Tema da semana: “Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra”
de 20/02/2012 a 26/02/2012
Allan Kardec
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
“Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra”
7.
Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. - Eu, porém, vos
digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se
alguém quiser pleitear
contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o
manto; - e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois
mil. - Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar
emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)
8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra" produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho
e da exaltação da personalidade, que
leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra (grifo nosso), o que é tido como justiça
por aquele cujo senso moral
não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei moisaica
prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia.
Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se
alguém vos bater numa face,
apresentai-lhe a outra.”
Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não
compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode
ultrapassar o presente.
Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco
quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas consequências, importaria ele em condenar
toda repressão, mesmo
legal, e deixar
livre o campo aos maus,
isentando-os de todo e qualquer
motivo de temor.
Se se lhes não pusesse um
freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio
instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas
condenar a vingança. Dizendo
que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que
não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve
aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que
maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que
de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador,
arruinado do que arruinar
os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação
de orgulho(grifo nosso). Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode
dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante
o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra
(grifo nosso).
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