sexta-feira, 4 de maio de 2012

O JOVEM E O AMOR



Mensagem especial da semana 

Amélia Rodrigues


           
            O entardecer lento deixava um debrum em ouro iridescente sobre o cabeço dos morros, no lado oposto, que se refletia sobre as águas tranquilas do lago.
            O ar leve perpassava em sinfonia branda, e, à medida que o velário da noite dominava a natureza, os astros cintilavam ao longe, qual uma cantilena de prata no zimbório infinito...
            As pessoas comovidas dispersavam-se em silêncio, envoltas nas profundas reflexões defluentes da mensagem ouvida.
            De costas para o poente, na barca encravada na areia de pedregulhos e seixos, Ele imprimira nas consciências febricitadas e antes ansiosas o postal de Sua beleza incomparável, em contornos de paz.
            Enquanto falara, o Seu verbo eloquente, cheio de calor e compreensão, caíra sobre cada ouvinte qual esperado unguento colocado com carinho em purulenta ferida aberta em chaga viva...
            Ampliando as balizas do reino de Deus, profligara as alucinações argentárias, as ambições do mando arbitrário, os exageros do prazer arrebatador...
            Aquele povo sofrido que acorria á praia, cada dia, a fim de ouvi-lO, conduzia ansiedades e paixões, anelando encontrar a diretriz e a paz, a renovação e a segurança que lhe faltavam.
            Saturado pelo desespero, sob o impositivo das forças desatreladas da governança odienta e escravocrata que gerava a fome e a revolta, padecia, também, da cegueira espiritual, atirando-se, como desforço, à dor, aos abusos de toda espécie, perseguindo ilusões...
            Ouvindo-O, acalmavam-se as inquietações, e uma aragem de renovação íntima lhe perpassava as paisagens interiores.
            Sem dúvida Ele era o Esperado...
            Renovavam-se, cada tarde, as multidões sedentas de esperança, à medida que Seus ditos e os Seus feitos aumentavam o círculo dos informados, que chegavam mais ávidos, mais necessitados.
*
            Cercado por pequeno grupo de companheiros que Lhe apresentavam questões pessoais, Ele refletia nos olhos profundos a serenidade de quem conduz a paz, daquele que é a paz.
            Acercou-se um jovem, canhestro e constrangido, que não se podendo evadir do magnetismo que dEle se irradiava, sem sopitar a onda de tormentos que o afligia, aproveitou-se de um ensejo que se fez natural, e inquiriu tímido, porém sensibilizado:
            - Acabo de ouvir-vos e a vossa palavra penetra-me como afiado punhal...os conceitos me ardem na mente, como brasa que queima e requeima...Desejei evadir-me, sair daqui e não pude...Eu que já não tinha paz, acabo de perder a alegria ao escutar-vos...
            Fez uma pausa e, logo, prosseguiu:
            -Sou jovem, respeito os mandamentos; no entanto, ambiciono pelo prazer, o gozo, porquanto minhas carnes vibrantes anelam esse repasto até à lassidão... Pertenço a uma família abastada da vizinhança e encontro-me em trânsito... Será possível a felicidade sem o prazer?
            Jesus olhou o jovem com a ternura eu demorava exuberante na urna do Seu coração e refertava todos quantos dEle se aproximavam.
            Visitado por aquele dúlcido olhar, o moço enrubesceu, acabrunhado.
            Como se a Sua Voz se fizesse um quase cicio, respondeu o Amigo:
            - A felicidade que se usufrui gasta-se, e a que se alicerça sobre o prazer se desmorona. Todo prazer imediato é fugidio, porque se estriba na fragilidade dos sentidos físicos e estes sofrem os impositivos das sensações que passam breves. Se procede das aspirações nobres, constitui motivação para a renúncia e a abnegação a benefício da harmonia duradoura. Quando inspirado no jogo devorador das sensações, arde e se apaga, deixando impressões frustrantes, amargas...
            “O prazer do corpo exige o repouso e o prosseguimento, num crescendo sem limites, leva à exaustão, ao desgaste”.
            “A felicidade, porém, se expressa por um estado natural de paz e alegria sem altos nem baixos, distante das explosões do júbilo e das quedas no desespero”.
            - Como, então, não ambicionar o amor, se ele, premiando o amante com o prazer, é a fonte do gozo?
            - Refere-se à posse selvagem que se confunde no gozo abrasador, não ao amor que comunga em espírito. O prazer real decorre da vivência do amor que não entedia, enquanto o prazer da posse do amor exaure e enfastia... Situando a felicidade no amor a Deus e ao próximo, desejo conceituar o gozo não como finalidade em si mesma, mas como o próprio ato de amar... Semelhante ao estuar de um botão de rosa que desabrocha e perfuma simultaneamente, em derredor, o gozo do amor puro perdura no desabrochar do sentimento e na fecundação que fomenta a vida...
            - Sou jovem, Senhor! Ambiciono a felicidade. Que me cabe fazer, se da alegria apenas conheço a sofreguidão dos desejos?
            - A juventude não é apenas uma fase transitória do corpo, mas um estado de espírito. Quando a idade jovem se compromete, o homem envelhece e se perturba num processo de decomposição íntima. Indispensável amar, sem ferir em nome do amor, desejar sem impor, esperar sem aflição e confiar sempre. Se o que consideras como tua felicidade amargura outrem ou tisna a pureza do amor, esse sentimento não é verdadeiro, nem fundamental: decorre da paixão infrene e degradante, que envilece e passa...
            - Eu, porém, amo e sofro...
            - O verdadeiro amor não produz sofrimento, porquanto sabe aguardar, não se precipita nem destrói nunca. É todo feito de edificação do bem pelo bem geral. Se desejas amar a fim de que a felicidade se te faça um estado real, renuncia hoje ao prazer entorpecente, e semeia o bem para amanhã. O amor virá ao teu encalço, enquanto o tempo lenirá a ansiedade do teu coração, apaziguando-te. Não ateies a chama dos desejos nalma com fagulhas da ilusão no corpo...
            O jovem silencioso fixou em Jesus o olhar e, sinceramente comovido, balbuciou, desanimado:
            - Compreendo-vos, Senhor, compreendo-vos... É, todavia, muito difícil...
            E afastou-se meditativo.
            O Mestre acompanhou-o com o olhar amoroso, enquanto o vulto da sua presença se diluía nas sombras da distância.
            Seria essa a reação dos ouvintes por muito tempo, até o dia longínquo em que anelassem pela felicidade real.
            No alto, o céu de turquesa,  com gemas de prata engastadas, era perene pauta virgem em que Ele inscrevia as notas sublimes da excelsa melodia da Sua Boa Nova, para o futuro dos tempos.

Psicografia de Divaldo Franco do Livro Quando Voltar A Primavera
Mensagem fornecida pela FEP

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AO SOM DE: MOMENTO ESPÍRITA - "AMOR"



 

 

 

 

   

 

 

 

 

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