Tema da semana
“A beneficência”
de 02/07/2012 a
08/07/2012
Neio Lúcio
A
conversação em casa de Pedro versava, nessa noite, sobre a prática
do bem, com a viva colaboração verbal de todos.
Como
expressar a compaixão, sem dinheiro? Por que meios incentivar a
beneficência, sem recursos monetários? Com essas interrogativas,
grandes nomes da fortuna material eram invocados e a maioria
inclinava-se a admitir que somente os poderosos da Terra se
encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre
interferiu, opinando, bondoso: — Um sincero devoto da Lei foi
exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência;
entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum,
retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos
semelhantes.
Em
verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e
gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em
sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a
impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e
famintos à margem de sua estrada.
Rodeado
de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor.
Reconheceu,
todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública,
podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de
sua marcha pela Terra.
Assim
é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os
pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contacto com
pessoas interessadas na maledicência, retraía- se, cortês, e, em
respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela
pequena virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava
pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de
tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no
espírito à maneira de calhaus em barril de mel, porquanto, além de
não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade
habitual; a calúnia não encontrava acesso em sua alma, de vez que
toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio;
reparando ameaças sobre a tranqüilidade de alguém, tentava
desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que
assumissem feição tempestuosa; se alguma sentença condenatória
bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as
possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível;
seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente
minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública,
para que não oferecessem perigo aos transeuntes.
Adotando
essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de
atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece.
Jamais
pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar uma pele de carneiro
aos irmãos necessitados.
Nessa
posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor
humilde compareceu receoso e desalentado.
Temia
o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi
aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a
razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime
recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o
mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.
Fixou
o Mestre nos aprendizes o olhar percuciente e calmo e concluiu, em
tom amigo: — Distribuamos o pão e a cobertura, acendamos luz para
a ignorância e intensifiquemos a fraternidade aniquilando a
discórdia, mas não nos esqueçamos do combate metódico e sereno
contra o mal, em esforço diário, convictos de que, nessa batalha
santificante, conquistaremos a divina coroa da caridade desconhecida.
Do livro "Jesus
no Lar".
Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.
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