Tema
da semana
“A
caridade material e a caridade moral”
de
27/05/2013 a 02/06/2013
Allan
Kardec
9.
“Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos
nos fizessem eles.” Toda a religião, toda a moral se acham
encerradas nestes dois preceitos. Se fossem observados nesse mundo,
todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem ressentimentos.
Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa de
cada rico, muitos pobres se alimentariam e não mais veríeis, nos
quarteirões sombrios onde habitei durante a minha última
encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças
a quem tudo faltava.
Ricos!
pensai nisto um pouco. Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes.
Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito,
para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo
de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais
ditoso.
Se
pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além
aqueles a quem, na minha última existência, me fora dado servir!...
Amai,
portanto, o vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já
sabeis, agora, que, repelindo um desgraçado, estareis, quiçá,
afastando de vós um irmão, um pai, um amigo vosso de outrora. Se
assim for, de que desespero não vos sentireis presa, ao reconhecê-lo
no mundo dos Espíritos!
Desejo
compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem
praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a
mais difícil de exercer -se.
A
caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas
e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por
agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber
calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de
caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se
escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de
desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se
supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real,
estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto
de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção
ao mau proceder de outrem é caridade moral.
Essa
caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém,
cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso
semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende
presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito
que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior
à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por
felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno,
tenho agora de implorar auxílio.
Lembrai-vos
de que Jesus disse que todos somos irmãos e pensai sempre nisso,
antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus: pensai nos que
sofrem e orai. – Irmã Rosália. (Paris, 1860.)
***
10.
Meus amigos, a muitos dentre vós tenho ouvido dizer: Como hei de
fazer caridade, se amiúde nem mesmo do necessário disponho?
Amigos,
de mil maneiras se faz a caridade. Podeis fazê-la por pensamentos,
por palavras e por ações. Por pensamentos, orando pelos pobres
abandonados, que morreram sem se acharem sequer em condições de ver
a luz. Uma prece feita de coração os alivia. Por palavras, dando
aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos,
dizendo aos que o desespero, as privações azedaram o ânimo e
levaram a blasfemar do nome do Altíssimo: “Eu era como sois;
sofria, sentia-me desgraçado, mas acreditei no Espiritismo e, vede,
agora, sou feliz.” Aos velhos que vos disserem: “É inútil;
estou no fim da minha jornada; morrerei como vivi”, dizei: “Deus
usa de justiça igual para com todos nós; lembrai-vos dos obreiros
da última hora.” Às crianças já viciadas pelas companhias de
que se cercaram e que vão pelo mundo, prestes a sucumbir às más
tentações, dizei: “Deus vos vê, meus caros pequenos”, e não
vos canseis de lhes repetir essas brandas palavras. Elas acabarão
por lhes germinar nas inteligências infantis e, em vez de
vagabundos, fareis deles homens. Também isso é caridade.
Dizem,
outros dentre vós: “Ora! somos tão numerosos na Terra, que Deus
não nos pode ver a todos.” Escutai bem isto, meus amigos: Quando
estais no cume da montanha, não abrangeis com o olhar os bilhões de
grãos de areia que a cobrem? Pois bem: do mesmo modo vos vê Deus.
Ele vos deixa usar do vosso livre-arbítrio, como vós deixais que
esses grãos de areia se movam ao sabor do vento que os dispersa.
Apenas, Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no fundo do
coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência.
Escutai-a, que somente bons conselhos ela vos dará. Às vezes,
conseguis entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do mal. Ela, então,
se cala. Mas, ficai certos de que a pobre escorraçada se fará
ouvir, logo que lhe deixardes aperceber-se da sombra do remorso.
Ouvi-a, interrogai-a e com frequência vos achareis consolados com o
conselho que dela houverdes recebido.
Meus
amigos, a cada regimento novo o general entrega um estandarte. Eu vos
dou por divisa esta máxima do Cristo: “Amai-vos uns aos outros.”
Observai esse preceito, reuni-vos todos em torno dessa bandeira e
tereis ventura e consolação. – Um Espírito protetor. (Lião,
1860.)
CARIDADE
Glorificada
sejas onde fores,
Mão
que te fazes sol, apoio e ninho
Para
todos os tristes do caminho,
Mão
que recorda um lírio aberto às dores!...
Mão
generosa, mão em que adivinho
A
mensagem de Cristo em resplendores,
Mão
que converte lágrimas em flores,
DEUS
te abençoe os gestos de carinho.
Nunca
enxerguei a forma de teu culto;
Fito-te
a luz que passa e enquanto exulto
Vejo
que o mundo se aprimora ao vê-la !
Caridade
! És o Dom que nos irmana,
Amor
de DEUS na inteligência humana,
Uma
estrela engastada noutra estrela !...
Auta
de Souza
Do
livro Auta de Souza.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
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