
história familiar e a reconciliação com seus pais e com outras
figuras psicologicamente representativas da sua infância, bem como a
possibilidade de estarem mais livres e maduros para viabilizar
relações amorosas mais fecundas no presente.
O
Evangelho sob a óptica do Espiritismo é matéria-prima de
excelência para apoiar os futuros cônjuges na elaboração das
sombras de ontem, a fim de transmutá-las em luz de hoje, facultando
conquistas de competências virtuosas que se revelarão no casamento,
na nova família e na vida real.
***
“Quantos
pais são infelizes com seus filhos porque não lhes combateram desde
o princípio as más tendências! Por fraqueza ou indiferença,
deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do
egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração...
“Interroguem
friamente suas consciências todos os que são feridos no coração
pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à
origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes,
não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal
coisa, não estaria em semelhante condição.”
(O
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 4 Causas atuais
das aflições).
Do livro
“A Arte do Reencontro - Casamento”
TROVAS
DO CASAMENTO
Não
fujas do lar em prova,
Nem
lastimes em vão,
Casamento
é luz sublime
Na
Lei da Reencarnação.
Casimiro
Cunha
Psicografia
Chico Xavier - Livro Família