domingo, 20 de março de 2011

PACIÊNCIA DE USO EXTERNO

André Luiz

Indiscutìvelmente, a paciência, qualquer que seja a expressão em que se manifeste, vem a ser atitude benéfica por assustar a explosão de males imprevisíveis.
Em muitos casos, no entanto, apenas depois da desencarnação é que verificamos existir um tipo de paciência que, às vezes, ajuda ao próximo e que, por isso, não deixa de possuir o seu mérito, mas não nos favorece como julgamos.
É uma espécie de meia-paciência que se exprime exclusivamente nos processos de luta e provação em que a pessoa se sabe observada e louvada por admiradores e amigos, com o risco de converter o valor moral em vaidade encoberta.
Sem dúvida, que nos cabe resguardar a serenidade própria, à frente de quaisquer dificuldades, pequenas ou grandes, ocultas ou vistas, todavia, convém acautelar-nos contra a meia-paciência, suscetível de se desdobrar, de instante para outro, na hipertrofia do amor-próprio, transfigurando dignidade pessoal em orgulho.
Essa calma de metade somente aparece nas dores consideradas honrosas para a vítima.
As criaturas ameaçadas por semelhante perigo, sabem sempre tolerar com um sorriso bem posto o escárnio das inteligências reconhecidamente mal-intencionadas do ponto de vista público, porque isso lhes consolida a superioridade ante o senso comum, no entanto, não agüenta, caladas, a alfinetada de um parente menos feliz.
São capazes de doar cem mil cruzeiros (Reais) a uma campanha de beneficência que congregue personalidades importantes, contudo, não deixam de acompanhar com alguma repreensão o vintém (centavo) que entregam à porta ao mendigo que imaginam em condições reprováveis.
Perdem nobremente numa contenda no foro, onde observadores cultos lhes inspecionam os modos, mas irritam-se em família ao serem contraditadas em singelas opiniões.
Testemunham extremada abnegação na residência de companheiros e recusam indignadas o servicinho da limpeza na própria casa.
Precavemo-nos contra a paciência de uso externo.
Paciência real, paciência firme é aquela que sabe sofrer dignamente diante dos outros ou a sós consigo, na rua ou no lar, carregando o ouro da consideração humana ou a pedra das pequeninas humilhações da existência, auxiliando para o bem dos outros, em todas as situações, onde e como a Lei de Deus apontar e quiser.

Do livro Sol nas Almas. Psicografia de Waldo Vieira.

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