Tema da semana
“Limites da encarnação”
De 27/01/2014 a 02/02/2014
Joanna de Ângelis
Destituída de finalidade seria a vida que se diluísse na tumba, como efeito do fenômeno da morte. Diante de todas as transformações que se operam nos
campos da realidade objetiva, como das alterações que se processam
na área da energia, seria utópico pensar-se que a
fatalidade do existir é o
aniquilamento. Embora as disjunções moleculares e as modificações na forma, tudo se apresenta em contínuo vir-a-ser, num intérmino desintegrar-se
— reintegrando-se —, que oferece, à Vida, um sentido de eternidade, além e antes do tempo, conforme as limitadas dimensões que lhe conferimos.
Nesse sentido, especificamente,
o complexo humano apresenta-se através
de faixas de movimentação instável, qual ocorre com o corpo; em mecanismos de sutilização, o perispírito; e de aprimoramento, quando se trata do Espírito,
este último, aliás, inquestionavelmente imortal.
A aquisição
da consciência
é o
resultado de um processo incessante, através do qual o psiquismo se agiganta desde o sono, na força aglutinadora das moléculas, no mineral; à sensibilidade, no vegetal;
ao instinto, no animal; e à inteligência,
à razão, no homem. Nesta jornada automática,
funcionam as
inapeláveis Leis da Evolução, em a Natureza, defluentes da Criação.
Chegando ao patamar humano, esse psiquismo,
de início rudimentarmente pensante, atravessa inúmeras experiências pessoais, que
o tornam herdeiro de si mesmo, em um encadeamento de aprendizagens
pelo
mergulho no corpo e abandono
dele, toda vez que se rompam os liames que retêm a individualidade.
Este processo de renascimentos, que os gregos denominavam de
palingenésico, constitui um avançado sistema de crescimento intelecto-moral,
fomentador da felicidade.
Graças a ele, a existência humana se reveste de dignidade e de relevantes
objetivos que não podem ser interrompidos.
Toda vez que surge um
impedimento, que se opera um transtorno ou sucede uma aparente cessação,
a oportunidade ressurge e o recomeço se estabelece, facultando ao aprendiz o crescimento que parecia terminado.
Face a este mecanismo, os fenômenos psicológicos apresentam-se em
encadeamentos naturais, e elucidam-se inumeráveis patologias psíquicas e físicas, distúrbios de comportamento,
diferenças emocionais, intelectuais e variados acontecimentos, nas áreas sociológica, econômica, antropológica, ética, etc.
O processamento da aquisição intelectual faz-se ao largo das experiências de aprendizagem, mediante as quais o Eu consciente adiciona conteúdos culturais, ao mesmo tempo que desenvolve as aptidões jacentes, para as
diversas categorias da técnica, da
arte, da
ética,
num incessante aprimoramento de valores.
A anterioridade
do
Espírito ao corpo, brinda-lhe maior soma de
conhecimentos do
que os
apresentados pelos
principiantes
no desiderato físico.
A genialidade de que uns indivíduos são portadores, em detrimento dos limites que se fazem presentes em outros seres do mesmo gene, demonstra
que os psiquismos aí expressos diferem em capacidade e lucidez.
Embora herdeiro dos caracteres da raça — aparência, morfologia, cabelos, olhos, etc. —, os valores psicológicos, intelecto-morais não são transmissíveis pelos genes e cromossomos, antes, são atributos da individualidade eterna,
que transfere de uma para outra existência corporal o somatório
das
suas conquistas salutares ou perturbadoras.
Não há como negar-se a influência
genética na evolução do ser, os
impositivos do meio, dos costumes e dos hábitos, entretanto, impende observar
que o corpo reproduz o corpo, não a mente, a consciência, que só o Espírito
exterioriza.
A introdução do conceito reencarnacionista na Psicologia dá-lhe dimensão
invulgar, esclarecimento das dificuldades
na argumentação em torno do Inconsciente, dos arquétipos, individual e coletivo, estudando o homem em toda a sua complexidade profunda e, mediante a identificação do seu passado, facultando-lhe o descobrimento e utilização das suas possibilidades, do seu
vir-
a-ser.
Nos alicerces do Inconsciente profundo encontram-se os extratos das
memórias pretéritas, ditando comportamentos atuais, que somente uma análise
regressiva consegue detectar, eliminando os conteúdos perturbadores,
que respondem por várias alienações mentais.
No capítulo dos impulsos e compulsões psicológicas, o passado espiritual
exerce uma predominância irrefreável, que leva aos grandes rasgos do
devotamento e da abnegação, quanto à delinqüência, à agressividade, à multiplicidade
de personificações parasitárias, mesmo excluindo-se a hipótese das obsessões.
Na imensa panorâmica dos distúrbios mentais, especialmente nas
esquizofrenias, destacam-se as interferências constritoras dos desencarnados que se estribam nas leis da cobrança pessoal, certamente injustificáveis, para desforçar-se dos sofrimentos que lhes foram anteriormente infligidos, em outras existências, pelas vítimas atuais.
Diante das ocorrências do déjà-vu, os remanescentes reencarnacionistas estabelecem parâmetros sutis
de
lembranças que retornam à consciência atual
como lampejos e clichês de evocações, ressumando
dos
conteúdos da inconsciência — ou da memória extracerebral,
do perispírito — oferecendo
possibilidades
de identificação de pessoas,
acontecimentos,
lugares e narrativas já vividos, já conhecidos, antes experimentados... Desfilam, então, os fenômenos psicológicos das simpatias
e das antipatias, dos amores alucinantes e dos ódios devoradores, que ressurgem dos arquivos da memória
anterior ante o estímulo externo de qualquer natureza, que os desencadeiam,
tais: um encontro ou reencontro; uma associação de idéias — a atual revelando a passada — uma dissensão ou um diálogo; qualquer
elemento que constitua ponte de ligação entre o hoje e o ontem.
Excetuando-se
os conflitos que têm sua psicogênese na vida atual, a
expressiva maioria deles procede das jornadas infelizes do ser eterno, herdeiro de si mesmo, que transfere as fobias, insatisfações, consciência de culpa,
complexos, dramas pessoais, de uma para outra reencarnação através de
automatismos psicológicos, responsáveis pelo
equilíbrio
das Leis que governam a Vida.
Diante de tais acontecimentos, considerando-se os fenômenos místicos, as ocorrências paranormais. os êxtases naturais e os provocados, aos quais a Psicologia organicista
dava gêneses patológicas, nasceu, mais ou menos recentemente, a denominada quarta força em Psicologia — sucedendo (ou
completando) o Behaviorismo,
a Psicanálise e a Psicologia Humanista —, que é a Escola Transpessoal.
Entretanto, já no começo do século, Burcke, desejando enquadrar em uma só denominação estes e outros eventos psicológicos, cunhou o conceito de consciência cósmico, a fim de os situar em um só capítulo, tornando-se,
de
alguma forma, pioneiro, na área da Psicologia
Transpessoal, que abrange, entre outras, as percepções extra-sensoriais, além da área da consciência.
Nesta conceituação, a morte é fenômeno biológico a transferir o ser de uma para outra realidade, sem consumpção da vida.
O ser humano, diante da visão nova e transpessoal, deixa de ser a massa, apenas celular, para tornar-se um complexo com predominância do princípio
eterno. A decisiva contribuição dos seus pioneiros, entre os quais, Maslow, Assagioli — com a sua Psicossíntese —, Sutich, Wilber, Grof e outros, oferece excelentes recursos para a psicoterapia, liberando a maioria dos pacientes dos
seus
conflitos e problemas que desestruturam a personalidade.
Neste admirável amálgama da integração dos mais importantes Insights das Doutrinas psicológicas
do
Ocidente com as Tradições Esotéricas do
Oriente, agiganta-se o Espiritismo, pioneiro de uma Psicologia Espiritualista
dedicada ao conhecimento do homem integral, na sua valiosa complexidade —
Espírito, perispírito e matéria — ampliando os
horizontes da vida orgânica, a se desdobrarem além do túmulo e antes do corpo, com infinitas possibilidades de progresso, no rumo da perfeição.
Psicografia
de Divaldo Franco do livro O Homem Integral
O princípio mesmo
da reencarnação, que inicialmente havia encontrado muitos contraditores, porque
não era compreendido, é hoje aceito pela força da evidência e porque todo homem
que pensa nele reconhece a única solução possível do maior número de problemas
da filosofia moral e religiosa. Sem a reencarnação somos detidos a cada passo,
tudo é caos e confusão; com a reencarnação tudo se esclarece, tudo se explica
da maneira mais racional. [...]
Referência:KARDEC, Allan. Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita. Org.
por Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2005. - cap. 9