terça-feira, 31 de julho de 2012

Posses


Tema da semana
Parábola do mau rico
de 30/07/2012 a 05/08/2012

Joanna de Ângelis

O verdadeiro possuidor é sempre o melhor doador.

O que se tem, deve-se. Quando se oferece, possui-se.

Na contabilidade da vida, a verdadeira posse apresenta-se como o bem que se esparze e proporciona alegria, ao invés de significar o recurso que se armazena, permanecendo inútil.

A verdadeira doação enriquece aquele que a faz, certamente beneficiando quem a recebe.

Convencionalmente, a pessoa que economiza e guarda valores amoedados torna-se rica. Quase sempre, porém, amesquinha-se, apaixonando-se pelos haveres de que se faz prisioneira.

Há, em consequência, sistemas que se encarregam de amealhar e ensinar a poupar, gerando as cirandas de investimentos, que permitem auferir lucros e vantagens.

Os que assim tornam-se ricos, vivem em constante ansiedade em relação às oscilações do câmbio, das bolsas, dos títulos, pobres de sentimentos elevados, vítimas da ganância financeira.

A riqueza, em si mesma, não é boa, nem é má, dependendo de quem a usa e de como é utilizada.

Com facilidade gera o apego e o medo de perdê-la; empobre-se outros indivíduos, enquanto dorme nos cofres da usura, permitindo que a miséria se generalize.

Aprende a repartir, a fim de melhor compartires.

O que tens passa, deixas de possuir; mas o que és permanece, não se consome.

Reflete em torno da transitoriedade da existência física e compreenderás quão é urgente aproveitá-la com propriedade.

A sucessão inexaurível do tempo demonstra a fragilidade das coisas diante dele e a sua inexorabilidade, no que diz respeito à consumpção de tudo quanto é terreno.

Somente as conquistas intelecto morais m sabor de eternidade.

Desse modo, enriquece-te das aquisições espirituais, que te alargarão os horizontes do entendimento, da vida, melhor apresentando-te o significado e o objetivo da existência carnal.

Portador de uma visão correta a respeito de como deves proceder, irás libertando-te de incontáveis fatores degenerativos que se te fixaram à personalidade e são responsáveis por problemas, doenças e insatisfações que te afligem.

Não mais disputarás vaidades, nem te afetarão agressões, que são de nenhuma importância. Tuas aspirações serão mais elevadas.

Não te sentirás maior ou menor de acordo com o jogo das enganosas referências, das inúteis competições do palco terrestre. Tuas conquistas não serão mensuráveis por aplausos ou apupos.

Viverás tranquilo, e disporás de tudo quanto é necessário, sem o tormento dispensável do supérfluo.

A vida te dá tudo, bastando o esforço para consegui-lo. Também toma-o, sem que ninguém possa reter os bens que lhe não pertencem.

Saúde, paz, alegria, trabalho e autorrealização sejam-te as raras moedas de que necessitas para a jornada humana, que te abrirão as portas do futuro no rumo da imortalidade – a tua meta final e única.

O estímulo divino emula-me ao avanço.

As leis de incessantes mudanças funcionam em toda parte, ensinando-me renovação e progresso.

Sou acionado por uma energia superior que me propele para as cumeadas da vida.

O vale é sombra, e a montanha conquistada é luz.

Satisfeito, saudável e pleno, sou estimulado a vencer e a crescer.

Psicografia de Divaldo Franco do livro Momentos de Saúde

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Presença do Codificador


Tema da semana
Parábola do mau rico
de 30/07/2012 a 05/08/2012

Parábola do mau rico
Allan kardec

5. Havia um homem rico, que vestia púrpura e linho e se tratava magnificamente todos os dias. - Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de úlceras, - que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico; mas ,ninguém lhas dava e os cães lhe viam lamber as chagas.

- Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também morreu e teve por sepulcro o inferno. - Quando se achava nos tormentos, levantou os olhos e via de longe Abraão e Lázaro em seu seio - e, exclamando, disse estas palavras: Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua, pois sofro horrível tormento nestas chamas.

Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho, lembra-te de que recebeste em vida teus bens e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora está na consolação e tu nos tormentos.

Ao demais, existe para sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que queiram passar daqui para aí não o podem, como também ninguém pode passar do lugar onde estás para aqui.

Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai, - onde tenho cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não venham também eles para este lugar de tormento. - Abraão lhe retrucou: Eles têm Moisés e os profetas; que os escutem. - Não, meu pai Abraão, disse o rico: se algum dos mortos for ter com eles, farão penitência. - Respondeu-lhe Abraão: Se eles não ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda mesmo que algum dos mortos ressuscite. (S. LUCAS, cap. XVI, vv. 19 a 31.)




sábado, 28 de julho de 2012

UM HOMEM CHAMADO AMOR


Tema Especial
Ciência e Espiritismo”
de 23/07/2012 a 29/07/2012
 
No dia 23 de Maio de 1980, às 21:00 horas, a TV-Globo levou ao ar para todo o Brasil, dirigido pelo uberabense e espírita Cezar Vanucci, um dos mais belos programas já produzidos na televisão em homenagem a alguém. "Um homem chamado amor", o título do programa que surgia como apoio e divulgação à campanha do Prêmio Nobel da Paz para Chico Xavier.

Desnecessário dizer que o Especial emocionou o povo brasileiro.
Artistas, dos mais expressivos do teatro e da música, participaram com grande brilhantismo e, entre eles, destacamos Toni Ramos, Elis Regina, Lady Francisco, Nair Belo, Glória Menezes, Lima Duarte, Paulo Figueiredo, Vanusa, Eva Vilma, Felipe Carone, Roberto Carlos...

Gilberto Gil compôs em homenagem ao Chico, a música "No Céu da Vibração", que Elis Regina interpretou como só ela poderia ter feito.

Ao final, Chico psicografou diante das câmeras belíssima página de Emmanuel, aqui inserida por nós, sintetizando o tema abordado ao longo de todo o programa.

Emmanuel
Amigos, Jesus nos Abençoe.

A inteligência humana conseguirá atingir as maiores realizações.

Poderá conhecer a estrutura de outros mundos.

Construir no piso dos mares.

Escalar os mais altos montes.

Interferir no código genético das criaturas.

Decifrar os segredos da vida cósmica.

Penetrar os domínios da mente e controlá-los.

Inventar os mais sofisticados aparelhos que propiciem o reconforto.

Criar estatutos para o relacionamento social e transformá-los, segundo suas próprias conveniências.

Levantar arranha-céus ou materializar as mais arrojadas fantasias.

Entretanto, nunca poderá alterar as leis fundamentais de Deus e nem viver sem amor.


Os dados acima foram extraídos dos livros abaixo editados pelo IDEAL:"Chico Xavier Mediunidade e Coração" Autor Carlos A. Baccelli - Editora IDEAL

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Finalizando esse Tema Especial da semana, nós acrescentamos alguns trechos do livro "A Gênese" do codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, onde encontramos anotações muito valiosas que se encaixam no nosso estudo. Ao fim destacamos o último parágrafo que relata o antagonismo das religiões, compreendendo que esse relato final não está sendo analisado nessa semana, mas o mesmo fala sobre o distanciamento que nós, seres humanos falíveis, temos imposto uns aos outros por conta de nosso preconceito particular que não reflete em nenhum momento um pensamento de Jesus.

Allan Kardec

A Gênese

UM SÓ REBANHO E UM SÓ PASTOR
(TRECHOS)

...Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da Natureza, a Ciência não poderá destruir, mau grado à opinião de alguns, o que é obra de Deus e eterna verdade. Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade.
(3º parágrafo)

No estado atual da opinião e dos conhecimentos, a religião, que terá de congregar um dia todos os homens sob o mesmo estandarte, será a que melhor satisfaça à razão e às legítimas aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida pela ciência positiva; que, em vez de se imobilizar, acompanhe a Humanidade em sua marcha progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem; que não for nem exclusivista, nem intolerante; que for a emancipadora da inteligência, com o não admitir senão a fé racional; aquela cujo código de moral seja o mais puro, o mais lógico, o mais de harmonia com as necessidades sociais, o mais apropriado, enfim, a fundar na Terra o reinado do Bem, pela prática da caridade e da fraternidade universais.
(6º parágrafo)

O que alimenta o antagonismo entre as religiões é a ideia, generalizada por todas elas, de que cada uma tem o seu deus particular e a pretensão de que este é o único verdadeiro e o mais poderoso, em luta constante com os deuses dos outros cultos e ocupado em lhes combater a influência. Quando elas se houverem convencido de que só existe um Deus no Universo e que, em definitiva, ele é o mesmo que elas adoram sob os nomes de Jeová, Alá ou Deus; quando se puserem de acordo sobre os atributos essenciais da Divindade, compreenderão que, sendo um único o Ser, uma única tem que ser a vontade suprema; estender-se-ão as mãos umas às outras, como os servidores de um mesmo Mestre e os filhos de um mesmo Pai e, assim, grande passo terão dado para a unidade.
(parágrafo final)
 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

ESPIRITISMO CIENTÍFICO APENAS ?


Tema Especial
Ciência e Espiritismo”
de 23/07/2012 a 29/07/2012


Irmão X

Grande contingente de estudiosos das teses espiritistas pleiteia agora uma situação especial de evidência para o Espiritismo estritamente científico, pugnando pelo esquecimento dos tesouros evangélicos. Alguns vão ao extremo de condenar a prática da prece. Outros apontam as tarefas de consolação com uma pontinha de ridículo na observação impensada e mordaz. A invocação dos ensinamentos do Cristo provoca-lhes estranheza no coração. São discípulos que esqueceram suas origens, olvidando o carinho das mãos dedicadas que lhes guiam os passos vacilantes do princípio.

Querem fenômenos e prosélitos.

Seria interessante para os novos trabalhadores do Evangelho povoarem seus centros de oração e de estudo com balanças, agulhas, trenas e máquinas elétricas. No meio de todo esse aparelhamento, haveria uma cátedra para o estranho Colombo, disposto à maravilhosa descoberta do plano espiritual, sentado calmamente em sua cadeira. A operação mais difícil seria encontrar o Espírito verdadeiramente sábio e amigo, que viesse de sua adaptação aos desígnios de Deus para tocar o botão misterioso da maquinaria humana, como o pequeno vagabundo contratado repentinamente, nos palcos improvisados, para os toques da mágica imprevista.

É certo que ninguém poderá excluir as características científicas no exame transcendente do intercâmbio entre os vivos da Terra e os vivos do Infinito. Toda indagação séria é justa e toda análise conscienciosa produzirá os frutos doces da verdade. Charles Richet, com toda a sua impertinência de pesquisador, prestou grande serviço à divulgação dos novos ensinamentos; suas perquirições desapaixonadas e incessantes impuseram respeito aos valores psíquicos, entre os espíritos mais empedernidos de nossa época.

Mas, entre a mentalidade indagadora e a mentalidade leviana existe considerável distância.

A grande questão de todos os tempos não é propriamente a de conhecer, mas a de entender a finalidade do conhecimento.

O Espiritismo constitui a porta da esperança para um mundo melhor. Seus fenômenos representam chamamentos comuns para uma compreensão mais elevada dos valores da vida. O intercâmbio entre a natureza visível e a invisível conduz a profundas ilações de ordem moral, que é necessário não esquecer. Sua expressão religiosa com o Cristo tem de ser essencial. Sua mensagem permanente tem no Evangelho os primórdios eternos. Nada poderá realizar de substancialmente útil,sem aquele Divino Amigo dos homens.

Instalar mais uma ciência puramente intelectual, onde todas as expressões científicas de cérebro sem o coração já faliram desastradamente, no capítulo da elevação real da criatura, não constituiria uma leviandade de consequências fatais?

A plataforma espiritista, em todos os lugares, será, antes de tudo, uma aleluia dos corações. Suas vozes deverão reviver as lições incompreendidas daquele Mestre amoroso e sábio que veio salvar os pecadores.

O Evangelho está repleto das expressões “subir ao monte”. Jesus pregava no “monte”. Comumente, os discípulos iam encontrá-lo ali, de modo a lhe ouvirem o ensinamento.

Nós, entretanto, os espíritos pobres e endividados, que nos encontremos em esforços de auto reajustamento sobre a Terra, na carne ou fora de seus liames, constituímos a pesada multidão de seres indecisos no vale sombrio da morte, da enfermidade, do sofrimento. Para encontrarmos o Cristo, é indispensável a viagem difícil da montanha. É preciso alçar o coração, no sacrifício, e marchar, marchar, não obstante todos os apelos das ambições desvairadas, vencendo as sugestões do egoísmo e da tentação do bem-estar,que, por vezes, se manifestam, inesperadamente, nas observações afetuosas, de timbre familiar.

A realização cristã, que é o primeiro programa do Espiritismo santificante, não se conquista tão-só com as rotulagens científicas e deduções filosóficas, mais ou menos brilhantes. Os antepassados dos discípulos atuais, nas diversas famílias religiosas do Cristianismo, adquiram os valores da fé com a própria vida. Para conduzirem um mundo que se perdia na destruição e na indiferença, a tomar conhecimento do Cristo, nunca se vestiram com a túnica da inconstância. Padeceram e morreram. Deram-se em holocausto, imolando-se a si próprios

A inquietação tem sido um mal de todos os séculos. Mas, seria justo perguntarmos ao homem dos tempos que correm, quando os problemas da profundidade submarina e da estratosfera o preocupam, porque se espanta consigo próprio, entre as muralhas dos livros de paz e as ruínas fumegantes das guerras.

Enquanto o Espiritismo se constitui em fonte de alívio para a compacta fileira de infelizes que buscam ansiosamente as suas águas confortadoras e claras, alguns de seus estudiosos se deixam empolgar pela mania das novidades, ansiosos pela atenção balofa dos publicistas sem consciência dos valores sentimentais.

De nossos núcleos, temos de afirmar que, sem a sintonia com o Cristo,qualquer edificação será inútil.

Taunay, em suas “Reminiscências”, conta que o conselheiro Paulino José Soares de Souza era o provedor da Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro, quando as autoridades republicanas, logo após a queda do Império, o intimaram a eliminar o “Deus guarde” dos seus expedientes oficiais, nas relações com o Governo.

Mas o Conselheiro experiente respondeu sem titubear;

-Não me é possível aceder às indicações de V.Exª, porquanto, neste estabelecimento, ainda há Deus e nem se pode dispensá-lo, entre tantos sofrimentos e misérias dos homens.

E prosseguiu com as mesmas expressões.

Aos que nos disseram de um Espiritismo científico apenas, tomados pelo entusiasmo fácil dos jogos de palavras, responderemos igualmente:

-Não nos seria lícito seguir em vossas águas, porque, entre nós, antes de tudo, prevalecem os fundamentos da verdade com Jesus Cristo e, considerando a extensão de nossas necessidades, não sabemos daqui a quantos séculos poderemos pensar em modificação das velhas fórmulas.

Livro: Pontos e Contos Psicografia Francisco Cândido Xavier - Pelo espírito: Irmão X


quinta-feira, 26 de julho de 2012

CIÊNCIA E AMOR


Tema Especial
Ciência e Espiritismo”
de 23/07/2012 a 29/07/2012
Emmanuel

"A ciência incha, mas o amor edifica."
Paulo. (1 CORINTIOS, 8:1.)

A ciência pode estar cheia de poder, mas só o amor beneficia. A ciência, em todas as épocas, conseguiu inúmeras expressões evolutivas. Vemo-la no mundo, exibindo realizações que pareciam quase inatingíveis. Máquinas enormes cruzam os ares e o fundo dos oceanos. A palavra é transmitida, sem fios, a longas distâncias. A imprensa difunde raciocínios mundiais. Mas, para essa mesma ciência pouco importa que o homem lhe use os frutos para o bem ou para o mal. Não compreende o desinteresse, nem as finalidades santas.

O amor, porém, aproxima-se de seus labores e retifica-os, conferindo-lhe a consciência do bem. Ensina que cada máquina deve servir como utilidade divina, no caminho dos homens para Deus, que somente se deveria transmitir a palavra edificante como dádiva do Altíssimo, que apenas seria justa a publicação dos raciocínios elevados para o esforço redentor das criaturas.

Se a ciência descobre explosivos, esclarece o amor quanto à utilização deles na abertura de estradas que liguem os povos; se a primeira confecciona um livro, ensina o segundo como gravar a verdade consoladora. A ciência pode concretizar muitas obras úteis, mas só o amor institui as obras mais altas. Não duvidamos de que a primeira, bem interpretada, possa dotar o homem de um coração corajoso; entretanto, somente o segundo pode dar um coração iluminado.

O mundo permanece em obscuridade e sofrimento, porque a ciência foi assalariada pelo ódio, que aniquila e perverte, e só alcançará o porto de segurança quando se render plenamente ao amor de Jesus Cristo.

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caminho, Verdade e Vida. Ditado pelo Espírito Emmanuel.



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Marte

Mensagem especial da semana


Humberto de Campos

"Enquanto as empresas de turismo organizam na Terra os grandes cruzeiros intercontinentais, realizando um dos mais belos esforços de socialização do século XX, no mundo dos Espíritos organizam-se caravanas de fraternidade, nos planos do intermúndio”.

Na região do estômago, o privilégio pertence aos sujeitos felizes, bem fichados nos círculos bancários, mas, nos planos do coração, os livros de cheque são desnecessários.

Novo Gulliver da vida, mergulho a minha observação nos espetáculos assombrosos, experimentando, além das águas do Aqueronte11, a mudança integral de todas as perspectivas.

Encarcerado no ponto convencional de sua existência transitória, o homem terrestre é aquela coruja incapaz de enfrentar a luz da montanha, em pleno dia, suportando apenas a sombra espessa e triste de sua noite.

Como Ajax, filho de Oileu, contempla, às vezes, o tridente irado dos deuses, mas, embora a sua desesperação e o seu orgulho, não vai além da ilha, onde a maré alta o atirou, nos caprichosos movimentos do oceano da Vida.

A morte não é uma fonte miraculosa de virtude e de sabedoria.

É, porém, uma asa luminosa de liberdade para os que pagaram os mais pesados tributos de dor e de esperança, nas esteiras do Tempo.

Enquanto os astrônomos europeus e americanos examinam, cuidadosamente, os seus telescópios, para a contemplação da paisagem de Marte, à distância de quase trinta e sete milhões de milhas, preparando as lentes poderosas de seus instrumentos de ótica, fomos felicitados com uma passagem gratuita ao nosso admirável vizinho do sistema solar, cuja passagem, nas adjacências do orbe, vem empolgando igualmente os núcleos de seres invisíveis, localizados nas regiões mais próximas da Terra.

A descrição das viagens, desde o princípio deste século, é uma das modalidades mais interessantes da literatura mundial; todavia, o homem que vá do Rio de Janeiro a Tóquio, de avião, sem escalas de qualquer natureza, não pode descrever o caminho, com os seus detalhes mais interessantes.

Transmitirá aos seus leitores a emoção da imensidade, mas não conseguirá pintar uma nuvem.

Fora de suas máquinas aéreas, poderia fornecer a impressão de uma águia, mas o turista do Espaço, para se fazer entendido pelos companheiros da carne, teria de recorrer às figuras mais atrevidas do mundo mitológico.

É por isso que apelarei aqui para o véu de Ísis ou para o dorso de Pégaso, cuja patada fez brotar a fonte de Hipocrene, no Hélicon das divindades.

Depois de alguns segundos, chegávamos ao termo de nossa viagem vertiginosa.

Dentro da atmosfera marciana, experimentamos uma extraordinária sensação de leveza...

Ao longe, divisei cidades fantásticas pela sua beleza inédita, cujos edifícios, de algum modo, me recordavam a Torre Eiffel ou os mais ousados arranha-céus de Nova York.

Máquinas possantes, como se fossem movidas por novos elementos do nosso “hélium” balouçavam-se, ao pé das nuvens, apresentando um vasto sentido de estabilidade e de harmonia, entre as forças aéreas.

Aos meus olhos, desenhavam-se panoramas que o meu Espírito imaginara apenas para os mundos ideais da mitologia grega, com os seus paraísos cariciosos.

Aturdido, interpelei o chefe da nossa caravana, que se conservava silencioso:

Aqueronte -- Nome de um dos quatro rios do Inferno, por onde as almas passavam sem esperança de regressar, e de curso tão impetuoso que arrasta, qual se fossem grãos de areia, grandes blocos de rochedos.

Ajax -- filho de Oileu rei dos Lócrios (Grécia) era um príncipe intrépido, mas brutal e cruel.
Equipou quarenta navios para a guerra de Tróia.

Tomada esta, ele ultrajou uma profetisa de classe, que se refugiara no templo, motivo por que os deuses fizeram submergir sua esquadra.

Salvo do naufrágio, agarrou-se a um rochedo, dizendo, com arrogância: Escapei, apesar da cólera dos deuses! Irritados com o despejado orgulho, os deuses o aniquilaram, ali mesmo.

Ísis -- Uma das principais divindades egípcias.

Tendo reinado durante muito tempo, foi, depois de morta, elevada à categoria de deusa (a canonização dos tempos subsequentes), e em sua honra e culto celebravam-se ritos, chamados -- Mistérios de Ísis.

Na forma comum, é representada (à imagem das santas) sob a figura de uma jovem mulher, sentada, amamentando um dos filhos, Hórus, tendo sobre a testa duas pontas ou um globo lunar.

Pégaso -- Cavalo alado que tem destacados feitos na mitologia grega.

Nele iam os poetas em visita ao monte da inspiração.

Ainda hoje, em tropo literário se diz que, em busca de inspiração, os poetas cavalgam o Pégaso.

Nesse monte, chamado Hélicon, Pégaso, com uma patada, fez surgir a fonte da água inspiradora, denominada Hipocrene, isto é -- fonte do cavalo.

-- "Se a Terra julga a influência de Marte como profundamente belicosa, como poderemos conciliar a definição dos astrólogos com os espetáculos reais?"

-- "E, por ventura -- respondeu-me o excelente mentor espiritual — chegaste a conhecer no planeta terrestre um homem ou uma ideia, retirando a humanidade de sua rotina, sem sofrimento e sem guerra?

Para o nosso mundo, Marte é um irmão mais velho e mais experimentado na vida.

Sua atuação no campo magnético de nossas energias cósmicas verifica-se de modo que os homens terrenos possam despir os seus envoltórios de separatividade e de egoísmo.

Mas, nesse instante, havíamos chegado a um belo cômodo atapetado de verdura florida.

Ante os meus olhos atônitos, rasgavam-se avenidas extensas e amplas, onde as construções eram fundamente análogas às da Terra.

Tive então ensejo de contemplar os habitantes do nosso vizinho, cuja organização física difere um tanto do arcabouço típico, com que realizamos as nossas experiências terrestres.

Notei, igualmente, que os homens de Marte não apresentam as expressões psicológicas de inquietação, em que se mergulham os nossos irmãos das grandes metrópoles terrenas.

Uma aura de profunda tranquilidade os envolve.

É que, esclareceu o mentor que nos acompanhava, os marcianos já solucionaram os problemas do solo e já passaram pelas experimentações da vida animal, em suas fases mais grosseiras.

Não conhecem os fenômenos da guerra e qualquer flagelo social seria, entre eles, um acontecimento inacreditável.

Evolveram sem as expiações coletivas, amarguradas e terríveis, com que são atormentados os povos insubmissos da Terra.

As pátrias, aí, não recebem o tributo do sangue ou da morte de seus filhos, mas são departamentos econômicos e órgãos educativos, administrados por instituições justas e sábias.

Era tempo, contudo, de observarmos a cidade com as suas disposições interessantes.

O leitor não poderá dispensar o nome dessa cidade prodigiosa, e à falta de termos comparativos, chamemo-la Marciópolis.

Orientados pelo amigo que nos dirigia a singular excursão, atingimos extensa praça, onde se erguia um templo maravilhoso pela sua imponência, tocada de majestosa simplicidade, e onde, ao que fomos informados, se haviam reunido todos os credos religiosos.

De uma de suas eminências, vimos o nosso Sol, bastante diferenciado, entornando na paisagem as tintas do crepúsculo.

A vegetação de Marte, educada em parques gigantescos, sofria grandes modificações, em comparação com a da Terra.

É de um colorido mais interessante e mais belo, apresentando uma expressão avermelhada em suas características gerais.

Na atmosfera, ao longe, vagavam nuvens imensas, levemente azuladas, que nos reclamaram a atenção, explicando-nos o mentor da caravana fraterna que se tratava de espessas aglomerações de vapor d'água, criadas por máquinas poderosas da ciência marciana, afim de que sejam supridas as deficiências do líquido nas regiões mais pobres e mais afastadas do largo sistema de canais, que ali coloca os grandes oceanos polares em contínua comunicação, uns com os outros.

Tais providências, explica o espírito superior e benevolente, destinam-se a proteger a vida dos reinos mais fracos da Natureza planetária, porque, em Marte, o problema da alimentação essencial, através das forças atmosféricas, já foi resolvido, sendo dispensável aos seus habitantes felizes a ingestão das vísceras cadavéricas dos seus irmãos inferiores, como acontece na Terra, superlotada de frigoríficos e de matadouros.

Todavia, ao apagar das luzes diuturnas, o grande templo de Marciópolis enchia-se de povo.

Observei que a nossa presença espiritual não era percebida, mas podíamos examinar a multidão, à vontade, em seus mínimos movimentos.

Todos os grandes centros deste planeta, esclareceu o nosso amigo e mentor espiritual, sentem-se incomodados pelas influências nocivas da Terra, o único orbe de aura infeliz, nas suas vizinhanças mais próximas, e, desde muitos anos, enviam mensagens ao globo terráqueo, através das ondas luminosas, as quais se confundem com os raios cósmicos, cuja presença, no mundo, é registrada pela generalidade dos aparelhos radiofônicos.

Ainda há pouco tempo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia inaugurou um vasto período de experimentações, para averiguar a procedência dessas mensagens, misteriosas para o homem da Terra, anotadas com mais violência pelos balões estratosféricos conforme as demonstrações obtidas pelo Dr.Robert Millikan, nas suas experiências científicas.

A palestra esclarecedora seguia o seu curso interessante, mas os movimentos na praça acentuavam-se sobremaneira.

No horizonte, surgia uma grande estrela de luz avermelhada, enquanto os dois satélites marciáticos resplandeciam.

Todos os olhares fitavam o céu, ansiosamente.

Aquela estrela era a Terra.

Uma comissão de cientistas iniciou, da tribuna maior do santuário, uma vasta série de estudos sobre o nosso mundo distante.

Aparelhos luminosos foram afixados, na praça pública, ao passo que presenciávamos a exibição de mapas quase irrepreensíveis dos nossos continentes e dos nossos mares.

Teorias notáveis com respeito à situação espiritual do planeta terrestre foram expendidas, entendendo perfeitamente as ideias dos estudiosos que as expunham, através da linguagem universal do pensamento.

A Terra enviava-nos a sua claridade, em reflexos trêmulos e tristes, observando, então, que os marcianos haviam povoado o seu templo de telescópios poderosos.

Enquanto os melhores aparelhos da América possuem um diâmetro de duzentas polegadas, com a possibilidade de aumentar a imagem de Marte doze mil vezes, a astronomia marciana pode contemplar e estudar a Terra, aumentando-lhe a imagem mais de cem mil vezes, chegando ao extremo de examinar as vibrações de ordem psíquica, na sua atmosfera.

A nossa grande surpresa não parou aí, entre os mais avançados aspectos de evolução e de cultura.

Enquanto a luz avermelhada da Terra tocava a nossa visão espiritual, víamos que todas as multidões do templo se haviam aquietado, de leve...

A Ciência unida à Fé apresentava um dos espetáculos mais belos para o nosso espírito.

Vimos, então, que ao influxo poderoso daquelas mentes irmanadas no mesmo nível evolutivo, pela sabedoria e pelo sentimento, formara-se sobre o santuário uma estrada luminosa, em cujos reflexos descera do alto um mensageiro celeste.

Recebido com as intensas vibrações de júbilo divino e silencioso, a figura, quase angélica, começou a falar, depois de uma prece comovedora:

"Irmãos, ainda é inútil toda tentativa de comunicação com a Terra rebelde e incompreensível!

Debalde os astrônomos terrenos vos procuram ansiosos, nos abismos do Infinito!...

Seus telescópios estão frios, suas máquinas, geladas.

Faltam-lhes os ardores divinos da intuição sublime e pura, com as vibrações da fé que os levariam da ciência transitória à sabedoria imortal.

Fatigados na impenitência que lhes caracteriza as atividades inquietas e angustiosas, os homens terrestres precisam de iluminação pelo amor, afim de que se afastem do círculo vicioso da destruição, na tecnocracia da guerra.

Lá, os Irmãos se devoram uns aos outros, com indiferença monstruosa! Os povos não se afirmam pelo trabalho ou pela cultura, mas pelas mais poderosas máquinas de morticínio e de arrasamento.

Todos os progressos científicos são patrimônio do egoísmo utilitário ou elementos sinistros da ruína e da morte!...

Enquanto as árvores de Deus frondejam no caminho da Vida e do Tempo, cheias de frutos cariciosos, as criaturas terrenas consideram-se famintas de violência e de sangue.

A ciência de seres como esses não poderia entender as vibrações mais elevadas do Espírito!

Os vícios de uma falsa cultura casam-se aos vícios das religiões convencionalistas, que estacionam em exterioridades nocivas ou se detém nos fenômenos, sem cogitar das causas profundas, esquecendo-se o homem do templo divino do seu coração, onde as bênçãos de Deus desejam florir e semear a vida eterna!...

Tão singulares desequilíbrios provocaram na personalidade terrestre um sentido bestial que lhe corrompe os mais preciosos centros de força e, somente agora, cogitam as instituições divinas da transição necessária, afim de que a vida na Terra se efetive, com o sentido da verdadeira humanidade, ali conhecido tão somente na exposição teórica de alguns espíritos insulados!...

Irmãos, contemplemos a Terra e peçamos ao Senhor do Universo para que as modificações, precisas ao seu aperfeiçoamento, sejam menos dolorosas ao coração de suas coletividades! Oremos pelos nossos companheiros, iludidos nas expressões animais de uma vida inferior, de modo que a luz se faça em seus corações e em suas consciências, possibilitando as vibrações recíprocas de simpatia e comunicação, entre os dois mundos!..."

A multidão ouvia-lhe a palavra, atenta e comovida, e nós lhe escutávamos a exortação profunda, como se fôramos convocados, de longe, pela harmonia mágica da lira de Orfeu, quando o nosso mentor espiritual nos acordava do êxtase, a nos bater levemente nos ombros, chamando-nos ao regresso.

Orfeu -- O músico mágico da mitologia.

Seus acordes encantavam, e atraíam as próprias feras.

Tendo sua esposa Eurídice sido picada e morta por uma serpente, no dia nupcial, ele foi ao Inferno onde obteve, pela sedução da sua lira, que divindades dali lhe ressuscitassem a consorte, com a condição, porém, de não olhar para trás, antes de deixar os limites do Inferno, cláusula que Orfeu infringiu.

Essa lenda serviu de enredo à conhecida ópera de Gluck — Orfeu.

Em todos os lugares, há os que mandam, e vivem os que obedecem.

Na categoria dos últimos, voltamos às esferas espirituais da Terra, como o homem ignorante que fizesse um voo, sem escalas, através do mundo, confundido e deslumbrado, embora não lhe seja possível definir o mais leve traço de seu espantoso caminho.

Humberto de Campos
(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 25 de julho de 1939).
Do livro "Novas Mensagens", de Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier
 

CIÊNCIA E TEMPERANÇA


Tema Especial
Ciência e Espiritismo”
de 23/07/2012 a 29/07/2012


Emmanuel

"E à ciência, a temperança; à temperança, a paciência; à paciência, a piedade." - (II PEDRO, 1:6.)

Quem sabe precisa ser sóbrio.

Não vale saber para destruir.

Muita gente, aos primeiros contatos com a fonte do conhecimento, assume atitudes contraditórias.

Impondo ideias, golpeando aqui e acolá, semelhantes expositores do saber nada mais realizam que a perturbação.

É por isso que a ciência, em suas expressões diversas, dá mão forte a conflitos ruinosos ou inúteis em política, filosofia e religião.

Quase todos os desequilíbrios do mundo se originam da intemperança naqueles que aprenderam alguma coisa.

Não esqueçamos.

Toda ciência, desde o recanto mais humilde ao mais elevado da Terra, exige ponderação.

O homem do serviço de higiene precisa temperança, a fim de que a sua vassoura não constitua objeto de tropeço, tanto quanto o homem de governo necessita sobriedade no lançamento das leis, para não conturbar o espírito da multidão.

E não olvidemos que a temperança, para surtir o êxito desejado, não pode eximir-se à paciência, como a paciência, para bem demonstrar-se, não pode fugir à piedade, que é sempre compreensão e concurso fraternal.

Se algo sabes na vida, não te precipites a ensinar como quem tiraniza, menosprezando conquistas alheias.

Examina as situações características de cada um e procura, primeiramente, entender o irmão de luta. Saber não é tudo. É necessário fazer.

E para bem fazer, homem algum dispensará a calma e a serenidade, imprescindíveis ao êxito, nem desdenhará a cooperação, que é a companheira dileta do amor.


Livro: Vinha de Luz - Emmanuel - Psicografia de Chico Xavier