Tema da semana:
“Bem e Mal Sofrer”
de 09/04/2012 a 15/04/2012
Irmão X
Assim
que a fama de Jesus Se espalhou fartamente, dizia-se, em torno de Genesaré, que
o Messias jamais desprezava o ensejo de ensinar o bem, através de todos os
quadros da natureza.
Ante
as ondas revoltas, comentava as paixões que devastam a criatura; contemplando
algum ninho com filhotes tenros, exaltava a sublimidade dos elos da família; à
frente das flores campesinas louvava a tranqüilidade e a segurança das coisas
simples; ouvindo o cântico das aves, reportava-se às harmonias do alto. Ocasião
houve em que de uma semente de mostarda extraiu glorioso símbolo para a fé e,
numa tarde fulgurante de pregação consoladora, encontrara inesquecíveis imagens
do Reino de Deus, lembrando um trigal. Explanou sobre o amor celeste,
recorrendo a uma dracma perdida, e surgiu um instante, ó surpresa divina, em
que o Cristo subtraíra infortunada pecadora ao apedrejamento, usando palavras
que lhe denunciavam a perfeita compreensão da justiça!
Reconhecida
e proclamada a sabedoria d’Ele, porfiavam os discípulos em lhe arrancarem
referências nobres e sábias palavras. Por mais se revezassem na exposição de
feridas e maldades humanas, curiosos de apreender-lhe a conceituarão da vida, o
Mestre demonstrava incessantes recursos na descoberta da “melhor parte”.
Como
ninguém, sabia advogar a causa dos infelizes e identificar atenuantes para as
faltas alheias, guardado o respeito que sempre consagrou à ordem. Guerreava
abertamente o mal e chicoteava o pecado. Entretanto, estava pronto
invariàvelmente ao socorro e amparo das vítimas. Se vivia de pé contra os
monstros da perversidade e da ignorância, nunca foi observado sem compaixão
para com os desventurados e falidos da sorte. Levantava e animava sempre.
Estimulava as qualidades superiores sem descanso, surpreendia ângulos
iluminados nas figuras aparentemente trevosas.
Impressionados
com aquela feição d’Ele, Tiago e João, certa feita, ao regressarem de rapida
estada em Cesareia, traziam, espantados, o caso de um ladrão confesso, que fora
ruidosamente trancafiado no cárcere...
Pisando
Cafarnaum, de retorno, Tiago disse ao irmão, após relacionar as dificuldades do
prisioneiro:
–
Que diria o Senhor se viesse a sabê-la. Tiraria ilações benéficas de
acontecimento tão escabroso?
Ouvido
pelo irmão, com indisfarçável interesse, rematou:
–
Dar-lhe-ei notícias do sucedido.
Com
efeito, depois de abraçarem Jesus, de volta, o filho de Zebedeu passou a
narrar-lhe a ocorrência desagradável, em frases longas e inúteis.
–
O criminoso de Cesareia – descreveu, prolixo – fora preso em flagrante, em seguida
a audaciosa tentativa de roubo, que perdurara por seis meses consecutivos.
Conhecia, através de informações, vasto ninho de jóias pertencentes a
importante família romana e, por cento e oitenta dias, cavara ocultamente a
parede rochosa, de modo a pilhar as preciosidades, sem testemunhas. Fizera-se
passar por escravo misérrimo, sofrera açoites na carne, padecera fome e sede,
por determinações de capatazes insolentes, trabalhara de sol a sol num campo
não distante da residência patrícia, tão só para valer-se da noite, na
transposição do obstáculo que o inibia de apropriar-se dos camafeus e das
pedras, das redes de ouro e dos braceletes de brilhantes. Na derradeira noite
de trabalho sutil, foi seguido pela observação de um guarda cuidadoso e, quando
mergulhava as mãos ávidas no tesouro imenso, eis que dois vigilantes espadaúdos
agarram-no pressurosos. Buscou escapar, mas debalde. Rudes bofetadas
amassaram-lhe o rosto e dos braços duramente golpeados corria profusamente o
sangue. Aturdido, espancado, depois de sofrer pesadas humilhações, o infeliz,
agonizando, fora posto a ferros em condições nas quais, talvez, não lhe seria
dado esperar a sentença de morte...
O
Mestre ouviu a longa narrativa em silêncio e, porque observasse a atitude
expectante dos aprendizes, neles fixou o olhar percuciente e doce e falou:
Se
a prática do mal exige tanta inteligência e serviço de um homem, calculemos a
nossa necessidade de compreensão, devotamento e perseverança no sacrifício que
nos reclama a execução do verdadeiro bem.
Logo
após, afastou-se, pensativo, enquanto os dois jovens companheiros se
entreolhavam, surpresos, sem saberem que replicar.
Livro “Luz Acima”. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier.
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