Tema
da semana
“Caridade
material e caridade moral”
de
27/05/2013 a 02/06/2013
Rodolfo
Calligaris
Escusam-se
muitos de não poderem ser caridosos, alegando precariedade de bens,
como se a caridade se reduzisse a dar de comer aos famintos, dar de
beber aos sedentos, vestir os nus e proporcionar um teto aos
desabrigados.
Além
dessa caridade, de ordem material, outra existe – a moral, que não
implica o gasto de um centavo sequer e, não obstante, é a mais
difícil de ser praticada.
Exemplos?
Eis alguns:
Seríamos
caridosos se, fazendo bom uso de nossas forças mentais, vibrássemos
ou orássemos diariamente em favor de quantos saibamos acharem-se
enfermos, tristes ou oprimidos, sem excluir aqueles que porventura se
considerem nossos inimigos.
Seríamos
caridosos se, em determinadas situações, nos fizéssemos
intencionalmente cegos para não vermos o sorriso desdenhoso ou o
gesto disprezivo de quem se julgue superior a nós.
Seríamos
caridosos se, com sacrifício de nosso valioso tempo, fôssemos
capazes de ouvir, sem enfado, o infeliz que nos deseja confiar seus
problemas íntimos, embora sabendo de antemão nada podermos fazer
por ele, senão dirigir-lhe algumas palavras de carinho e
solidariedade.
Seríamos
caridosos se, ao revés, soubéssemos fazer-nos momentaneamente
surdos quando alguém, habituado a escarnecer de tudo e de todos, nos
atingisse com expressões irônicas ou zombeteiras.
Seríamos
caridosos se, disciplinando nossa língua, só nos referíssemos ao
que existe de bom nos seres e nas coisas, jamais passando adiante
notícias que, mesmo sendo verdadeiras, só sirvam para conspurcar a
honra ou abalar a reputação alheia.
Seríamos
caridosos se, embora as circunstâncias a tal nos induzissem, não
suspeitássemos mal de nossos semelhantes, abstendo-nos de expender
qualquer juízo apressado e temerário contra eles, mesmo entre os
familiares.
Seríamos
caridosos se, percebendo em nosso irmão um intento maligno, o
aconselhássemos a tempo, mostrando-lhe o erro e despersuadindo o de
o levar a efeito.
Seríamos
caridosos se, privando-nos, de vez em quando, do prazer de um
programa radiofônico ou de T.V. de nosso agrado, visitássemos
pessoalmente aqueles que, em leitos hospitalares ou de sua
residência, curtem prolongada doença e anseiam por um pouco de
atenção e afeto.
Seríamos
caridosos se, embora essa atitude pudesse prejudicar nosso interesse
pessoal, tomássemos, sempre, a defesa do fraco e do pobre, contra a
prepotência do forte e a usura do rico.
Seríamos
caridosos se, mantendo permanentemente uma norma de proceder sereno e
otimista, procurássemos criar em torno de nós uma atmosfera de paz,
tranquilidade e bom humor.
Seríamos
caridosos se, vez por outra, endereçássemos uma palavra de aplauso
e de estimulo às boas causas e não procurássemos, ao contrário,
matar a fé e o entusiasmo daqueles que nelas se acham empenhados.
Seríamos
caridosos se deixássemos de postular qualquer benefício ou
vantagem, desde que verificássemos haver outros direitos mais
legítimos a serem atendidos em primeiro lugar.
Seríamos
caridosos se, vendo triunfar aqueles cujos méritos sejam inferiores
aos nossos, não os invejássemos e nem lhes desejássemos mal.
Seríamos
caridosos se não desdenhássemos nem evitássemos os de má vida, se
não temêssemos os salpicos de lama que os cobrem e lhes
estendêssemos a nossa mão amiga, ajudando-os a levantar-se e
limpar-se.
Seríamos
caridosos se, possuindo alguma parcela de poder, não nos deixássemos
tomar pela soberba, tratando, os pequeninos de condição, sempre com
doçura e urbanidade, ou, em situação inversa, soubéssemos
tolerar, sem ódio, as impertinências daqueles que ocupam melhores
postos na paisagem social.
Seríamos
caridosos se, por sermos mais inteligentes, não nos irritássemos
com a inépcia daqueles que nos cercam ou nos servem.
Seríamos
caridosos se não guardássemos ressentimento daqueles que nos
ofenderam ou prejudicaram, que feriram o nosso orgulho ou roubaram a
nossa felicidade, perdoando-lhes de coração.
Seríamos
caridosos se reservássemos nosso rigor apenas para nós mesmos,
sendo pacientes e tolerantes com as fraquezas e imperfeições
daqueles com os quais convivemos, no lar, na oficina de trabalho ou
na sociedade.
E
assim, dezenas ou centenas de outras circunstâncias poderiam ainda
ser lembradas, em que, uma amizade sincera, um gesto fraterno ou uma
simples demonstração de simpatia, seriam expressões inequívocas
da maior de todas as virtudes.
Nós,
porém, quase não nos apercebemos dessas oportunidades que se nos
apresentam, a todo instante, para fazermos a caridade.
Porquê?
É
porque esse tipo de caridade não transpõe as fronteiras de nosso
mundo interior, não transparece, não chama a atenção, nem provoca
glorificações.
Nós
traímos, empregamos a violência, tratamos ou outros com leviandade,
desconfiamos, fazemos comentários de má fé, compartilhamos do erro
e da fraude, mostramo-nos intolerantes, alimentamos ódios,
praticamos vinganças, fomentamos intrigas, espalhamos inquietações,
desencorajamos iniciativas nobres, regozijamo-nos com a impostura,
prejudicamos interesses alheios, exploramos os nossos semelhantes,
tiranizamos subalternos e familiares, desperdiçamos fortunas no
vício e no luxo, transgredimos, enfim, todos os preceitos da
Caridade, e, quando cedemos algumas migalhas do que nos sobra ou
prestamos algum serviço, raras vezes agimos sob a inspiração do
amor ao próximo, via de regra fizemo-lo por mera ostentação, ou
por amor a nós mesmos, isto é, tendo em mira o recebimento de
recompensas celestiais.
Quão
longe estamos de possuir a verdadeira caridade!
Somos,
ainda, demasiadamente egoístas e miseravelmente desprovidas de
espírito de renúncia para praticá-la.
Mister
se faz, porém, que a exercitemos, que aprendamos a dar ou sacrificar
algo de nós mesmos em benefício de nossos semelhantes, porque "a
caridade é o cumprimento da Lei."
Do
livro “As leis morais”.
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CARIDADE
Onde
a caridade estende as mãos dadivosas,
nossa
individualidade desaparece,
a
fins de que a bondade do Senhor
prevaleça
e domine.
Emmanuel
Do
livro “Dicionário da alma”.
Psicografia
de “Francisco Cândido Xavier”.