quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O barro desobediente

Tema da semana
Provas voluntárias. O verdadeiro cilício”
De 20/01/2014 a 26/01/2014

Neio Lúcio

Houve um oleiro que chegou ao pátio de serviço e reparou com alegria em pequeno bloco de barro. Contemplou-o, enlevado, em face da cor viva com que se apresentava e falou:

Vamos! Farei de ti delicado pote de laboratório. O analista alegrar-se-á com teu concurso valioso.

Imensamente surpreendido, porém, notou que o barro retrucava:

Oh! não, não quero! Eu, num laboratório, tolerando precipitações químicas? por favor, não me toques para semelhante fim!

O oleiro, espantado, considerou:

Desejo dar-te forma por amor, não por ódio. Sofrerás o calor de forno para que te faças belo e útil... Entretanto, porque te recusas ao que proponho, transformar-te-ei numa caprichosa ânfora destinada a depósito de perfumes.

Oh! nunca! nunca!... - exclamou o barro – isto não! Estaria exposto ao prazer dos inconscientes. Não estou inclinado a suportar essências, através de peregrinações pelos móveis de luxo.

O dono do serviço meditou muito na desobediência da lama orgulhosa, mas, entendendo que tudo devia fazer por não trair a confiança do Céu, ponderou:

Bem, converter-te-ei, então, num prato honrado e robusto. Comparecerás à mesa de meu lar. Ficarás conosco e serás companheiro de meus filhinhos. – Jamais! – bradou o barro, na indisciplina – isto seria pesada humilhação... Transportar arroz cozido e aguentar caldos gordurosos na face? assistir, inerme, às cenas de glutonaria em tua casa? não, não me submetas!...

O trabalhador dedicado perdoou-lhe a ofensa e acrescentou:

Modificaremos o programa ainda uma vez. Serás um vaso amigo, em que a límpida água repouse. Ajudarás aos sedentos que se aproximarem de ti. Muita gente abençoar-te-á a cooperação. Despertarás o contentamento e a gratidão nas criaturas!... – Não, não! – protestou a argila – não quero! Seria condenar-me a tempo indefinido nas cantoneiras poeirentas ou nas salas escuras de pessoas desclassificadas. Por favor, poupa-me! Poupa-me!...

O oleiro cuidadoso considerou, preocupado:

Que será de ti quando te conduzirem ao forno? Não passarás de matéria endurecida e informe, sem qualquer utilidade ou beleza. Sem sacrifício e sem disciplina, ninguém se eleva aos planos da vida superior.

O barro, todavia, recusou a advertência, bradando:

Não aceito sacrifício, nem disciplina...

Antes que pudesse prosseguir, passou o enfornador arrebanhando a argila pronta, e o barro desobediente foi também conduzido ao forno em brasa.

Decorrido algum tempo, a lama vaidosa foi retirada e – ó surpresa! – não era pote de laboratório, nem ânfora de perfume, nem prato de refeição, nem vaso para água e, sim, feio pedaço de terra requeimada e morta, sem qualquer significação, sendo imediatamente atirada ao pântano.

Assim acontece a muitas criaturas no mundo. Revoltam-se contra a vontade soberana do Senhor que as convida ao trabalho de aperfeiçoamento, mas, depois de levadas pela experiência ao forno da morte, se transformam em verdadeiros fantasmas de desilusão e sofrimento, necessitando de longo tempo para retornarem às bênçãos da vida mais nobre.


Do livro “Alvorada cristã”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
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ILUMINEMOS O CORAÇÃO
Guardemos o coração na luz do bem,
para que nossa alma diariamente, para banhar-se 
nas vivas águas da grande compreensão
(...)
Emmanuel
Do livro “Viajor”. 
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.


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