Tema
da semana
Fidelidade
De
29/12/2014 a 04/01/2015
Irmão X
- Humberto de Campos
Depois das primeiras prédicas de
Jesus, respeito aos trabalhos ingentes que a edificação de Deus existia dos
seus discípulos, esboçou-se na fraterna comunidade um leve movimento e
incompreensão. Que? pois a Boa-Nova reclamaria tamanhos sacrifícios? Então o
Senhor, que sondava o íntimo de seus companheiros diletos, os reuniu, uma
noite, quando a turba os deixara a sós e já algumas horas haviam passado sobre
o pôr do sol.
Interrogando-os vivamente, provocou a
manifestação dos seus pensamentos e dúvidas mais íntimas. Após escutar-lhes as
confidências simples e sinceras, o Mestre ponderou:
– Na causa de Deus, a fidelidade deve
ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejem
estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não
podemos duvidar da fidelidade do Nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos
cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já ele nos
amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria
repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no
afastamento, favorecendo a negação?
Como os discípulos o escutassem
atentos, bebendo-lhe os ensinos, o Mestre acrescentou :
– Tudo na vida tem o preço que lhe
corresponde. Se vacilais receosos ante as bênçãos o sacrifício e as alegrias do
trabalho, meditai nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não
costuma cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quanto pagarão, em
flagelações íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o prego que o mundo reclama
ao gozador e ao mentiroso?
Ao clarão alvacento da Lua, como pai
bondoso rodeado de seus filhinhos, Jesus "reconheceu que os discípulos,
diante das suas cariciosas perguntas, haviam transformado a atitude mental,
como que iluminadas por súbito clarão.
Tìmidamente, Tiago, filho de Alceu,
contou a história de um amigo que arruinara a saúde, por excessos nos prazeres
condenáveis.
Tadeu falou de um conhecido que,
depois de ganhar grande fortuna, se havia tornado avarento e mesquinho a ponto
de priva-los do necessário, para multiplicar o número de suas moedas, acabando
assassinado pelos ladrões.
Pedro recordou o caso de um pescador de sua intimidade, que sucumbira tragicamente, por efeito de sua desmedida ambição.
Jesus, depois de ouvi-los, satisfeito,
perguntou :
– Não achais enorme o tributo que o
mundo exige dos que se apegam aos seus gozos e riquezas? Se o mundo pede tanto,
porque não poderia Deus pedir-nos lealdade ao coração? Trabalhamos agora pela
instituição divina do seu reino na Terra; mas, desde quando estará o Pai
trabalhando por nós? As interrogativas pairavam no espaço sem resposta dos
discípulos, porque, acima de tudo, eles ouviam a que lhes dava o próprio
coração. Do firmamento infinito os reflexos do luar se projetavam no lençol
tranquilo do lago, dando a impressão de encantador caminho para o horizonte,
aberto sobre as águas, por entre deslumbramentos de luz.
Enquanto os companheiros meditavam no
que dissera Jesus, Tiago se lhe dirigiu, nestes termos:
– Mestre, tenho um amigo, de Corazin
que vos ouviu a palavra santificante e desejava seguir-vos ; porém,
asseverou-me que o reino pregado pela vossa bondade está cheio de numerosos
obstáculos, acrescentando que Deus deve mostrar-se a nós outros somente na
Vitória e na ventura. Devo confessar que hesitei ante as suas observações, mas,
agora, esclarecido pelos vossos ensinamentos, melhor vos compreendo e
afirmo-vos que nunca esquecerei minha fidelidade ao reino!...
A voz do apóstolo, na sua confissão
espontânea, se revelava tocada de entusiasmo doce e amigo e o Senhor,
aproveitando a hora para a semeadura divina, exclamou bondoso:
– Tiago, nem todos podem compreender a
verdade de uma só vez. Devemos considerar que o mundo está cheio de crentes que
não entendem a proteção às céu, senão nos dias de tranquilidade e de triunfo.
Nós, porém, que conhecemos a vontade suprema, temos que lhe seguir o roteiro.
Não devemos pensar no Deus que concede, mas no Pai que educa; não no Deus que
recompensa, sim no Pai que aperfeiçoa. Daí se segue que a nossa batalha pela
redenção tem de ser perseverante e sem tréguas...
Nesse ínterim, todos os companheiros
de apostolado, manifestando o interesse que os esclarecimentos da noite lhes
causavam, se puseram a perguntar, com respeito e carinho.
– Mestre – exclamou um deles – não
seria melhor fugirmos do mundo para, viver na incessante contemplação do
reino?...
– Que diríamos do filho que se
conservasse em perpétuo repouso, junto de seu pai que trabalha sem cessar, no
labor da grande família? Respondeu Jesus.
– Mas, de que modo se há de viver como homem e como apóstolo do reino de Deus na face deste mundo”. – inquiriu Tadeu.
– Em verdade – esclareceu o Messias –
ninguém pode servir, simultaneamente, a dois senhores. Fora absurdo viver ao
mesmo tempo para os prazeres condenáveis da Terra e para as virtudes sublimes
do céu. O discípulo da Boa-Nova tem de servir a Deus, servindo à sua obra neste
mundo. Ele sabe que se acha a laborar com muito esforço num grande campo,
propriedade de seu Pai, que o observa com carinho e atenta com amor nos seus
trabalhos. Imaginemos que esse campo estivesse cheio de inimigos : por toda
parte, vermes asquerosos, víboras peçonhentas, tratos de terra improdutiva. É
certo que as farsas destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do
filho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com
perseverança e boa vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á
os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do reino que traz no coração,
plantará uma flor onde haja um espinho, abrirá uma senda, embora estreita, onde
estejam em confusão os parasitos da Terra, cavará pacientemente, buscando as
entranhas do solo para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Do
íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o
ama e segue com atenção.
– Qual a primeira qualidade a cultivar
no coração – perguntou um dos filhos de Zebedeu – para que nos sintamos
plenamente identificados com a grandeza espiritual da tarefa?
– Acima de todas as coisas – respondeu
o Mestre – é preciso ser fiel a Deus.
A pequena assembléia parecia altamente
enlevada e satisfeita; mas, André inquiriu:
– Mestre, estes últimos dias, tenho-me
sentido doente e receio não poder trabalhar como os demais companheiros. Como
poderei ser fiel a Deus, estando enfermo?
– Ouvi. – Replicou o Senhor com certa
ênfase.
– Nos dias de calma, é fácil provar-se
fidelidade e confiança. Não se prova, porém, dedicação, verdadeiramente, senão
nas horas tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer. O enfermo tem
consigo diversas possibilidades de trabalhar para Nosso Pai, com mais altas
probabilidades de êxito no serviço'. Tateando ou rastejando, busquemos servir
ao Pai que está nos céus, porque nas suas mãos divinas vive o Universo
inteiro!..
“André, se algum dia teus olhos se
fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os ouvidos;
se ficares mudo, toma, assim mesmo, a charrua, valendo-te das tuas mãos. Ainda
que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés, poderias
servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo dessa
fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!”
O grupo dos apóstolos calara-se,
impressionado, ante aquelas recomendações. O luar esplendia sobre as águas
silenciosas. O mais leve ruído não traía o silêncio augusto da hora.
André chorava de emoção, enquanto os
outros observavam a figura do Cristo, iluminada pelos clarões da Lua, deixando
entrever um amoroso sorriso. Então, todos, impulsionados por soberana força
interior, disseram, quase a um só tempo:
– Senhor, seremos fiéis!...
***
Jesus continuou a sorrir, como quem
sabia a intensidade da luta a ser travada e conhecia a fragilidade das
promessas humanas. Entretanto, do coração dos apóstolos jamais se apagou a
lembrança daquela noite luminosa de Cafarnaum, aureolada pelo sentimento
divino. Humilhados e perseguidos, crucificados na dor e esfolados vivos,
souberam ser fiéis, através de todas as vicissitudes da Natureza, e,
transformando suas angústias e seus trabalhos num cântico de glorificação, sob
a eterna inspiração do Mestre renovaram a face do mundo.
Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Fidelidade
é compreensão do dever.
Emmanuel
Do livro “Dicionário da Alma”
Psicografia de Francisco Cândido
Xavier