Tema da semana
“Provação”
De 17/03/2014 a 23/03/2014
Joanna de Ângelis
A voz que laboraste por modular
docemente agora se transforma em brado de acusação impiedosa; as mãos que uniste muitas vêzes dentro das tuas, em gesto de ternura, parecem prontas a esbordoar-te;
o rosto tantas vêzes
osculado com
meiguice surge congestionado diante da tua presença; os gestos
que plasmaste com incansável devotamento, fazem-se bruscos e violentos em
desafio à tua serenidade;
aquêles olhos que enxugaste com desvêlo, quando
choravam, fitam-te com chispas de ódio; o corpo que embalaste noites a fio,
ora freme de revolta e se agiganta diante do teu atual carinho; todo aquêle ser
que cumulaste de amor,
então, se contorce sob
o gás da rebeldia e não trepida em malsinar-te,
ferindo as mais caras aspirações que demoradamente acalentaste,
bem como os nobres objetivos que toda a vida perseguiste — a
meta da tua realização interior.
Insultado por tão grotesca reação tentas, ainda, acercar-te
do ser querido,
escondendo
a decepção e a dor íntima; no entanto, não consegues transpor a barreira entre ti e ele, colocada propositadamente para produzir distância, não obstante o
êxito dele depender do teu
suor e da
tua
soledade, das tuas
lágrimas e dos teus silêncios.
Permite-se acusar-te, censurar-te, e não te concede a condição ao menos de “ser humano”.
Reserva-se o direito de magoar-te e explora os teus sentimentos
para
pisoteá-los logo depois.
Enquanto o envolves em otimismo, há muito tempo a inferioridade
dele
espezinha-te
com
recalques cruéis, que procedem de vidas consumidas no
passado do espírito e não te oferece a concessão das queixas ou das justas
censuras que são descargas da tensão que te
atormenta.
E dizer que
te deste com o melhor que possuias, oferecendo-te todo por ele, para a felicidade dele!
Retempera, porém,
o
ânimo e insiste no
dever que te
cabe
ou que
assumiste, mesmo incompreendido, apesar de sitiado pela ingratidão com que
ele
te retribui o carinho demorado.
* * *
Seja quem fôr o ingrato — filho, amigo, afeto, companheiro —, é alguém
vitimando-se com o ácido que o destruirá logo depois.
A ingratidão é enfermidade de erradicação difícil e demorada; a rebeldia
reflete distonia espiritual; o azedume exterioriza infelicidade interior; a agressão atesta primitivismo; a cólera é morbidez de complexa definição no campo da
mente em desalinho.
Todo aquele que se permite conduzir por tais famanazes
da
indisciplina e do orgulho merece caridade pelo tratamento do amor que ora
e socorre, insiste ao lado e não revida mal por mal.
Ele, aquele
que
te acicata o
espírito, caminhará pela
estrada da
experiência, avançando na rota do futuro.
Aprenderá inevitavelmente e tornar-se-á brando.
Não é necessário que o desejes: a vida se encarrega de nós todos, cada um a seu turno...
* * *
É pena — e sofres com isso — que te não saibas valorizar
o amor, aquele
que hoje te fere e subestima.
Jesus, porém, experimentou, e em grau muito maior, a ingratidão e o
desinteresse
dos
companheiros mais amados. Medita nEle, na Sua vida e não te abales com a provação redentora.
Felizes são os que amam, e amam
sempre, reconhecidos, fiéis, Os outros, dentre os quais o ser que ora não te
retribui
amor por
amor,
já
estão justiçados
em si mesmos,
sorvendo a amargura da
inquietação e o tóxico
da insegurança
pessoal, que os
envenenam paulatinamente.
*
“Mas na hora de provação volta atrás”.
Lucas:
capítulo 8º, versículo 13.
*
“Os que, ao contrário,
usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem,
podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo”. São Luiz. (Paris 1859).
Capítulo 4º — Item 25, parágrafo 2.
Psicografia
de Divaldo Franco do livro Florações Evangélicas
As provações são
meios utilizados pela Lei no despertamento das criaturas para o amor,
substituindo as paixões.
Referência:SOUZA, Juvanir Borges de. Tempo de renovação. Prefácio de Lauro S.
Thiago. Rio de Janeiro: FEB, 1989. - cap. 8
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