Tema da semana
“Candeia sob o alqueire. Porque Jesus falava por parábolas”
de 07/05/2012 a 13/05/2012
Allan Kardec
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Candeia sob o alqueire. Porque fala
Jesus por parábolas
1. Ninguém
acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire; põe-na, ao
contrário, sobre o candeeiro, a fim de que ilumine a todos os que estão na casa. (S.
MATEUS, cap. V, v.15.)
2. Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim
de que os que entrem
vejam a luz; - pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido
e de aparecer publicamente. (S. LUCAS, cap. VIII, vv. 16 e
17.)
3. Aproximando-se, disseram-lhe os discípulos:
Por que lhes falas por parábolas?
-
Respondendo-lhes, disse ele: É porque, a vós outros, foi dado conhecer os mistérios
do reino dos céus; mas, a
eles, isso não lhes foi dado (1). Porque, àquele
que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem
se lhe tirará. - Falo-lhes por parábolas, porque,
vendo, não veem e,
ouvindo, não escutam e não compreendem. -
E neles se cumprirá a profecia de Isaías,
que diz: Ouvireis
com os vossos ouvidos
e não escutareis;
olhareis com os vossos olhos e não vereis. Porque, o coração deste povo se
tornou pesado, e seus ouvidos
se tornaram surdos
e fecharam os olhos
para que seus olhos não vejam e seus ouvidos
não ouçam, para que seu coração
não compreenda e para que, tendo-se convertido, eu não os
cure. (S. MATEUS, cap. XIII, vv. 10 a 15.)
4. É de causar admiração diga Jesus que a luz não deve ser colocada debaixo do alqueire, quando ele próprio
constantemente oculta o sentido de suas palavras sob o véu da alegoria,
que nem todos podem compreender. Ele se explica, dizendo a seus apóstolos: "Falo-lhes por
parábolas, porque não estão em condições de compreender certas coisas. Eles veem, olham, ouvem, mas não entendem.
Fora, pois, inútil tudo dizer-lhes, por enquanto. Digo-o,
porém, a vós, porque dado vos foi compreender estes mistérios." Procedia,
portanto, com o povo, como se faz com crianças cujas ideias ainda se não desenvolveram. Desse modo, indica o
verdadeiro sentido da sentença: "Não se deve pôr a candeia
debaixo do alqueire, mas sobre
o candeeiro, a fim de que todos os que entrem a possam ver."
Tal sentença não significa que
se deva
revelar inconsideradamente todas
as coisas. Todo ensinamento
deve ser proporcionado à inteligência daquele a quem se queira instruir,
porquanto há pessoas a quem uma luz por demais viva deslumbraria,
sem as esclarecer.
Dá-se com
os homens, em geral, o que se dá em particular com os indivíduos. As gerações têm sua infância, sua juventude e
sua maturidade. Cada coisa tem de vir na época própria; a semente lançada à terra,
fora da estação, não germina. Mas, o que a prudência manda calar, momentaneamente, cedo ou tarde será descoberto, porque, chegados a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram
por si mesmos a luz viva; pesa-lhes a obscuridade.
Tendo-lhes Deus outorgado a inteligência para compreenderem e se guiarem por entre as
coisas da Terra e do céu, eles tratam de raciocinar
sobre sua fé. E então que não se deve pôr a candeia debaixo do alqueire, visto que, sem
a luz da razão, desfalece a fé. (Cap.
XIX, nº 7.)
5.
Se, pois, em sua previdente sabedoria, a Providência só gradualmente revela as verdades, é claro que as desvenda à proporção
que a Humanidade se vai mostrando
amadurecida para as receber. Ela as mantém de reserva e não sob o alqueire. Os homens,
porém, que entram a possuí-las, quase sempre as ocultam do vulgo com o intento de o
dominarem. São esses os que, verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. É por isso que todas as religiões têm tido seus mistérios, cujo exame proíbem. Mas, ao passo que essas
religiões iam ficando para trás, a
Ciência e a inteligência avançaram e
romperam o véu misterioso. Havendo-se
tornado adulto, o vulgo entendeu de
penetrar o fundo das coisas e
eliminou de sua fé o que era contrário à observação.
Não podem existir mistérios absolutos
e Jesus está com a razão quando diz que nada
há secreto que não venha a ser conhecido. Tudo
o que se acha oculto será descoberto
um dia e o que o
homem ainda não pode compreender lhe será
sucessivamente
desvendado,
em
mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra, ele ainda se encontra em pleno nevoeiro.
6. Pergunta-se: que proveito podia o povo tirar dessa multidão de parábolas, cujo sentido
se lhe conservava impenetrável? E de notar-se que Jesus somente se exprimiu por
parábolas sobre as partes de certo modo abstratas da sua doutrina. Mas, tendo
feito da caridade para com o
próximo e da humildade condições básicas da salvação, tudo o que disse a esse
respeito é inteiramente claro, explícito
e sem ambiguidade alguma. Assim devia ser, porque era a regra
de conduta, regra que todos tinham de compreender para poderem observá-la. Era o essencial
para a multidão ignorante,
à qual ele se limitava a dizer: "Eis o que é preciso se faça
para ganhar o reino dos céus." Sobre as outras partes, apenas aos discípulos desenvolvia o seu pensamento.
Por serem eles mais adiantados, moral e
intelectualmente, Jesus pôde iniciá-los no conhecimento de
verdades mais abstratas. Daí o haver
dito: Aos que já têm, ainda mais se dará.
(Cap. XVIII, nº 15.)
Entretanto, mesmo
com os apóstolos,
conservou-se impreciso acerca de muitos pontos, cuja completa inteligência ficava reservada a ulteriores tempos.
Foram esses pontos que deram
ensejo a tão
diversas interpretações, até
que a Ciência,
de um lado,
e o Espiritismo, de outro, revelassem as
novas leis da Natureza, que lhes tornaram perceptível o verdadeiro sentido.
7. O
Espiritismo, hoje, projeta luz sobre uma imensidade de pontos obscuros;
não a lança, porém,
inconsideradamente. Com admirável prudência se conduzem os Espíritos, ao darem
suas instruções. Só gradual e sucessivamente consideraram as diversas partes já
conhecidas da Doutrina, deixando as
outras partes para serem reveladas
à medida que se for tornando oportuno fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem
apresentado completa desde o primeiro momento, somente a reduzido número de pessoas se teria ela mostrado acessível;
houvera mesmo assustado as que não se achassem preparadas para recebê-la,
do
que
resultaria ficar prejudicada a sua propagação.
Se, pois, os Espíritos ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque haja na
Doutrina mistérios em que só alguns privilegiados possam penetrar, nem porque eles
coloquem a lâmpada debaixo do
alqueire; é porque cada coisa tem de
vir no momento oportuno. Eles dão a cada ideia tempo para amadurecer e propagar-se, antes que apresentem outra, e
aos acontecimentos o de preparar a aceitação dessa outra.
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