Tema
da semana
“Obediência
e resignação"
de
08/04/2013 a 14/04/2013
Raul Teixeira
Conhecemos
dois momentos muito interessantes, em algumas vidas bastante
importantes. Um deles, é aquele momento em que, segundo os textos
bíblicos, Maria de Nazaré ficou sabendo que seria mãe.
A
sua expressão, conforme os registros religiosos, é muito
interessante:
Senhor,
faça-se em mim segundo a Tua vontade.
Esse
é um momento que vamos deixar para analisar logo mais.
Depois,
encontramos uma outra ocasião, em que o notável Francisco de Assis,
diz assim:
Senhor,
faze de mim um instrumento da Tua paz.
Quando
percebemos isto, ficamos a analisar as duas posturas.
Maria,
ao saber da sua gravidez, ao saber que tinha sido escolhida por Deus
para dar a luz a um dos Seus mais eminentes filhos, na Terra o mais
eminente, Jesus, se dirigiu ao Pai dizendo:
Faça-se
em mim segundo a Tua vontade.
Esse
momento em que Maria se refere a Deus dessa forma, se dirige a Deus
desse modo, ela está demonstrando uma resignação. Mas era uma
resignação de quem sentiu a importância daquele momento e daquela
notícia.
Maria
certamente, não poderia avaliar ainda as consequências, os
desdobramentos dessa maternidade, possivelmente não. Mas, sabia que
se era uma escolha do Criador, se era uma determinação de Deus,
isso tinha que ser algo importante para a sua vida, para a vida.
No
entanto, Francisco se utiliza de um outro recurso. Ele, sabedor de
que ser instrumento de Deus ou do Cristo é algo de grandíssima
magnitude, pede a Cristo ou pede a Deus, para que faça dele um
instrumento do trabalho.
Esse
momento franciscano é um momento de obediência a um propósito.
E
nós notamos que na postura de Francisco, existe uma conscientização,
uma reflexão, essa certeza de que tornar-se alguém instrumento do
bem, é de fundamental importância para o próprio instrumento do
bem, mas fundamentalmente para a vida.
Desse
modo, estamos diante de duas questões fundamentais nas nossas
relações humanas: aquela que diz respeito à obediência, e
aqueloutra que se refere à resignação.
Todas
as vezes que falamos em obediência, é muito comum que as pessoas
entendam ou que nós entendamos, que obedecer a algo ou a alguém, é
um gesto de humilhação.
Obedecer.
Carregamos na alma esse impulso da oposição, do desacato e desse
modo, a obediência entre nós não é uma coisa bem vista.
Quando
os pais pedem aos filhos obediência, costumeiramente estão em clima
de briga, de imposição, alguma disfunção familiar. E, então, a
ideia da obediência costuma estar associada à ideia da humilhação.
Você
tem que me obedecer, Fulano. Você tem que fazer o que eu digo,
Beltrano.
E,
no inconsciente geral existe essa ideia de que obedecer é
humilhar-se. Nada obstante, o que nós aprendemos com os grandes
Mestres da Humanidade, é que a obediência tem respaldo do
discernimento, da razão.
Obedecer
é estar de acordo com a razão. Não é se humilhar, não é fazer o
que os outros queiram. É entender exatamente a importância daquilo
que nós iremos fazer.
Obediência
tem o respaldo, o apoio da razão. Se nós obedecemos sem raciocinar,
naturalmente será um gesto de fanatismo, mas se nós obedecemos
sabendo o que é que estamos fazendo, sem dúvida alguma, é a mais
notável obediência. Aquela buscada por Francisco.
E
a resignação, esse consentimento do coração, é aquela postura de
Maria de Nazaré diante do que não se pode torcer. E sabendo da
importância desse ato que não se pode torcer, ajustar-se à vontade
de Deus, submeter-se à vontade de Deus, porque sendo Deus a
Inteligência Suprema do Universo, tudo que Ele faz sobre nós e para
nós, é perfeito.
*
* *
Uma
vez que tudo o que Deus faz para nós é positivo, é perfeito, é
absoluto, resta pensar como é que nós agimos no cotidiano, quando
temos necessidade de obedecer.
É
uma luta do orgulho. Nós ficamos atormentados. A. soberba assoma em
nossas atitudes, se apresenta em nossas atitudes e ficamos
verdadeiramente transtornados.
É
por isso que grande número dos indivíduos detesta obedecer sinal de
trânsito, faixa de pedestre. Detesta obedecer às leis, porque
imaginam que esta obediência lhes trará alguma humilhação.
É
tão comum as pessoas trabalharem para desobedecer, para desacatar.
Pisar no jardim, quando se pede não pisar, quando se proíbe pisar.
Pichar
muros, quando se proíbe pichar ou há uma placa dizendo que não se
deve pichar.
Fumar
em lugares fechados, desrespeitando as outras pessoas que ali estão,
apesar da placa indicando: Pede-se não fumar. Por favor, não fumar.
Proibido fumar.
Essa
concepção de desobedecer ao status quo é típico da criatura ainda
inferiorizada. Ela poderia parar para pensar: Por que é que eu não
devo pisar o jardim? Porque esse é um trabalho para todo mundo, é
um trabalho que alguém fez com suor, com esforços. E por que é que
eu tenho o direito de pisar?
Por
que é que eu não devo fumar aqui?
Porque
ninguém é obrigado a participar dos meus vícios. Ninguém tem que
compartilhar do meu desejo, se não o deseja.
Por
que eu não posso fazer essa contramão? Porque pode vir alguém
obedecendo o sentido da rua e será atropelado por mim. De alguma
forma eu estarei cometendo um equívoco ou um grave erro.
Todas as vezes que,
diante da necessidade de obedecer, nós raciocinarmos,
estaremos fazendo exatamente o que deve ser feito.
Obedecer
é pedir autorização à razão para fazermos isto ou fazer aquilo,
e nessa hora não importa quem é que nos tenha dado a ordem ou a
determinação.
Muitos
homens não gostam de acatar o que a esposa fala, o que uma mulher
fala. Outras vezes, a mulher não gosta de obedecer ao que o marido
diz, ao que um homem diz, por causa dessas tolices de machismos, de
feminismos, sem acatar com o fato em si, sem atinar para o fato em
si.
Obedecer
não importa a quem. Pode ser dito por uma criança. Se a criança
diz assim:
Cuidado,
aí tem tinta fresca, passe por outro lugar - se nós insistirmos,
vamos nos tingir com a tinta fresca.
Então,
quando somos pessoas amadurecidas, não temos nenhum problema em
obedecer, desde que vejamos sentido nisso, desde que haja
sentido para isso.
E
a resignação é este impulso do coração. Mas, quando falamos em
impulso do coração, não deixa de ser uma força de expressão,
porque o coração não tem impulso.
O
impulso, de fato, é da inteligência e, diante das questões que nos
levam à resignação, basta usar a inteligência para verificar que
são coisas que não poderemos torcer. A resignação diante do
inevitável, diante da morte, por exemplo.
Quando
falamos em resignação, não se trata de uma acomodação. Vamos
trabalhar nas pesquisas, na medicina, para evitarmos que as pessoas
morram por qualquer coisa, por uma virose, por uma bacilose, por um
processo qualquer que a ciência já tenha possibilidades para
impedir.
A
resignação nos leva a pensar que, sendo a desencarnação ou a
morte um fenômeno natural, e que todos os indivíduos teremos que
por ela passar, é o inevitável. Não me adiantará a
insubordinação, o desespero, a gritaria, porque todas as criaturas
no mundo morrem.
Ricos
e pobres, potentados ou gentalha, todos morremos. O fato é que a
resignação nos leva a esse consentimento do entendimento, do
sentimento.
Por
isto, fala-se que a resignação é o consentimento do coração,
porque nós precisamos, depois de refletir, depois de raciocinar,
depois de avaliar pela razão, abrir-nos para acatar aquilo que seja
determinação da vida:
Senhor,
faça-se em mim segundo a Tua vontade.
E
pensar em Francisco:
Faze
de mim um instrumento da Tua paz.
Transcrição
do Programa Vida e Valores, de número 129, apresentado por Raul
Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20,
Curitiba, no dia 26.10.2008.
OBEDIÊNCIA
SILVEIRA
DE CARVALHO
Seja
em paz, ou seja, em luta,
Na
fé sob qualquer traje,
Quando
falas, Deus te escuta,
Quando
obedeces, Deus age.
Da
obra: “Chão de Flores” – AUTORES DIVERSOS –
MÉDIUM: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
Digitado
por: Lúcia Aydir.
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