Manoel
Philomeno de Miranda
Allan Kardec afirmou com sabedoria que a
mediunidade é “apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil
aos Espíritos em geral.”
Por essa e outras razões, os médiuns não se
podem vangloriar de haverem sido eleitos como missionários da Nova Era,
deixando-se sucumbir aos tormentos da fascinação sutil ou extravagante.
A atividade mediúnica, por isso mesmo,
constitui oportunidade abençoada para o aperfeiçoamento intelecto-moral do
indivíduo, que se permitiu dislates em reencarnações anteriores,
comprometendo-se em lamentáveis situações espirituais.
A mediunidade é, portanto, um ensejo especial
para a autorrecuperação, devendo ser utilizada de maneira dignificante, em cujo
ministério de amor e de caridade será encontrada a diretriz de segurança para o
reequilíbrio.
Quando se trata de mediunidade ostensiva, com
mais gravidade devem ser assumidos os deveres que lhe dizem respeito, porquanto
maior se apresenta a área de serviço a ser desenvolvido.
Em qualquer tipo de realização nobilitante
sempre se enfrentam desafios e lutas, em face do estágio evolutivo em que se
encontram os seres humanos e o planeta terrestre. É natural que haja alguma
indiferença pelo que é bom e elevado, quando não se apresentam hostilidades em
trabalho impeditivo da sua divulgação.
Sendo a mediunidade um recurso que
possibilita o intercâmbio entre o mundo físico e o espiritual, as mentes
desprevenidas ou ainda arraigadas na perversidade tudo investem para impedir
que o fenômeno ocorra de maneira saudável, proporcionando, assim, os meios para
restabelecer-se a ordem moral e confirmar-se a imortalidade do ser,
propondo-lhe equilíbrio e venturas no porvir.
Não são poucos os obstáculos a serem
transpostos por todo aquele que se candidata ao relevante labor mediúnico. Os
primeiros encontram-se no seu mundo íntimo, nos hábitos doentios a que se
acostumou no pretérito, quando permaneceu distanciado dos deveres morais, criando
problemas para o próximo, que resultaram em inquietações para si mesmo. A luta
a ser travada, para a superação do desafio, ninguém vê, exceto aquele que está
empenhado no combate em favor da autolibertação, impondo-se a necessidade de
rigorosas disciplinas que possam proporcionar-lhe novas condutas saudáveis,
capazes de facilitar-lhe a execução das tarefas espirituais sob a
responsabilidade e comando dos Mensageiros do Senhor.
O estudo consciente da faculdade mediúnica e
a vivência dos requisitos morais são, a seguir, outro grande desafio, por
imporem condições de humildade no desempenho das tarefas, tomando sempre para
si as informações e advertências que lhe chegam do Mais Além, ao invés de
transferi-las para os outros.
O médium sincero, mais do que outro lidador
laborioso em qualquer área de ação, encontra-se em constante perigo,
necessitando aplicar a vigilância e a oração com frequência, de modo a
manter-se em paz ante o cerco das Entidades ociosas e vingadoras da
erraticidade inferior. Isto porque, comprazendo-se na prática do mal, a que se
dedicam, as mesmas transformam-se em inimigos gratuitos de todos aqueles que
lhes parecem ameaçar a situação em que se encontram.
Por isso mesmo, a prática mediúnica
reveste-se de seriedade e de entrega pessoal, não dando espaço para o
estrelismo, as competições doentias e as tirânicas atitudes de agressão a quem
quer que seja...
Devendo ser passivo o médium, a fim de bem
captar o pensamento que verte das Esferas superiores, o seu comportamento há de
caracterizar-se pela jovialidade, pela compreensão das dificuldades alheias,
pela compaixão em favor de tudo e de todos que encontre pelo caminho.
As rivalidades entre médiuns, que sempre
existiram e continuam, defluem da inferioridade moral dos mesmos, porque a condição
mais relevante a ser adquirida é a de servidor incansável, convidado ao
trabalho na Seara por Aquele que é o Senhor.
Examinar com cuidado as comunicações de que
se faz portador, evitando a divulgação insensata, de temas geradores de
polêmica, a pretexto de revelações retumbantes, e defendê-los, constitui
inadvertência e presunção, por considerar-se como o vaso escolhido para as
informações de alto coturno, que o mundo espiritual libera somente quando isso
se faz necessário. Jamais esquecer, quando incluído nessa categoria, que o
caráter da universalidade do ensino, conforme estabeleceu o mestre de Lyon, é
fundamental para demonstrar a qualidade e a origem do ensinamento, se
pertencente a um Espírito ou se, em chegando o momento da sua divulgação entre
as criaturas humanas, procede da Espiritualidade superior.
Quando se sente inspirado a adotar
comportamentos esdrúxulos, informações fantasiosas e de difícil confirmação,
materializando o mundo espiritual como se fosse uma cópia do terrestre e não ao
contrário, certamente está a desserviço do Bem e da divulgação do Espiritismo.
O verdadeiro médium espírita é discreto, como
corresponde em relação a todo cidadão digno, evitando, quanto possível, o
empenho em impor as revelações de que se diz instrumento.
De igual maneira, quando o médium passa a
defender-se, a criticar os outros, a autopromover-se demais, encontra-se
enfermo espiritualmente, a caminho de lamentável transtorno obsessivo ou
emocional.
A sua sensibilidade é considerada não apenas
pelo fato de receber os Espíritos superiores, mas pela facilidade de
comunicar-se com todos os Espíritos, conforme acentua o insigne Codificador.
Assim deve considerar, porque a mediunidade
é, em si mesma, neutra, podendo ser encontrada em todos os tipos humanos, razão
pela qual não se trata de uma faculdade espírita, porém, humana, que sempre
existiu em todas as épocas da sociedade, desde os tempos mais remotos até os
atuais.
No trabalho silencioso e discreto do
atendimento aos sofredores, seja no seu cotidiano em relação aos companheiros
da romagem carnal, seja nas abençoadas reuniões de atendimento aos
desencarnados em agonia, assim como àqueles que se rebelaram contra as Leis da
Vida, encontrará o medianeiro sincero inspiração e apoio para a desincumbência
da tarefa que abraça.
Dedicando-se ao labor da caridade sem jaça,
granjeia o afeto dos Espíritos elevados, que passam a protegê-lo sem alarde e a
inspirá-lo nos momentos de dificuldades e de sofrimentos, consolando-o nos
testemunhos e na solidão que, não raro, dominam-lhe as paisagens íntimas. Consciente
da responsabilidade que lhe diz respeito, não se preocupa com as louvaminhas e
os aplausos da leviandade, em agradar os poderosos e os insensatos que o
buscam, por compreender que está a serviço da Verdade, que, infelizmente,
ainda, como no passado, não existe lugar para a sua instalação. Dessa forma,
mantém-se fiel à sua implantação interna, vivendo-a de maneira jovial e enriquecedora,
dando mostras de que o Reino de Deus instala-se a princípio no coração, de onde
se expande para o mundo transcendente.
Tem cuidado na maneira pela qual exterioriza
as informações recebidas, dando-lhes sempre o tom de naturalidade e de
equilíbrio, evitando o deslumbramento que a ignorância em torno da sua
faculdade sempre reveste com brilho falso os seus portadores.
Jamais se deve permitir a presunção,
acreditando-se irretocável, herdeiro da memória e dos valores dos missionários
do passado próximo ou remoto, tendo em Jesus Cristo, e não em pessoa alguma, o
seu guia e modelo.
Despersonalizar-se para que nele se reflita a
figura incomparável do Mestre de Nazaré, eis uma das metas a conquistar,
recordando-se de João Batista, que informou sobre a necessidade de diminuir-se
para que Ele crescesse, considerando-se indigno de atar as amarras das Suas
sandálias...
A mediunidade é instrumento que se pode
transformar em vínculo de luz entre a Terra e o Céu, ou furna de perturbação e
sofrimento onde se homiziam os invigilantes e desalmados, em conflitos e pugnas
contínuas.
A faculdade, em si mesma, é portadora de
grande potencialidade para proporcionar a felicidade, quando o indivíduo que a
aplica no Bem procura servir com bondade e alegria, evitando a disputa das
glórias mentirosas do mundo físico, assim como os desvios de conduta responsáveis
pelas quedas morais da sua aplicação indevida.
As trombetas do mundo espiritual ressoam
hoje, como em todos os tempos, nas consciências alertas, convocando os corações
afetuosos para o grande empreendimento de iluminação de vidas e de sublimação
de sentimentos, atenuando as dores expressivas deste momento de transição de mundo
de provas e expiações para mundo de regeneração.
Aos médiuns dignos e sinceros cabe a grande
tarefa de preparar o advento da Era Nova, conforme o fizeram aqueles que se
tornaram instrumento das mensagens libertadoras que foram catalogadas por Allan
Kardec, nos seus dias, elaborando a Codificação Espírita, e que se mantêm
atuais ainda hoje, prosseguindo certamente pelos dias do futuro.
Que os médiuns, pois, se desincumbam do compromisso
e não da missão, como alguns levianamente a interpretam, gerando simpatia e
solidariedade, unindo as pessoas numa grande família, que a constituem, e
sustentando-lhes a sede e a fome de luz e de paz, de esperança e de amor, como
somente sabem fazer os Guias da Humanidade a serviço de Jesus.
Psicografia
de Divaldo Franco, na tarde de 16 de abril de 2009, na Mansão do Caminho, em
Salvador, Bahia.
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