terça-feira, 27 de novembro de 2012

PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO E REPETIÇÃO DE PADRÕES COMPORTAMENTAIS


Tema da semana
Minha família, o mundo e eu”
de 26/11/2012 a 02/12/2012

Alberto Almeida

Quem ama pai ou mãe mais que a mim, não é digno de mim...”
Jesus. (Mateus, 10:37)

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Depois de demorada reflexão, após conferência sobre o quanto se repete aquilo que aprendemos com nossos pais, o esposo falou:

- O que me intriga é que repito não só o que admirava no papai, mas também as coisas que eu nele censurava.

E acrescentou, decepcionado consigo próprio:

- Hoje, como um absurdo, me vejo inclinado a fazer com minha esposa as mesmas coisas que meu pai fazia com a mamãe: palavras ásperas, gritos, relações extraconjugais... Até aquilo que odiava nele quando, alcoolizado, partia para tentar agredir a mamãe, o que motivava minha intervenção, interpondo-me entre eles.

E imprimindo tristeza na voz, concluiu:

- É a força do exemplo... Do mau exemplo!

Ao que o expositor, ouvindo-o, aditou, trazendo-o ao presente com vistas ao futuro:

- Você tem filhos?
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O verdadeiro curso de preparação para a vida de conjugalidade não se faz às vésperas das bodas, – qual acontece em tentativas honestas de grupos especializados – cujos benefícios são tão somente de nível informativo.

Contudo, no âmbito formativo, estrutural, jamais se improvisa a edificação de almas para conduzirem o barco conjugal no mar da vida, como, de modo idêntico, não se formam, numa oficina de fim de semana, comandantes para pilotar um navio.

Aprendemos a ser esposos e esposas na convivência diuturna, especialmente com nossos pais, de forma consciente e inconsciente. Basta observarmos as crianças brincando de casinha e perceberemos, nas encenações, quão fielmente nos traduzem, tanto nas palavras como na mímica, a ponto de nos vermos, tal a perfeição com que se reproduzem nossos comportamentos.

É por mecanismo semelhante que se dá a internalização dos pais pelos filhos, desde tenra idade, e que vai se fixando por toda a infância e adolescência.

As crianças modelam o comportamento dos pais – deuses de carne e osso – introjetando-o de tal modo que se tornam “reféns”, pelo menos relativamente, das figuras parentais, vida afora.

Mais tarde, repetem os conteúdos positivos e negativos, frutos da assimilação pela educação. Há sempre uma tendência em reproduzir a relação conjugal da família de origem nos nossos relacionamentos. É por este motivo que tendemos a nos acasalar com pessoas que lembram nossos pais, notadamente aquele com o qual nossa identificação foi maior.
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Se as figuras parentais foram exemplares nos papéis de cônjuges, a repercussão nos filhos será muito positiva, favorecendo a reedição de comportamentos adequados e virtuosos.

Os filhos reproduzem com maior ou menor fidelidade e competência a forma apropriada como os pais se tratavam, cuidavam-se, assistiam-se, revelando o que viram quando eram crianças. Como atores, reeditam exatamente o texto que aprenderam, seguindo o roteiro da peça amorosa escrita encenada por seus pais.

Todavia, se os filhos presenciaram vivências destrutivas e atitudes infelizes dos seus pais, na posição de consortes, será inevitável que tragam, inconscientemente, scripts com tendência para repetir, nas relações afetivas de namoro ou de acasalamento, as cenas que assistiram. Reproduzem, assim, comportamentos muito similares àqueles que seus pais tiveram entre si, ou então assumem atitudes outras, radicalmente diferentes, mas raramente equilibradas, em oposição inconsciente ao que experimentam no lar.

Escolhemos pessoas que nos suscitam reproduzir o tipo de transação emocional que frequentemente vimos em nossa família de origem. Talvez como uma tentativa de “limpar” os conteúdos conflituosos que carregamos de nossa história de vida e que não conseguimos elaborar ou resolver.

É por isso que vemos as cenas familiares se reescreverem, em reprise indesejada, trazendo os mesmo conteúdos, com variações a depender de cada Espírito encarnado:

- filho que presenciou atritos decorrentes de abusos alcoólicos em casa, mais tarde namora pessoas com um pé no alcoolismo, ou então passa a beber tanto quanto o pai que ele criticava;

- filha que acompanhou o ciúme descabido da mãe, manifestado por meio de agressão ao pai, hoje se vê insegura afetivamente em seu namoro, buscando, pela agressão, a forma de encaminhar, em vão, seus conflitos;

- filho que assistiu o pai a usar palavrões e empurrões contra a mãe quando contrariado, agora se vale do mesmo expediente violento para lidar com a namorada ou a esposa, quando contestado;

- filha que viveu a submissão servil da mãe ante a dor das traições do pai, se percebe mantendo atitude passiva diante de um relacionamento com um homem poligâmico que lhe usurpa a dignidade, ou então, estabelece para si a negação do casamento, afirmando que “em homem não se confia”;

- filho que vivenciou a dor da mãe, traída pelo pai, passa a seduzir e a “usar” as mulheres em vingança inconsciente, ou vive o sentimento paranoico, perseguindo a esposa em seus mínimos movimentos.

E assim, em infinitos tons desafinados, o eco conjugal dos pais alcança os filhos até em sua idade adulta, exigindo destes apurada atenção para identificá-los e tratá-los, a fim de que tais ruídos não infelicitem a sinfonia da nova  conjugalidade.
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No entanto, os filhos não são afetados apenas pelo comportamento dos pais como cônjuges, mas também pelas relações pais/filhos. Ou seja, todas as pendências, vazios, abandonos, castrações, agressões e outros conflitos que resultaram da convivência entre pais e filhos pequenos reaparecem nos filhos adultos nas interações amorosas em geral, e, especialmente, nas de natureza conjugal.

Precisando atualizar as suas relações com seus pais, os filhos transferem essas necessidades na direção de outras pessoas, dentre elas as que ocupam o lugar de namoradas ou esposas, por exemplo.

Não é por outra razão que buscam pessoas muito parecidas com pai e/ou a mãe, na ânsia inconsciente de equacionar problemas não resolvidos em sua história de vida.

Justifica-se, desse modo, o faro com que identificam, mediante micromensagens, pessoas com as quais passam a se relacionar, sem se darem conta de que são escolhas inconscientes, automáticas, estabelecidas por comandos psicológicos estruturados ao longo de sua história de vida, implicadas com seus genitores.
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A vida sempre devolve aos Espíritos aquilo que ficou em suspenso, precisando ser solucionado, aprendido.

Faz- se imprescindível, e com urgência, usar a autoanálise pela reflexão, meditando continuamente para identificar essas encrencas. Trazê-las à luz do consciente, a fim de dissolvê-las, integrando novos e inadiáveis aprendizados para nossa evolução intelecto moral.

Este não é um trabalho simples e de rápida execução. Ao contrário, requer o esforço continuado de um garimpeiro para identificar as pedras preciosas da boa convivência, separando-as do cascalho das negatividades arroladas ao longo dos anos de convivência com pais e outras pessoas que foram significativas na formação de nossa personalidade.

Perceber as pedras preciosas é tomar consciência das virtudes como um legado, e que agora são incorporadas com reverência e gratidão.

Refazer mazelas destrutivas herdadas dos nossos pais não é renegá-los ou desconsiderá-los. Antes, é honrá-los, transformando as dores em dons, com o aprendizado que se poderá haurir das experiências, agora transformadas em lições.

Dedicação, tato, paciência são recursos indispensáveis nessa tarefa da própria reeducação continuada.

Os filhos adultos enxergarão, nos parceiros atuais, espelhos que refletirão com transparência as suas relações ancestrais, facultando estabelecer, ao mesmo tempo, uma nova compreensão da sua história familiar e a reconciliação com seus pais e com outras figuras psicologicamente representativas da sua infância, bem como a possibilidade de estarem mais livres e maduros para viabilizar relações amorosas mais fecundas no presente.

O Evangelho sob a óptica do Espiritismo é matéria-prima de excelência para apoiar os futuros cônjuges na elaboração das sombras de ontem, a fim de transmutá-las em luz de hoje, facultando conquistas de competências virtuosas que se revelarão no casamento, na nova família e na vida real.
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Quantos pais são infelizes com seus filhos porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração...

Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 4 Causas atuais das aflições).

Do livro “A Arte do Reencontro - Casamento”
TROVAS DO CASAMENTO
Não fujas do lar em prova,
Nem lastimes em vão,
Casamento é luz sublime
Na Lei da Reencarnação.
Casimiro Cunha
Psicografia Chico Xavier - Livro Família


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