Tema da semana
“Provas voluntárias.
O verdadeiro cilício”
de 29/10/2012 a
04/11/2012
Neio
Lúcio
Raquel,
antiga servidora da residência de Cusa, ergueu a voz para indagar do
Mestre por que motivo a dor se convertia em aflição nos caminhos do
mundo.
Não
era o homem criação de Deus? Não dispõe a criatura do abençoado
concurso dos anjos? Não vela o Céu sobre os destinos da Humanidade?
Jesus fitou na interlocutora o olhar firme e considerou: — A razão
da dor humana procede da proteção divina.
Os
povos são famílias de Deus que, à maneira de grandes rebanhos, são
chamados ao Aprisco do Alto.
A
Terra é o caminho.
A
luta que ensina e edifica é a marcha.
O
sofrimento é sempre o aguilhão que desperta as ovelhas distraídas
à margem da senda verdadeira.
Alguns
instantes se escoaram mudos e o Mestre voltou a ponderar: — O
excesso de poder favorece o abuso, a demasia de conforto, não raro,
traz o relaxamento, e o pão que se amontoa, de sobra, costuma servir
de pasto aos vermes que se alegram no mofo...
Reparando,
porém, que a assembleia de amigos lhe reclamava explicação mais
ampla, elucidou fraternalmente:
— Um
anjo, por ordem do Eterno Pai, tomou à própria conta um homem
comum, desde o nascimento.
Ensinou-lhe
a alimentar-se, a mover os membros e os músculos, a sorrir, a
repousar e a asilar-se nos braços maternos.
Sem
afastar-se do protegido, dia e noite, deu-lhe as primeiras lições
da palavra e, em seguida, orientou-lhe os impulsos novos,
favorecendo-lhe o ensejo de aprender a raciocinar, a ler, a escrever
e a contar.
Afastava-o,
hora a hora, de influências perniciosas ou mortíferas de Espíritos
infelizes que o arrebatariam, por certo para o sorvedouro da morte.
Soprando-lhe
ao pensamento ideias iluminadas aos clarões do Infinito Bem, através
de mil modos de socorro imperceptível, garantiu-lhe a saúde e o
equilíbrio do corpo.
Dava-lhe
medicamentos invisíveis, por intermédio do ar e da água, da
vestimenta e das plantas.
Vezes
sem conta, salvou-o do erro, do crime e dos males sem remédio que
atormentam os pecadores.
Ao
amanhecer, o Pajem Celestial acorria, atento, preparando-lhe dia
calmo e proveitoso, defendendo-lhe a respiração, a alimentação e
o pensamento, vigiando-lhe os passos, com amor, para melhor
preservar-lhe os dons; ao anoitecer, postava-se-lhe à cabeceira,
amparando- lhe o corpo contra o ataque de gênios infernais,
aguardando-o, com maternal cuidado, para as doces instruções
espirituais nos momentos de sono.
No
transcurso da vida, guiou-lhe os ideais, auxiliou-o a selecionar as
emoções e a situar-se em trabalho digno e respeitável; clareou-
lhe o cérebro jovem, insuflou-lhe entusiasmo santo, rumo à vida
superior, e estimulou-o a formar um reino de santificação e
serviço, progresso e aperfeiçoamento, num lar...
O
homem, todavia, que nunca se lembrara de agradecer as bênçãos que
o cercavam, fez-se orgulhoso e cruel, diante dos interesses alheios.
Ele,
que retinha tamanhas graças do Céu, jamais se animou a estendê-las
na Terra e passou simplesmente a humilhar os outros com a glória de
que fora revestido por seu devotado e invisível benfeitor.
Quando
experimentou o primeiro desgosto, que ele mesmo provocou
menosprezando a lei do amor universal, que determina a fraternidade e
o respeito aos semelhantes, gesticulou, revoltado, contra o Céu,
acusando o Supremo Senhor de injusto e indiferente.
Aflito,
o anjo guardião procurava levantar-lhe o ideal de bondade, quando um
Anjo Maior se aproximou dele e ordenou que o primeiro dissabor do
tutelado endurecido por excesso de regalias se convertesse em
aflição.
Rolando,
mentalmente, de aflição em aflição, o homem começou a recolher
os valores da paciência, da humildade, do amor e da paz com todos,
fazendo-se, então, precioso colaborador do Pai, na Criação.
Finda
a historieta, esperou Jesus que Raquel expusesse alguma dúvida, mas
emudecendo a servidora, dominada pela meditação que os ensinamentos
da noite lhe sugeriam, o culto da Boa Nova foi encerrado com ardente
oração de júbilo indefinível.
Do
livro “Jesus no lar”.
Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
---
Dor
É
a dor que através dos anos,
Dos
algozes, dos tiranos,
Anjos
puríssimos faz,
Transmutando
os Neros rudes
Em
arautos de virtudes,
Em
mensageiros de paz.
Castro
Alves
Do
livro “Parnaso de Além Túmulo”.
Psicografia
de “Francisco Cândido Xavier”.
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