quinta-feira, 17 de novembro de 2011

AMAR PARA SEMPRE


Maria Dolores

      A senhora viúva, dia a dia,
      Sob os efeitos de uma hemiplegia,
      Trazia a própria vida concentrada
      Na cadeira de rodas, manejada
      Por amiga enfermeira.

      Dos parentes mais íntimos
      Um filho lhe restava, um filho só, 
      O filho que ela amava enternecidamente...
      Marido, pais, irmãos, chamados pela morte,
      Deixaram-lhe na vida
      Muita emoção frustrada
      E aquele moço forte
      Que não lhe confortava a existência dorida,
      Muito embora abastada.

      Achando-nos na véspera do dia
      Que marcaria o enlace do rapaz,
      E a mãezinha doente
      Num misto de alegria,
      De esperança e de paz
      Entregou-lhe, feliz, tudo quanto possuía:
      A fazenda, as ações de grande companhia,
      Os créditos de banco e a linda moradia,
      A dizer-lhe, contente:
      - Filho, tudo o que tenho é seu...
      De amanhã para a frente,
      Passo a morar no estreito pavilhão
      Que seu pai construiu ao fundo da mansão.
      Desejo ver você e a jovem companheira
      Sempre felizes, sem cuidados...
      Toda alegria agora para mim
      Será sabê-los sossegados,
      Ante a bênção de Deus, na visão do futuro...
     
      O filho comovido
      Beijou-lhe as mãos num gesto de amor puro
      E agradeceu a doação materna,
      Prometendo-lhe em voz macia e terna,
      Pela jovem com quem se casaria
      Segurança, carinho, convivência
      Para todas as horas da existência
      Que desejava fossem
      Adornadas de paz e de alegria.

      Depois do enlace, a enferma recebia
      Cartões lindos da Europa...O casal de viajores
      Via a lua-de-mel por um mundo de flores...
      Ambos davam noticias da beleza
      De Lisboa e Paris, de Florença e Veneza...

      Mas de retorno ao lar, após a festa
      De comemoração do regresso feliz
      A dama recebeu na vivenda modesta
      O jovem par... E a nora exigente lhe diz:
      - Minha sogra, ouça bem!...
      Seu filho e eu
      Pensando em seu descanso,
      Resolvemos agora transferi-la
      Para um lar de repouso, um abrigo claro e manso
      Onde a senhora viva mais tranqüila.
      Precisamos aqui viver a sós,
      Não pretendemos tê-la junto a nós.

      Porque a pobre espantada procurasse
      O olhar do filho amado para ver
      A atitude interior que lhe viesse à face,
      Ele mesmo aduziu:
      É um pouso geriátrico, mãezinha,
      A senhora, por lá, não estará sozinha.
      Nada disse a velhinha, posta a um canto,
     Tão somente mostrou silêncio e pranto...
    
      No dia imediato,
      Mudara-se-lhe o trato...
      Internada num belo casarão,
      Apesar da gentil acompanhante, 
      Eis que saudade enorme a domina e consome...
      O recinto de luxo para ela,
      Alma nobre e singela,
      Tinha apenas um nome:
      "Exílio e solidão".

     Seis meses transcorreram, lentamente,
     Não mais tornou a ver o filho ausente
     E sem que a pompa, em torno, a reconforte,
      A velhinha mais triste e mais doente,
     De mágoa em mágoa, vagarosamente,
     Entregou-se, de todo, às mãos da morte...
     Ante as indagações do verniz social,
     Deu-se-lhe sobre a Terra um lindo funeral...

     A pobre repousou num sono longo e raro;
     Mais tarde, despertou solicitando amparo.
     Junto dela, um Emissário de Vigia,
     Descortinou-lhe os Céus, comentando a alegria
     Que a esperava na Altura...
     A pobre mãe, porém, perguntou com ternura:
     - E meu filho onde está?
     - Sem dúvidas quaisquer – falou-lhe o mensageiro –
      Tanto quanto ficou, seu filho ficará
      Por muito tempo ainda em franco cativeiro,
     Tem muito que lutar, nos encargos que leva,
     Entre as forças da Luz e as tentações da treva...
     Mas você, minha irmã, pode elevar-se agora,
     Pelo sacrifício e devoção ao Bem,
     Mundos da Eterna Aurora
     Esperam-na no Além...
     A senhora, porém,
     Expressando respeito àquelas diretrizes,
     Disse, calma e sincera:
     - Não aspiro a viver entre os mundos felizes!...
     Voltar a ver e acompanhar meu filho,
     Sem qualquer empecilho,
     É todo o Céu de minha longa espera.

     O Mensageiro que lhe conhecia
     Os tempos de doença e de agonia
     Anotou com brandura:
     - Irmã, descer da Altura Imensa
     A fim de trabalhar sem recompensa
     Em favor dessa ou daquela criatura
      É conquistar maior merecimento...
     Para estar com seu filho, em constante união,
     Precisará viver
     Sob o regime da reencarnação...
     E, acaso, aceitará, por mãe a própria nora?
     - Como não, anjo bom? – replicou a senhora –
     Se Deus me consentir, assim regressarei,
     Creio que a luz do amor é o princípio da Lei;
     Se tenho no meu filho a bênção que procuro,
     Como menosprezar a jovem que ele adora?
     Amá-lo-ei melhor por minha nora
     De quem devo ser filha no futuro...
     Hei de amá-la também, voltando a ser criança,
     Sempre encontrei no amor divina maravilha,
     Minha nora no lar me acolherá por filha,
     Serei nos braços dela uma nova esperança...
     Envolverei meu filho e ela em meu sorriso,
     Todo berço na Terra aponta o Paraíso...

     Cinco anos passaram sobre o Tempo...
     Hoje anotei um trio encantador:
     Ante a filhinha: - luz recém-nascida –
     Disse o pai ao beijá-la: "minha vida!"...
     A criança sorriu no berço cor-de-rosa
     E a mãezinha, a enfeitar-lhe o corpinho de flor,
     Exclamou comovida e venturosa:
     - "Deus te abençoe, meu anjo, meu amor!..."

 Livro: Somente Amor – Psicografia: Francisco C. Xavier – Espíritos: Maria Dolores e Meimei.

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