Amélia Rodrigues
Aquele fora um dia exaustivo
e cheio de surpresas.
A Boa Nova espraiava-se como
perfume docemente carreado por mansa brisa. Cidades e aldeias da Galileia eram
beneficiadas pelas informações libertadoras em torno da vida, do ser humano e
do Reino de Deus. Outras tetrarquias igualmente haviam sido abençoadas pela
presença do Rabi, e de regiões próximas, além do rio Jordão, pertencentes a
outros países, chegavam peregrinos e enfermos em busca da Sua misericórdia.
Por outro lado, aumentava
também a animosidade de fariseus, saduceus e herodianos contra Jesus, por
sentirem-se ameaçados pelas sublimes palavras de que Ele se fizera portador, e
em razão do seu absoluto desinteresse pelas posses materiais e quejandos.
O retorno de Gadara, após a
libertação de Legião e da indiferença dos gerasenos, mais interessados nos seus
porcos do que no Mestre, causara sentimentos desencontrados e frustrantes nos
Seus companheiros.
Enquanto as barcas cortavam
as ondas em movimentos contínuos sob um céu iluminado fortemente pelo
Astro-rei, alguns discípulos não escondiam a decepção e a raiva em decorrência do
acontecimento... Caprichosos, sequer deram oportunidade ao Rabi para que
expusesse o que possuía de beleza interior para oferecer-lhes. A sua
agressividade, às portas da cidade, irritara Pedro a tal ponto, que Lhe
solicitara fizesse descer fogo celeste para os destruir, no que não fora
atendido.
O Mestre compreendia-os na
ignorância em que se refugiavam e tivera deles infinita compaixão. Nem toda
semente encontra solo fértil para germinar. Ele cumprira com o dever de
auxiliar o enfermo a ver-se livre da opressão terrível dos obsessores que o
constringiam, desde há muito, ameaçando-lhe a existência.
Após o largo percurso no
mar, atingiram a praia de Cafarnaum onde a multidão acostumada a ouvi-lo e a
receber-Lhe as bênçãos, ansiosamente aguardava inquieta.
Repetiu-se o espetáculo dos
infelizes trazidos por familiares e a esforço pessoal, a fim de conseguirem a
cura para as suas mazelas. Não lhes interessavam muito as palavras repassadas
de ternura e misericórdia, saturadas de amor, que lhes podiam propiciar a cura
real profunda, a do Espírito. A preocupação exclusiva era com o corpo e suas
deficiências, sem sabedoria para tentar entender-lhes as causas.
Quando o velário da noite
desceu, salpicado de lírios estelares, após a refeição na casa de Simão, o Amigo
buscou a praia quase deserta onde as ondas sucessivas do mar cantavam sua
melodia, aureoladas pela espuma branca que as praias absorviam e aguardou que
os amigos se Lhe acercassem, o que logo ocorreu.
Suave perfume de flores
miúdas misturadas à maresia e tudo mais em volta formavam um cromo em movimento
de beleza incomum.
Bartolomeu era talvez o
discípulo mais discreto e algo experiente. Nascera em Caná da Galileia e era
conhecido como Natanael (que significa Deus deu) Bar Tolmay, que ao ser
apresentado a Jesus, o Mestre lhe informou que já o conhecia pelas suas
reflexões à sombra das árvores na cidade. Mas ele, por sua vez, quando
informado sobre o Mestre e Sua origem redarguira, perguntando: - Que pode vir
de bom de Nazaré? Tornara-se-Lhe discípulo humilde e devotado, que mais tarde
daria a existência em holocausto de amor em Sua memória.
Utilizando-se do silêncio
que se fizera natural, interrogou o amado Amigo: Por que os demônios exercem
domínio sobre as criaturas humanas, enlouquecendo-as, vampirizando-as,
aniquilando-as quase, sem nenhuma piedade? O Rabi olhou ternamente, o discípulo
sisudo e respondeu com suave entonação de voz: - Convém recordarmos que os
demônios são as almas daqueles que habitaram a Terra e foram despidos pela
morte, retornando à pátria de origem: o mundo espiritual. Porque a sua era uma
conduta vilipendiosa, entregue aos disparates da insensibilidade moral, à
luxúria e às paixões perversas, despertaram além da morte com as imensas
feridas dos sentimentos abertas em chagas vivas e, infelizes, comprazem-se em
atormentar todos aqueles com os quais se afinizam. As criaturas humanas ouvem e
tomam conhecimento das Escrituras que advertem quanto ao comportamento e aos
deveres para com Deus e os seus irmãos. No entanto, entregam-se aos prazeres
cumprindo algumas recomendações legais, sem qualquer vínculo com a vida
espiritual. Dão a impressão que viverão para sempre no corpo e, quando
descobrem a imortalidade acreditam-se credenciadas ao repouso no paraíso
gratuito que pensam merecer. O Pai generoso e sábio permite que os mais
comprometidos porém, voltem à Terra em estado de redenção, enfermos e
debilitados, tomando-se vítimas daqueles aos quais prejudicaram e anatematizaram.
E qual seria - indagou o
discípulo atento -o meio para impedir essa ocorrência lamentável por sua
crueldade? Os profetas demonstraram que a existência terrena é oportunidade
para o crescimento espiritual e prescreveram as leis que, obedecidas, precatam
os indivíduos das interferências do mal. O egoísmo, a soberba, os sentimentos
negativos, porém, prevalecem em sacerdotes, levitas, fariseus, saduceus
inescrupulosos, divulgando as suas ideias fantasistas e negadoras da realidade
de Deus, facultando a degradação íntima, embora disfarçada pela pureza dos
trajes impecáveis, da hipocrisia religiosa, que a todos empurram para a
submissão às forças do mal. Para sanar a calamidade proponho o amor
incondicional como recurso preventivo e curador de todas as desgraças, por
dignificar o ser humano e resguardá-lo das influências destrutivas provindas do
mundo espiritual. Quando se ama, eliminam-se as imperfeições e ascende-se
moralmente a estâncias elevadas, que se constituem impedimento para as fixações
mentais desses desventurados com os aflitos da Terra. Dias virão, no futuro, em
que o Pai enviará os Seus mensageiros em meu nome para iluminar as consciências
terrestres e resgatar os que demonizam as demais, voltando-se para o bem.
Bartolomeu refletiu um pouco
e porque o silêncio geral o estimulasse, volveu a nova interrogação: - E o que
acontecerá a Legião, a esses Espíritos que foram expulsos do endemoniado de
Gadara? Voltarão à Terra - ripostou o Mestre - sofridos e assinalados pelas
enfermidades do mal que praticaram, depurando-se mediante as bênçãos das dores
acerbas. Ninguém burla as leis de amor, de compaixão e de misericórdia
estatuídas pelo Pai. Por isso, é necessário ser-se simples como o lírio do
campo, humilde e puro de coração como as leves borboletas, pobre de espírito de
inveja e de torpezas e sentir fome e sede de justiça superior e nobre, a fim de
ser-se saciado e encontrar-se o reino dos céus onde passará a habitar.
Logo silenciou, detendo-se
na contemplação dos astros luminosos no firmamento. As ânsias da Natureza
registraram nas suas ondas e, na atualidade, o conhecimento da obsessão atestam
a afirmativa do Senhor, traçando diretrizes para quem deseja a conquista da
saúde em plenitude.
Amélia Rodrigues Psicografia
de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 21de dezembro de
2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
(-: , Olá, seja bem vindo, se o seu comentário for legal, e não trouxer conteúdo agressivo, ele será postado.