Allan Kardec
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
A lei de amor
O amor resume
a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência,
e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem,
o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando
instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o
amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa
e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas.
A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias
sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor
os seus irmãos em sofrimento! Ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria
da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora
de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra - amor, os povos
sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
O Espiritismo
a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai
atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação,
triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio
intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem: condu-lo à conquista
do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito
tem hoje que resgatar da matéria o homem.
Disse eu que
em seus começos o homem só instintos possuía. Mais próximo, portanto, ainda se
acha do ponto de partida, do que da meta, aquele em quem predominam os
instintos. A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os
instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar estes últimos,
sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os
embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si
o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco de
suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos. O Espírito precisa ser
cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos
granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. E então que, compreendendo
a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos da
alma, prelúdios das alegrias celestes. (Lázaro.
Paris, 1862)
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