Tema
da semana
“Ressurreição
e Reencarnação"
de
28/05/2012 a 03/06/2012
Léon
Denis
A
alma, depois de residir temporariamente no espaço, renasce na
condição humana, trazendo consigo a herança, boa ou má, do seu
passado; renasce criancinha, reaparece na cena terrestre para
representar um novo ato do drama da sua vida, resgatar as dívidas
que contraiu e conquistar novas capacidades que lhe hão de facilitar
a ascensão, acelerar a marcha para a frente.
A
lei dos renascimentos explica e completa o princípio da
imortalidade. A evolução do ser indica um plano e um fim. Esse fim,
que é a perfeição, não pode realizar-se em uma única existência,
por mais longa que seja. Devemos ver na pluralidade das vidas da alma
a condição necessária de sua educação e de seus progressos. É à
custa dos próprios esforços, de suas lutas, de seus sofrimentos,
que ela se redime de seu estado de ignorância e de inferioridade e
se eleva, de degrau a degrau, primeiramente na Terra e, em seguida,
através das inumeráveis estâncias do céu estrelado.
A
reencarnação, afirmada pelas vozes de além-túmulo, é a única
forma racional pela qual se pode admitir a reparação das faltas
cometidas e a evolução gradual dos seres. Sem ela não se vê
sanção moral satisfatória e completa, não há possibilidade de
conceber a existência de um Ser que governe o universo com justiça.
Se
admitirmos que o homem viva atualmente pela primeira e última vez
neste mundo, que uma única existência terrestre é o quinhão de
cada um de nós, a incoerência e a parcialidade, forçoso seria
reconhecê-lo, presidem à repartição dos bens e dos males, das
aptidões e das faculdades, das qualidades nativas e dos vícios
originais.
Por
que para uns a fortuna, a felicidade constante e para outros a
miséria, a desgraça inevitável? Para estes a força, a saúde, a
beleza; para aqueles a fraqueza, a doença, a fealdade? Por que aqui
a inteligência, o gênio, e acolá a imbecilidade? Como se encontram
tantas qualidades morais admiráveis, a par de tantos vícios e
defeitos? Por que há raças tão diversas, umas inferiores a tal
ponto que parecem confinar com a animalidade e outras favorecidas com
todos os dons que lhes asseguram a supremacia? E as enfermidades
inatas, a cegueira, a idiotia, as deformidades, todos os infortúnios
que enchem os hospitais, os albergues noturnos, as casas de correção?
A hereditariedade não explica tudo; na maior parte dos casos, essas
aflições não podem ser consideradas como o resultado de causas
atuais. Sucede o mesmo com os favores da sorte. Muitíssimas vezes,
os justos parecem esmagados pelo peso da prova, ao passo que os
egoístas e os maus prosperam!
Por
que, ainda, crianças mortas antes de nascer e as que são condenadas
a sofrer desde o berço? Certas existências acabam em poucos anos,
em poucos dias; outras duram quase um século! Donde vêm também os
jovens-prodígios – músicos, pintores, poetas –, todos aqueles
que, desde a meninice, mostram disposições extraordinárias para as
artes ou para as ciências, ao passo que tantos outros ficam na
mediocridade toda a vida, apesar de um labor insano? E, igualmente,
donde vêm os instintos precoces, os sentimentos inatos de dignidade
ou baixeza contrastando às vezes tão estranhamente com o meio em
que se manifestam?
Se
a vida começa somente com o nascimento terrestre, se antes dele nada
existe para cada um de nós, debalde se procurarão explicar essas
diversidades pungentes, essas tremendas anomalias, e ainda menos
poderemos conciliá-las com a existência de um poder sábio,
previdente, eqüitativo. Todas as religiões, todos os sistemas
filosóficos contemporâneos vieram esbarrar com esse problema;
nenhum o pôde resolver. Considerado sob seu ponto de vista, que é a
unidade de existência para cada ser humano, o destino continua
incompreensível, ensombra-se o plano do universo, a evolução pára,
torna-se inexplicável o sofrimento. O homem, levado a crer na ação
de forças cegas e fatais, na ausência de toda justiça
distributiva, resvala insensivelmente para o ateísmo e o pessimismo.
Com
a doutrina das vidas sucessivas, pelo contrário, tudo se explica, se
torna claro. A lei de justiça revela-se nas menores particularidades
da existência. As desigualdades que nos chocam resultam das
diferentes situações ocupadas pelas almas nos seus graus infinitos
de evolução. O destino do ser não é mais do que o
desenvolvimento, através das idades, da longa série de causas e
efeitos gerados por seus atos. Nada se perde; os efeitos do bem e do
mal se acumulam e germinam em nós até o momento favorável de
desabrocharem. Às vezes, expandem-se com rapidez; outras, depois de
longo lapso de tempo, transmitem-se, repercutem, de uma para outra
existência, segundo a sua maturação é ativada ou retardada pelas
influências ambientes; mas nenhum desses efeitos pode desaparecer
por si mesmo; só a reparação tem esse poder.
Cada
um leva para a outra vida e traz, ao nascer, a semente do passado.
Essa semente há de espalhar seus frutos, conforme a sua natureza, ou
para nossa felicidade ou para nossa desgraça, na nova vida que
começa e até sobre as seguintes, se uma só existência não bastar
para desfazer as conseqüências más de nossas vidas passadas. Ao
mesmo tempo, os nossos atos cotidianos, fontes de novos efeitos, vêm
juntar-se às causas antigas, atenuando-as ou agravando-as e formam
com elas um encadeamento de bens ou de males que, no seu conjunto,
urdirão a teia do nosso destino.
Assim,
a sanção moral, tão insuficiente, às vezes tão sem valor, quando
é estudada sob o ponto de vista de uma vida única, reconhece-se
absoluta e perfeita na sucessão de nossas existências. Há uma
íntima correlação entre os nossos atos e o nosso destino. Sofremos
em nós mesmos, em nosso ser interior e nos acontecimentos da nossa
vida, a repercussão do nosso proceder. A nossa atividade, sob todas
as suas formas, cria elementos bons ou maus, efeitos próximos ou
remotos, que recaem sobre nós em chuvas, em tempestades ou em
alegres claridades. O homem constrói o seu próprio futuro. Até
agora, na sua incerteza, na sua ignorância, ele o construiu às
apalpadelas e sofreu a sua sorte sem poder explicá-la. Não tardará
o momento em que, mais bem instruído, penetrado pela majestade das
leis superiores, compreenderá a beleza da vida, que reside no
esforço corajoso, e dará à sua obra um impulso mais nobre e
elevado.
Fragmento
extraído do livro “O problema do Ser, do Destino e da Dor”.
Segunda
parte “O problema do Destino” - Cap. XIII.
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