Tema da semana:
“MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO” de 23/01/2012 a 29/01/2012
Allan Kardec
MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO
12. Por
estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus
aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como
prelúdio da cura.
Também
podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por
sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas
passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas
dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida
futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa
dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranquilidade no
porvir.
O homem
que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: “Se me
pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante
e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei,
até que pagues a última parcela.” Não se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do seu credor,
não lhe ficará agradecido?
Tal o
sentido das palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” São
ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão
livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro,
jamais poderá alcançar a sua libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida,
porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e
inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na
vida atual, será noutra. Entre essas faltas,
cumpre se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo,
se murmurarmos nas aflições, se não as
aceitarmos com resignação e como algo
que devemos ter merecido, se acusarmos a
Deus de ser injusto, nova dívida
contraímos, que nos faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. É por
isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos
atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por empréstimo.
Ao entrar no mundo dos
Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do
pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho”; a
outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que
tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos
gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário.
Ide e recomeçai a tarefa.”
13. O
homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por
que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe
afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida
espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto
no infinito, compreende lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá
presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e,
longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece
esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a
vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se
compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem
invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das
decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à
saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a
ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as
angústias da sua curta existência.(grifo nosso).
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