sexta-feira, 30 de novembro de 2012

VIDA EM FAMÍLIA


Tema da semana
Minha família, o mundo e eu”
de 26/11/2012 a 02/12/2012

Joanna de Ângelis

Os filhos não são cópias xerox dos pais, que apenas produzem o corpo, graças aos mecanismos do atavismo biológico.

As heranças e parecenças físicas são decorrências dos gametas, no entanto, o caráter, a inteligência e o sentimento procedem do Espírito que se corporifica pela reencarnação, sem maior dependência dos vínculos genéticos com os progenitores.

Atados por compromissos anteriores, retornam, ao lar, não somente aqueles seres a quem se ama, senão aque¬loutros a quem se deve ou que estão com dívidas…

Cobradores empedernidos surgem na forma fisiológica, renteando com o devedor, utilizando-se do processo superior das Leis de Deus para o reajuste de contas, no qual, não poucas vezes, se complicam as situações, por indisposições dos consortes…

Adversários reaparecem como membros da família para receber amor, no entanto, na batalha das afinidades padecem campanhas de perseguição inconsciente, experimentando o pesado ônus da antipatia e da animosidade.

A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências reparadoras, na qual a felicidade e a dor se alternam, programando a paz futura.

Nem é o grupo da bênção, nem o élan da desdita.

Antes é a escola de aprendizagem e redenção futura.

Irmãos que se amam, ou se detestam, pais que se digladiam no proscênio doméstico, genitores que destacam uns filhos em detrimento dos outros, ou filhos que agridem ou amparam pais, são Espíritos em processo de evolução, retornando ao palco da vida física para a encenação da peça em que fracassaram, no passado.

A vida é incessante, e a família carnal são experiências transitórias em programação que objetiva a família universal.

Abençoa, desse modo, com a paciência e o perdão, o filho ingrato e calceta.

Compreende com ternura o genitor atormentado que te não corresponde às aspirações.

Desculpa o esposo irresponsável ou a companheira leviana, perseverando ao seu lado, mesmo que o ser a quem te vinculas queira ir-se adiante.

Não o retenhas com amarras de ódio ou de ressentimento. Irá além, sim, no entanto, prossegue tu, fiel, no posto, e amando…

Não te creias responsável direto na provação que te abate ante o filho limitado, física ou mentalmente.

Tu e ele sois comprometidos perante os códigos Divinos pelo pretérito espiritual.

O teu corpo lhe ofereceu os elementos com que se apresenta, porém, foi ele, o ser espiritual, quem modelou a roupagem na qual comparece para o compromisso libertador.

Ante o filhinho deficiente não te inculpes. Ama-o mais e completa-lhe as limitações com os teus recursos, preenchendo os vazios que ele experimenta.

Suas carências são abençoados mecanismos de crescimento eterno.

Faze por ele, hoje, o que descuidaste antes.

A vida em família é oportunidade sublime que não deve ser descuidada ou malbaratada.

Com muita propriedade e irretorquível sabedoria, afirmou Jesus, ao doutor da Lei:

"Ninguém entrará no reino dos céus, se não nascer de novo…”

E a Doutrina Espírita estabelece com segurança:

"Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre - é a lei. Fora da caridade não há salvação."


Do livro “SOS Família”.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco.
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ANOTAÇÕES DE FAMÍLIA
Família, como estiver,
Erguida seja onde for
É uma benção de trabalho
Que Deus nos faz por amor.
Silveira Carvalho
Do livro “Família”.
Psicografia de “Francisco Cândido Xavier”.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

FAMÍLIA


Tema da semana
Minha família, o mundo e eu”
de 26/11/2012 a 02/12/2012

Joanna de Ângelis

Conceito - Grupamento de raça, de caracteres e gêneros semelhantes, resultado de agregações afins, a família genericamente, representa o clã social ou de sintonia por identidade que reúne espécimes dentro da mesma classificação. Juridicamente, porém, a família se deriva da união de dois seres que se elegem para uma vida bem comum, através de um contrato, dando origem à genitura da mesma espécie. Pequena república fundamental para o equilíbrio da grande república humana representada pela nação.

A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras de bom comportamento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus membros, favorável à perfeita harmonia que deve ter vigência sob o mesmo teto em que se agasalham os que se consorciam.

Animal social, naturalmente monogâmico, o homem, na sua generalidade, somente se realiza quando comparte necessidades e aspirações na conjuntura elevada do lar.

O lar, no entanto, não pode ser configurado como a edificação material, capaz de oferecer segurança e paz aos que aí se resguardam. A casa são a argamassa, os tijolos, a cobertura, os alicerces e os móveis, enquanto o lar são renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se permitem àqueles que se vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consanguíneo, decorrente da união.

A família, em razão disso, é o grupo de espíritos normalmente necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação, graças à contingência reencarnatória. Assim, famílias espirituais frequentemente se reúnem na Terra em domicílios físicos diferentes, para as realizações nobilitantes com que sempre se viram a braços os construtores do Mundo.

Retornam no mesmo grupo consanguíneo os espíritos afins, a cuja oportunidade às vezes preferem renunciar, de modo a concederem aos desafetos e rebeldes do passado o ensejo da necessária evolução, da qual fruirão após as renúncias às demoradas uniões no Mundo Espiritual...

Modernamente, ante a precipitação dos conceitos que generalizam na vulgaridade os valores éticos, tem-se a impressão de que paira rude ameaça sobre a estabilidade da família.

Mais do que nunca, porém, o conjunto doméstico se deve impor para a sobrevivência a benefício da soberania da própria Humanidade.

A família é mais do que o resultante genético... São os ideais, os sonhos, os anelos, as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos e as aspirações, as tradições morais elevadas que se cimentam nos liames da concessão divina, no mesmo grupo doméstico onde medram as nobres expressões da elevação espiritual na Terra.

Quando a família periclita, por esta ou aquela razão, sem dúvida a sociedade está a um passo do malogro...

Histórico - Graças ao instinto gregário, o homem, por exigência da preservação da vida, viu-se conduzido à necessidade da cooperação recíproca, a fim de sobreviver em face das ásperas circunstâncias nos lugares onde foi colocado para evoluir. A união nas necessidades inspirou as soluções para os múltiplos problemas decorrentes do aparente desaparelhamento que o fazia sofrer ao lutar contra os múltiplos fatores negativos que havia por bem superar.

Formando os primitivos agrupamentos em semi-barbárie, nasceram os pródromos das eleições afetivas, da defesa dos dependentes e submissos, surgindo os lampejos da aglutinação familial.

Dos tempos primitivos aos da Civilização da Antiguidade Oriental, os valores culturais impuseram lentamente as regras de comportamento em relação aos pais -representativos dos legisladores, personificados nos anciãos; destes para os filhos - pela fragilidade e dependência que sempre inspiram; entre irmãos - pela convivência pacífica indispensável à fortaleza da espécie; ou reciprocamente entre os mais próximos, embora não subalternos ao mesmo teto, num desdobramento do próprio clã, ensaiando os passos na direção da família dilatada...

A Grécia, aturdida pela hegemonia militar espartana, não considerou devidamente a união familial, o que motivou a sua destruição, ressalvada Atenas, que, não obstante amando a arte e a beleza, reservava ao Estado os deveres pertencentes à família, facultando-a sobreviver por tempo maior, mas não lobrigando atingir o programa estético e superior a que se propuseram os seus excelentes filósofos.

A Roma coube essa indeclinável tarefa, a princípio reservada ao patriciado, e depois, através de leis coordenadas pelo Senado, que alcançaram as classes agrícolas, militares, artísticas e a plebe, facultando direitos e deveres que, embora as hediondas e infelizes guerras, se foram fixando no substrato social e estabelecendo os convênios que o amor sancionou e fixou como técnica segura de dignificação do próprio homem, no Conjunto da família.

A Idade Média, caracterizada pela supremacia da ignorância, desfigurou a família com o impositivo de serem doados os filhos à Igreja e ao suserano dominador, entibiando por séculos a marcha do espírito humano.

Aos enciclopedistas foi reservada a grandiosa missão de, em estabelecendo os códigos dos direitos humanos, reestruturarem a família em bases de respeito para a felicidade das criaturas.

Todavia, a dialética materialista e os modernos conceitos sensualistas, proscrevendo o matrimônio e prescrevendo o amor livre, voltam a investir contra a organização familial por meio de métodos aberrantes, transitórios, e certo, mas que não conseguirão, em absoluto, qualquer triunfo significativo.

São da natureza humana a fidelidade, a cooperação e a fraternidade como pálidas manifestações do amor em desdobramento eficaz. Tais valores se agasalham, sem dúvida, no lar, no seio da família, onde se arregimentam forças morais e se caldeiam sentimentos na forja da convivência doméstica.

Apesar de a poliandria haver gerado o matriarcado e a promiscuidade sexual feminina, a poligamia, elegendo o patriarcado, não foi de menos infelizes consequências.

Segundo o eminente jurista suíço Bachofen, que procedeu a pesquisas históricas inigualáveis sobre o problema da poliandria, a mulher sentiu-se repugnada e vencida pela vulgaridade e abuso sexual, de cuja atitude surgiria o regime monogâmico, que ora é aceito por quase todos os povos da Terra.

Conclusão - A família, todavia, para lograr a finalidade a que se destina, deve começar desde os primeiros arroubos da busca afetiva, em que as realizações morais devem sublevar às sensações sexuais de breve durabilidade.

Quando os jovens se resolvem consorciar, impelidos pelas imposições carnais, a futura família já padece ameaça grave, porquanto, em nenhuma estrutura se fundamenta para resistir aos naturais embates que a união a dois acarreta, no plano do ajustamento emocional e social, complicando-se, naturalmente, quando do surgimento da prole.

Fala-se sobre a necessidade dos exames pré-nupciais, sem dúvida necessários, mas com lamentável descaso pela preparação psicológica dos futuros nubentes em relação aos encargos e às responsabilidades esponsalícias e familiares.

A Doutrina Espírita, atualizando a lição evangélica, descortina na família esclarecida espiritualmente a Humanidade ditosa do futuro promissor. Sustentá-la nos ensinamentos do Cristo e nas Lições da reta conduta, apesar da loucura generalizada que irrompe em toda pane, é o mínimo dever de que ninguém se pode eximir.

ESTUDO E MEDITAÇÃO:

"Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?

"É um progresso na marcha da Humanidade."

(O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 695.)

"(...)Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue (...)."

(O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo 14º, item 8.)


Do livro “SOS Família”.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco.
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ANOTAÇÕES DE FAMÍLIA
Feito de ouro ou sucata,
O lar de angústias e esperas
É o campo onde se resgata
As dívidas de outras eras.

Álvaro Martins
Do livro “Família”.
Psicografia de “Francisco Cândido Xavier”.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

EDUCAÇÃO E PAZ NA FAMÍLIA


Tema da semana
Minha família, o mundo e eu”
de 26/11/2012 a 02/12/2012

Joanna de Ângelis

A criança é argila moldável, aguardando as mãos do diligente oleiro que lhe dará forma e conteúdo.

Esse oleiro hábil é o educador, que deve modelar o ser social digno, de forma que possa construir a sociedade harmônica.

A paz do mundo depende da educação da infância.

Quando a criança é capaz de liderar outras, prepara-se para conduzir os grupos humanos mais tarde, nas diferentes áreas da existência, culminando, muitas vezes, no comando de povos e de nações.

Realizará esse ministério, exatamente conforme aprendeu nos dias formosos da construção da sua personalidade, delicadamente trabalhada pela paciência e sabedoria dos seus educadores.

No lar começa o incomparável labor de edificação moral de todos os membros que o constituem, mediante as experiências e comportamentos dos pais, que infundirão exemplos demonstrativos do valor do conhecimento, do caráter, da honra, da convivência doméstica, representando os segmentos sociais da vida em comum com os demais membros da humanidade.

Esse trabalho é relevante e indispensável, nunca devendo ser transferido totalmente para a escola, encarregada, essencialmente, da instrução, na qual se devem incutir os hábitos saudáveis através da conduta dos mestres. São, no entanto, os pais, os mais nobres educadores, tanto para o crescimento ético-moral dos aprendizes quanto para os gravames que os levam aos desequilíbrios de todo porte que tomam conta destes dias de sombra e de perversidade.

Não se discutem as conquistas relevantes da ciência e da tecnologia, nada obstante, não há como ocultar-se a decadência dos valores éticos e morais, a agressividade em alucinação, a violência em hediondez, o desrespeito atingindo índices dantes jamais imaginados...

Os instintos que caracterizam o ser infantil devem ser orientados desde os primeiros momentos após a vida intra-uterina, trabalhando-os e disciplinando-os de forma que não se sobreponham aos sentimentos de amor e de respeito que devem viger na constelação familiar.

É certo que, no corpo infantil encontra-se, normalmente, um espírito com alta carga de vivências, nem sempre dignificantes, merecendo, por isso mesmo, salutar orientação desde muito cedo e de equilíbrio direcionador para as ações saudáveis.

Desde o seu renascimento o espírito reflete na infância as características que lhe são próprias, através do comportamento espontâneo, caprichoso ou não, reflexivo ou automático...

Uma criança de poucos meses já distingue com facilidade os semblantes que a contemplam, identifica os objetos que se lhe fizeram familiares. Com um ano de idade já observou tudo quanto a cerca e começa a desinteressar-se pelo que se lhe encontra ao alcance, anelando pelo diferente, pelo novo. A partir do segundo ano, já necessita de objetos especiais e até mesmo invisíveis a fim de ser atraída para eles, desenvolvendo a capacidade de crescimento e de valorização da vida, embora inconsciente por enquanto.

Curiosamente, a criança é direcionada por uma intensa necessidade de aprender, de relacionar-se com novos objetos, orientada pelos instintos através de impulsos que, observados, ensejam entender-se as suas qualidades morais, aquelas de que o espírito é portador, necessitando de direcionamento gentil quando negativas e de estímulos positivos, se edificantes.

São-lhe insculpidos, nessa oportunidade, os hábitos, a ordem, a arrumação ou os desequilíbrios que irão formar a sua personalidade harmônica ou indisciplinada, tornando-se difícil reparar quaisquer danos posteriormente, porque os hábitos são uma segunda natureza em a natureza de cada qual.

A criança anela pela conquista da palavra, porquanto, a partir dos seis meses já consegue distinguir a voz humana em qualquer ambiente mesmo que barulhento, com sons diversificados, passando a uni-los e começando a enunciá-los...

Ao invés de coibir-se a criança nas suas manifestações no lar, em nome da educação, deve-se estimulá-la a ser autêntica, evitando-se a dissimulação e a hipocrisia, por cujos mecanismos psicológicos agrada aos adultos, ocultando a sua realidade, a sua sensibilidade.

Merece, por isso mesmo, jornadear por um mundo que seja construído para entendê-la de início, a fim de que o possa oferecer melhorado àquelas que virão depois.

A paz é construída no sentimento do ser humano, jamais podendo ser imposta. Por essa razão, a educação deve ter em mente a realização da paz, a pacificação interna dos tormentos, de forma que o indivíduo se transforme em pacificador onde se encontre.

Educar com e pelo amor constitui o método mais eficaz para conseguir-se o equilíbrio na família, reunindo todos os membros numa interdependência afetuosa, ao mesmo tempo sem paixões individualistas ou geradoras de vinculações doentias.

Construir na criança um ser novo, é trabalhar pela paz da sociedade. As guerras não são feitas pelas armas, porém, pelos homens que as constroem. Educar, desarmando dos sentimentos inferiores, competitivos, individualistas, representa promover a paz doméstica, prelúdio da paz na sociedade.

Dessa maneira, os educadores são responsáveis pelas expressões da paz ou das guerras que venham a acontecer. Os políticos, que são cidadãos, negociam os interesses em favor da guerra ou da paz, conforme os seus níveis emocionais, morais e espirituais, no entanto, os educadores trabalharão sempre em favor da paz.

O lar é, portanto, a sublime escola de dignificação humana, onde se aprimoram os sentimentos e se orientam os conhecimentos intelectuais ao lado daqueles de natureza moral, para o real desenvolvimento humano.

Todos os cidadãos, dessa forma, devem unir-se em favor do ideal comum, que é o da educação.

Jamais haverá uma sociedade feliz, se não for cuidado o ministério sublime da educação integral, aquela que acompanha o espírito na sua complexidade e nas suas necessidades evolutivas.

Lamentavelmente, a educação não vem preparando o educando para ser cidadão. Os interesses mesquinhos predominam nas famílias, estabelecendo metas de interesses econômicos, políticos, sociais e outros, em detrimento da construção interna do aprendiz. Por efeito, surgem as grades educativas baseadas no egoísmo, por pessoas malformadas psicopedagogicamente, mais políticas que experientes nos propósitos de formação dos alunos.

Infelizmente, a criança não é devidamente valorizada, tornando-se mais um objeto de exibição dos pais, que lhes não dão a atenção indispensável, o carinho e a assistência no lar, muito preocupados em oferecer coisas inúteis, resguardando-se no egoísmo doentio de não se darem a si mesmos, embora com menos conforto e mais esforço na manutenção da família...

Certamente que há exceções valiosas, constituindo exemplos dignos de serem seguidos.

A ciência da paz que ainda não foi elaborada, embora a da guerra esteja muito bem planejada, sempre recebendo implementos novos e recursos dispendiosos, necessita de ser iniciada na intimidade do lar através da educação das novas gerações.

Jesus exemplificou a magnitude da vida infantil e as infinitas possibilidades que lhe estão ao alcance, quando os discípulos molestados pelos pequeninos que se lhe acercavam, ouviram-nO, aturdidos, dizer: Deixai que venham a mim as criancinhas, e não as impeçais, porque delas é o reino dos céus. (Mateus:19:14.)

Psicografia de Divaldo Franco do livro Constelação Familiar

TROVAS DO CASAMENTO
Um lembrete para os homens
Enquanto pobres mortais
Se quem casa sofre muito
Quem não casa sofre mais.
Delfina Benigna
Psicografia Chico Xavier - Livro Família


terça-feira, 27 de novembro de 2012

PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO E REPETIÇÃO DE PADRÕES COMPORTAMENTAIS


Tema da semana
Minha família, o mundo e eu”
de 26/11/2012 a 02/12/2012

Alberto Almeida

Quem ama pai ou mãe mais que a mim, não é digno de mim...”
Jesus. (Mateus, 10:37)

***
Depois de demorada reflexão, após conferência sobre o quanto se repete aquilo que aprendemos com nossos pais, o esposo falou:

- O que me intriga é que repito não só o que admirava no papai, mas também as coisas que eu nele censurava.

E acrescentou, decepcionado consigo próprio:

- Hoje, como um absurdo, me vejo inclinado a fazer com minha esposa as mesmas coisas que meu pai fazia com a mamãe: palavras ásperas, gritos, relações extraconjugais... Até aquilo que odiava nele quando, alcoolizado, partia para tentar agredir a mamãe, o que motivava minha intervenção, interpondo-me entre eles.

E imprimindo tristeza na voz, concluiu:

- É a força do exemplo... Do mau exemplo!

Ao que o expositor, ouvindo-o, aditou, trazendo-o ao presente com vistas ao futuro:

- Você tem filhos?
***
O verdadeiro curso de preparação para a vida de conjugalidade não se faz às vésperas das bodas, – qual acontece em tentativas honestas de grupos especializados – cujos benefícios são tão somente de nível informativo.

Contudo, no âmbito formativo, estrutural, jamais se improvisa a edificação de almas para conduzirem o barco conjugal no mar da vida, como, de modo idêntico, não se formam, numa oficina de fim de semana, comandantes para pilotar um navio.

Aprendemos a ser esposos e esposas na convivência diuturna, especialmente com nossos pais, de forma consciente e inconsciente. Basta observarmos as crianças brincando de casinha e perceberemos, nas encenações, quão fielmente nos traduzem, tanto nas palavras como na mímica, a ponto de nos vermos, tal a perfeição com que se reproduzem nossos comportamentos.

É por mecanismo semelhante que se dá a internalização dos pais pelos filhos, desde tenra idade, e que vai se fixando por toda a infância e adolescência.

As crianças modelam o comportamento dos pais – deuses de carne e osso – introjetando-o de tal modo que se tornam “reféns”, pelo menos relativamente, das figuras parentais, vida afora.

Mais tarde, repetem os conteúdos positivos e negativos, frutos da assimilação pela educação. Há sempre uma tendência em reproduzir a relação conjugal da família de origem nos nossos relacionamentos. É por este motivo que tendemos a nos acasalar com pessoas que lembram nossos pais, notadamente aquele com o qual nossa identificação foi maior.
***
Se as figuras parentais foram exemplares nos papéis de cônjuges, a repercussão nos filhos será muito positiva, favorecendo a reedição de comportamentos adequados e virtuosos.

Os filhos reproduzem com maior ou menor fidelidade e competência a forma apropriada como os pais se tratavam, cuidavam-se, assistiam-se, revelando o que viram quando eram crianças. Como atores, reeditam exatamente o texto que aprenderam, seguindo o roteiro da peça amorosa escrita encenada por seus pais.

Todavia, se os filhos presenciaram vivências destrutivas e atitudes infelizes dos seus pais, na posição de consortes, será inevitável que tragam, inconscientemente, scripts com tendência para repetir, nas relações afetivas de namoro ou de acasalamento, as cenas que assistiram. Reproduzem, assim, comportamentos muito similares àqueles que seus pais tiveram entre si, ou então assumem atitudes outras, radicalmente diferentes, mas raramente equilibradas, em oposição inconsciente ao que experimentam no lar.

Escolhemos pessoas que nos suscitam reproduzir o tipo de transação emocional que frequentemente vimos em nossa família de origem. Talvez como uma tentativa de “limpar” os conteúdos conflituosos que carregamos de nossa história de vida e que não conseguimos elaborar ou resolver.

É por isso que vemos as cenas familiares se reescreverem, em reprise indesejada, trazendo os mesmo conteúdos, com variações a depender de cada Espírito encarnado:

- filho que presenciou atritos decorrentes de abusos alcoólicos em casa, mais tarde namora pessoas com um pé no alcoolismo, ou então passa a beber tanto quanto o pai que ele criticava;

- filha que acompanhou o ciúme descabido da mãe, manifestado por meio de agressão ao pai, hoje se vê insegura afetivamente em seu namoro, buscando, pela agressão, a forma de encaminhar, em vão, seus conflitos;

- filho que assistiu o pai a usar palavrões e empurrões contra a mãe quando contrariado, agora se vale do mesmo expediente violento para lidar com a namorada ou a esposa, quando contestado;

- filha que viveu a submissão servil da mãe ante a dor das traições do pai, se percebe mantendo atitude passiva diante de um relacionamento com um homem poligâmico que lhe usurpa a dignidade, ou então, estabelece para si a negação do casamento, afirmando que “em homem não se confia”;

- filho que vivenciou a dor da mãe, traída pelo pai, passa a seduzir e a “usar” as mulheres em vingança inconsciente, ou vive o sentimento paranoico, perseguindo a esposa em seus mínimos movimentos.

E assim, em infinitos tons desafinados, o eco conjugal dos pais alcança os filhos até em sua idade adulta, exigindo destes apurada atenção para identificá-los e tratá-los, a fim de que tais ruídos não infelicitem a sinfonia da nova  conjugalidade.
***
No entanto, os filhos não são afetados apenas pelo comportamento dos pais como cônjuges, mas também pelas relações pais/filhos. Ou seja, todas as pendências, vazios, abandonos, castrações, agressões e outros conflitos que resultaram da convivência entre pais e filhos pequenos reaparecem nos filhos adultos nas interações amorosas em geral, e, especialmente, nas de natureza conjugal.

Precisando atualizar as suas relações com seus pais, os filhos transferem essas necessidades na direção de outras pessoas, dentre elas as que ocupam o lugar de namoradas ou esposas, por exemplo.

Não é por outra razão que buscam pessoas muito parecidas com pai e/ou a mãe, na ânsia inconsciente de equacionar problemas não resolvidos em sua história de vida.

Justifica-se, desse modo, o faro com que identificam, mediante micromensagens, pessoas com as quais passam a se relacionar, sem se darem conta de que são escolhas inconscientes, automáticas, estabelecidas por comandos psicológicos estruturados ao longo de sua história de vida, implicadas com seus genitores.
***
A vida sempre devolve aos Espíritos aquilo que ficou em suspenso, precisando ser solucionado, aprendido.

Faz- se imprescindível, e com urgência, usar a autoanálise pela reflexão, meditando continuamente para identificar essas encrencas. Trazê-las à luz do consciente, a fim de dissolvê-las, integrando novos e inadiáveis aprendizados para nossa evolução intelecto moral.

Este não é um trabalho simples e de rápida execução. Ao contrário, requer o esforço continuado de um garimpeiro para identificar as pedras preciosas da boa convivência, separando-as do cascalho das negatividades arroladas ao longo dos anos de convivência com pais e outras pessoas que foram significativas na formação de nossa personalidade.

Perceber as pedras preciosas é tomar consciência das virtudes como um legado, e que agora são incorporadas com reverência e gratidão.

Refazer mazelas destrutivas herdadas dos nossos pais não é renegá-los ou desconsiderá-los. Antes, é honrá-los, transformando as dores em dons, com o aprendizado que se poderá haurir das experiências, agora transformadas em lições.

Dedicação, tato, paciência são recursos indispensáveis nessa tarefa da própria reeducação continuada.

Os filhos adultos enxergarão, nos parceiros atuais, espelhos que refletirão com transparência as suas relações ancestrais, facultando estabelecer, ao mesmo tempo, uma nova compreensão da sua história familiar e a reconciliação com seus pais e com outras figuras psicologicamente representativas da sua infância, bem como a possibilidade de estarem mais livres e maduros para viabilizar relações amorosas mais fecundas no presente.

O Evangelho sob a óptica do Espiritismo é matéria-prima de excelência para apoiar os futuros cônjuges na elaboração das sombras de ontem, a fim de transmutá-las em luz de hoje, facultando conquistas de competências virtuosas que se revelarão no casamento, na nova família e na vida real.
***
Quantos pais são infelizes com seus filhos porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração...

Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 4 Causas atuais das aflições).

Do livro “A Arte do Reencontro - Casamento”
TROVAS DO CASAMENTO
Não fujas do lar em prova,
Nem lastimes em vão,
Casamento é luz sublime
Na Lei da Reencarnação.
Casimiro Cunha
Psicografia Chico Xavier - Livro Família


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O nosso ajustamento no mundo


Tema da semana
Minha família, o mundo e eu”
de 26/11/2012 a 02/12/2012

No Espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. (IV, 18)


Camilo

A grande família terrena é a humanidade.

Nela obtemos as ensanchas excelentes para que desenvolvamos as nossas humanas potencialidades com vistas à redenção que nos foi por Deus destinada.

Muito embora as cenas patéticas que acompanhamos no dia a dia do mundo; nada obstante as enfermidades sem remédio e os remédios que não chegam a tantos doentes desprovidos de apoio socioeconômico, é na Terra o ninho onde estamos operando significativa etapa da nossa evolução.

Mesmo quando nos exasperamos com inúmeros quadros de abandono e de injustiça em toda parte; ainda que ao testemunharmos o incremento da violência urbana constatemos que ela aninha, em verdade, no imo das desarvoradas criaturas humanas, concluímos que é sobre o dorso planetário que nos cabe encontrar a maturidade moral de que sentimos falta, de modo que elaboremos os dias de fraternidade e de paz que sonhamos.

Assistindo aos lastimáveis espetáculos patrocinados pela dantesca ignorância, que invade os cenários mais respeitáveis do mundo; dando-nos conta da acintosa imposição do aventureirismo nos arraiais mais significativos da vida social, temos a certeza de que é no chão do mundo que temos de plantar as sementes da nossa generosidade e da nossa melhor inteligência, para que se alterem as frontes do conhecimento e da responsabilidade, sob as quais todos acharão proteção e alento, e ajuntarão forças para manterem no rumo da plenitude.

Qualquer que seja a situação que vivenciemos, que assistimos ou de que tenhamos notícias no mundo, tanto as situações felizes quanto as desventuradas, será imprescindível entender que estamos no educandário e no reformatório de que todos temos necessidade, até que logremos corrigir as tortuosidades do nosso caráter e incrementar as nossas ações positivas.

Em comparação com o mundo

A nossa família biológica é a humanidade em miniatura. É uma micro-humanidade.

Nela, na convivência entre algumas poucas pessoas ou no bojo de algumas dezenas de criaturas, temos ocasião de travar contatos de conviver com mais variados tipos humanos, desde os mais ignóbeis aos mais nobres caracteres.

Como no mundo, temos em casa gente desonesta até não mais poder; temos almas trabalhadoras, operosas, de grandioso espírito de serviço. Entretanto, há também os que se mostram como representantes encarnados da preguiça e da má vontade no círculo familiar.

Como no mundo, identificamos em nosso clã gente alegre e jovial, capaz de levar conforto e encantamento onde cheguem; sem embargo, também temos os que são portadores de duras carrancas, que dão a impressão de que estão de mal com o mundo, perenemente. Gente que não sorri e que é capaz de ver treva e lodo em tudo e em todos.

Como no mundo, encontramos parentes que são modelos das virtudes acrisoladas e que têm sempre palavras de apoio, de harmonia e de incentivo ao bem. Por outro lado, temos consanguíneos que são a encarnação do vício, condenadores contumazes que jamais incentivam quem quer que seja, que nunca encontram uma única ocasião de dizer qualquer palavra de ternura ou de atenção para alguém, no seu circuito parental.

Como no mundo, existem em nosso quadro familiar os que conseguiram – a custo de inauditas disciplinas – harmonizar suas expressões afetivas e que, por isso, dão digno encaminhamento as suas energias genésicas.

Há outros familiares, no entanto, que são verazes pilhas de sexo que carregam libidinosidade nos olhos, nos gestos, nos usos, nas brincadeiras e nas palavras, tendo em vista possuírem poluída a própria mente, conseguindo rebaixar tão importante manifestação da Divindade na Sua criação.

Como no mundo, vivemos com parentes que se mostram amigos, prestativos, presentes, e que fazem por onde manter benfazeja proximidade, sem nenhuma intervenção infeliz na vida dos demais.

Mas temos de conviver também com outros que jamais comparecem para oferecer qualquer suporte, ou cooperação, seja quando for, e que se mostram exploradores e oportunistas, pois quando aparecem no cenário dos familiares, quando dão sinal de vida, o que desejam, em realidade, é pedir, retirar, gozar, beneficiar-se dos familiares, assumindo a postura de verdadeiros sanguessugas, tão insensíveis quanto insensatos.

Razões para que estejas onde estás

Há necessidade, contudo, de que te prepares para viver no mundo, no seio da tua família, contatando-a de algum modo, a fim de retirares proveito dessa relação. O Criador não te alocou por mero acaso nessa ou naquela vinculação genética. Existem imponderáveis razões para que estejas convivendo com quem convives.

Entenderás que é no seio familiar onde o Criador te situa para que aprendas a conviver com os teus irmãos da macroscópica humanidade.

Como o Cristo deixou claro que aquele que não consegue ser fiel nas coisas mínimas, também não o será nas coisas máximas (.Lc.,16:10.), cabe a ti aperfeiçoar teus pensamentos e raciocínios na tua micro-humanidade doméstica, para que consigas, no tempo, atuar com proveito na ampla humanidade.

Importante é que consigas identificar, na tua relação com os teus consanguíneos, o que é que Deus espera de ti, o que deves realizar nesse contexto para que se torne exitosa a tua presente existência terrestre.

Bom será que não cultives animosidades, mágoas, desejos de vindita ou planos de extorsão relativamente a tua família, pois na convivência no macromundo terás de experimentar a lei de retorno, e verás quanto é difícil e dolorido o tempo da devolução, os dias do acerto de contas.

Melhor ainda será que não te enredes em atos desonrosos ou criminosos, sob o manto da convivência familiar, uma vez que nada passará despercebido da tua consciência nem da dos teus parceiros desafortunados. Saibas que o tempo da expiação reunir-los-á para a indispensável reeducação.

Por mais complexo seja o teu clã, por maiores sejam as limitações que apresentam – físicas, culturais, sociais ou morais -, que busques entender que Deus não te localizaria nala se não houvesse um grande programa renovador ou reeducativo para ti e para os teus.

Se desdenhares a ensancha ou se te julgares superior e por isso te tornares brutal, esnobe ou cruel, saibas que resgatarás o teu absurdo no campo da grande humanidade, que é a tua família ampliada.

Justificativas para o presente texto

Diante dos planos de entidades infelizes, sombrias, que de longa data se empenham em desmontar onde e como puderem, a constituição dos lares, a formação da família, e perante os continuados pedidos de orientação, de amparo e de sustentação que nos chegam de inumeráveis corações no planeta, é que nos animamos a entretecer algumas considerações que possam auxiliá-los nos esforços para a compreensão dos laços familiares e para o melhor relacionamento possível do grupo doméstico.

Não há nessas páginas nenhum projeto original, tampouco a palavra final sobre o rico e sempre oportuno tema, como é o da família. Pautamo-nos na observância dos conflitos e dos dramas que repontam na complexa quão divina instituição larária, núcleo onde o Pai Celeste reúne vítimas e algozes, credores e devedores, amigos e inimigos, anjos tutelares e enfermos espirituais, para que rutile claridade e saúde nos campos onde haveria doença e escuridão.

Esperamos, assim, que estas despretensiosas reflexões consigam desvelar alguns ângulos antes vedados a muitos olhares e entendimentos, facultando uma tomada de maior consciência quanto ao valor e sentido da família.

O que nos felicita, particularmente, no presente livro é prestar a nossa homenagem ao Amigo Incomparável, que é Jesus Cristo, esse Anjo Tutelar da Família Terrestre, que nos abriu as portas dessa morada sideral, a fim de que nos reuníssemos, todos nós, os que estão no corpo carnal ou fora dele, para treinarmos a fidelidade no grupo pequeno do lar, até que logremos os elementos morais e intelectuais suficientes para vivermos com qualidade no seio da abençoada humanidade terrestre.

Fase, assim, a tua parte e segue harmonizado para o Grande Futuro, onde te aguarda e os teus amores o Pai Criador.

Psicografia de Raul Teixeira do livro “minha família, o mundo e eu”

FAMÍLIA
Família é sempre um conjunto
De almas ternas e queridas
No entanto, às vezes, carrega
Inimigo de outras vidas.
Cornélio Pires
Psicografia ChicoXavier - Livro Toques da Vida


sábado, 24 de novembro de 2012

O ANJO DA SAÚDE

Tema da semana
Os sãos não têm necessidade de médico”
de 19/10/2012 a 25/11/2012


Irmão X

Angustiado, o Homem enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas copiosas:

Senhor, ampara-me o coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os recursos para a resistência... Não posso mais! Minhas noites são prolongadas vigílias, repletas de dor, e meus dias constituem longas horas de aflição permanente! A dor lacera-me as carnes e desarticula-me os ossos... Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de tua divina luz que me restaure a força física, e me reerga o coração humilhado! Desiludido de todos os processos de cura, mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a inesgotável misericórdia! ajuda-me, Pastor do Bem!

Vê os meus sofrimentos e auxilia-me!...

De joelhos e braços abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.

Ouviu Jesus a oração e enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo, surgindo aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.

Em êxtase, o doente fitou o mensageiro e suplicou :

Emissário do Médico Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido! Há muitos anos sou um miserável sofredor, embora a minha confiança no Pai de Infinita Bondade! De corpo chagado e apodrecido, sinto que a esperança e a crença desertaram de minhalma! socorre-me, por piedade, caridoso emissário do Céu!

O gênio tutelar afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:

Meu amigo, põe a consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de acordo com a Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração? Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo, acima de todas as coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo? Dedicaste teu corpo e tuas faculdades à execução das divinas leis ?

Presa do antigo hábito de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a desculpar-se; entretanto, a presença do emissário sublime empolgava-lhe o ser e não conseguia furtar-se ao império absoluto da consciência. Dominado pela realidade, respondeu em soluços :

Não!... ainda não servi às leis do Senhor como deveria... Contudo, Anjo Bom, compadece-te de mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento devora-me!

O enviado pousou a destra na fronte do mísero, como se intentasse arrancar-lhe a verdade do fundo do coração, e interrogou:

Estarás, porém, disposto a esquecer, de imediato, o pretérito criminoso? Desculparás, fraternalmente, sem qualquer sombra de hesitação, a todos aqueles que te desejam o mal? auxiliarás o inimigo?

O enfermo dirigiu ao preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada respondesse, o mensageiro continuou interrogando:

Perdoarás sempre, esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus adversários à bênção do Todo Poderoso, reconhecendo que eles são mais infelizes que tu mesmo, pela ignorância com que testemunham?

Exercerás a piedade, beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca que calunia?

Compelido pelas forças insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a verdade:

Infelizmente, ainda não posso...

Não emitirás Pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? – indagou o emissário, afável e benevolente – partilharás a alegria do vizinho e a prosperidade do amigo, como se te pertencessem também? Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que lhe coroa a existência?

O mendigo da saúde recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais venturosos, e respondeu, sincero:

Não posso ainda...

Terás bastante disposição – prosseguiu afetuosamente o interlocutor – para manter viva a própria esperança? compreendendo a paciência de Deus, que nos aguarda a iluminação, há milênios incontáveis, decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus irmãos de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forcas que te foram confiadas?

O desventurado suspirou e disse com tristeza:

Ainda não me é possível proceder assim...

Após intervalo mais longo, o Anjo voltou a interrogar:

Cultivaras o silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras loucas em torno de teu corarão? Defenderás a saúde, evitando as reações invisíveis de pessoas que poderias ofender com as falsas e delituosas apreciações verbais?

Ainda não sigo semelhante caminho! – exclamou o infortunado,

Poderás viver – continuava o mensageiro – no legítimo respeito à Natureza, conservando o teu vaso carnal de manifestações na sublime posição de equilíbrio, através da temperança, e cumprindo com fidelidade o programa de serviço, em beneficio de ti mesmo e dos semelhantes? Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente despreocupado das atitudes alheias de gratidão ou recompensa?

Ainda não! – murmurou o interpelado em tom angustioso.

O emissário envolveu o infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:

Oh! meu amigo, ainda é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! se ainda não sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de acordo com a Vontade do Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade, por muito tempo. Por enquanto, não peças vantagens que não saberias receber!

Roga ao Senhor te conceda a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e às exigências da reflexão!

Em seguida, o emissário endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto, buscando retê-la, exclamou em soluços:

Oh! enviado do Céu, confiarei em Jesus!

O Anjo contemplou-o, bondoso, e respondeu ternamente:

Sim, eu sei. Isto, porém, não basta.

É necessário que Jesus também possa confiar em ti...

E afastou-se, para dar conta de sua missão, nas esferas mais altas

Livro “Lázaro Redivivo”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
RUMO CERTO
Queres alívio, sossego,
No coração sofredor...
A providência primeira:
Mais serviço, mais amor.
Casemiro Cunha
Pássaros Humanos - Francisco Cândido Xavier