Tema da semana
“Parábola do
semeador”
de 16/07/2012 a
22/07/2012
Irmão X
Certo
homem, enredado no vício da embriaguez, era frequentemente visitado
por generoso amigo espiritual que lhe amparava a existência.
-
Arrepende-te e recorre à Bondade Divina! – rogava o
benfeitor quando o alcoólatra se desprendia parcialmente do campo
físico, nas asas do sono. – Vale-te do tempo e não adies a
própria renovação! Um corpo terrestre é ferramenta
preciosa com que a alma deve servir na oficina do progresso. Não
menosprezes as próprias forças!...
O
infeliz acordava, impressionado. Rememorava as palavras ouvidas,
tentava mentalizar a formosura do enviado sublime e, intimamente,
formulava o propósito de regenerar-se.
Todavia,
sobrevindo a noite, sucumbia de novo à tentação.
Embebedando-se,
arrojava-se a longo período de inconsciência, tornando ao
relaxamento e à preguiça.
Borracho,
empenhava-se tão-somente em afogar as melhores oportunidades da vida
em copinho sobre copinho.
Entretanto,
logo surgia alguma faixa de consciência naquela cabeça conturbada,
o mensageiro requisitava-o, solícito, recomendando:
-
Atende! Não fujas à responsabilidade. A passagem pela Terra
é valioso recurso para a ascensão de espírito... O tempo é um
crédito de que daremos conta! Apela para a compaixão do
senhor! Modifica-te! Modifica-te!...
O
mísero despertava na carne, lembrava a confortadora entrevista e
dispunha-se ao reajustamento preciso: no entanto, depois de algumas
horas, engodado pelos próprios desejos, caía novamente na zona
escura.
Ébrio,
demorava-se meses e meses na volúpia do auto-esquecimento.
Contudo,
sempre aparecia um instante de lucidez em que o companheiro vigilante
interferia.
Novo
socorro do Céu, novas promessas de transformação e nova queda
espetacular.
Anos
e anos foram desfiados no milagroso novelo do tempo, quando o
infortunado, de corpo gasto, se reconheceu enfermo e abatido.
A
moléstia instalara-se, desapiedada, na fortaleza orgânica,
inclinando-lhe os passo para o desfiladeiro da morte.
Incapaz
de soerguer-se, o doente orou, modificado.
Queria
viver no mundo e, para isso, faria tudo por recuperar-se.
Em
breves segundos de afastamento do estragado veículo, encontrou o
divino mensageiro e, ajoelhando-se, comunicou:
-
Anjo abnegado, transformei-me! sou outro homem... Estou
arrependido! Reconheço meus erros e tudo farei para
redimir-me... Recorro à piedade de nosso Pai Todo-Compassivo, de vez
que pretendo alcançar o futuro na feição do servidor desperto para
as elevadas obrigações que a vida nos conferiu...
O
protetor abraçou-o, comovidamente, e, enxugando-lhe as lágrimas,
rejubilou-se, exclamando:
-
Bem-aventurado sejas! Doravante, estarás liberto da
perniciosa influência que até agora te obscureceu a visão.
Abençoado porvir sorrirá ao teu destino. Rendamos graças a Deus!
O
doente retomou o corpo, de coração aliviado, com a luz da esperança
a clarear-lhe a alma.
Mas
os padecimentos orgânicos recrudesciam.
A
assistência médica, aliada aos melhores recursos de enfermagem,
revelava insuficiência para subtrair-lhe o mal-estar.
Findos
vários dias de angustiosa dor, entregou-se à prece com sentida
compunção e, amparado pelo benfeitor invisível, achou-se fora da
carne, em ligeiro momento de alívio.
-
Anjo amigo – implorou -, acaso o Todo-Bondoso não se compadece de
mim? estou renovado!... alterei meus rumos! Porque
tamanhas provas?
O
guardião afagou-o, benevolente, e esclareceu:
-
Acalma-te! O sincero reconhecimento de nossas faltas é força
de limitação do mal em nós e fora de nós, qual medida que
circunscreve o raio de um incêndio, para extinguí-lo pouco a pouco,
mas não opera reviravoltas na Lei. O amor infinito de Deus nos
descerra fulgurantes caminhos à própria elevação; todavia, a
justiça d’Ele determina venhamos a receber, invariavelmente,
segundo as nossas obras. Vale-te do perdão divino que, por resposta
do Senhor às tuas rogativas, é agora em tua alma anseio de reajuste
e com renovador, mas não olvides o dever de destruir os espinhos que
ajuntaste. O arrependimento não cura as afecções do fígado, assim
como o remorso edificante do homicida não remedeia a chaga aberta
pelo golpe da lâmina insensata!... Aproveita a enfermidade
que te purifica o sentimento e usa a tolerância do Céu como novo
compromisso de trabalho em favor de ti mesmo!...
O
doente desejou continuar ouvindo a palavra balsamizante do amigo
celeste... A carne enfermiça, porém, exigiu-lhe a volta.
Contudo,
recompondo-se mentalmente no corpo fatigado, embora gemesse sob a
flagelação regeneradora, chorava e ria, feliz.
Do
livro “Estante da vida”.
Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
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