segunda-feira, 30 de abril de 2012

Presença do Codificador


Tema da semana
O Dever
de 30/04/2012 a 06/05/2012

Allan Kardec
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
O dever

7. O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.

Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.

O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. E a um tempo juiz e escravo em causa própria.

O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.

O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos. - Lázaro. (Paris, 1863.)

domingo, 29 de abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

Causa dos sofrimentos


Tema da semana:
“A infelicidade real”
de 23/04/2012 a 29/04/2012

Amélia Rodrigues

Toda sinfonia se distribui por trechos melódicos que alcançam o esplendor em cada etapa, atingindo, por fim, o majestoso, que é a culminância da peça musical.
Aquela era também uma peculiar sinfonia de vida, modificando a estrutura de outras vidas. Atingia o ápice em cada fase e recomeçava suavemente para lograr o máximo de beleza em harmonia incomparável.
Sucediam-se as multidões, como se fossem ondas do mar tangidas pelas mãos invisíveis de vento contínuo.
Chegavam e partiam, trazendo aflições e levando o poema de sons e de esperanças para as diferentes regiões de onde procediam.
Renovavam-se ao contato com o jovem e belo Messias, tocadas pela magia da sua presença e pela força da sua palavra.
Jamais alguém conseguira penetrar uma lâmina de luz como aquela, no âmago dos sentimentos em sombras das criaturas humanas, qual ele o fazia.
As palavras que enunciava eram comuns; as lições, eram quase conhecidas, as atitudes eram convencionais; no entanto, ninguém antes falara aquelas mesmas palavras conforme ele o fazia, ou ensinara com a majestade com que o realizava, ou se apresentara com a grandeza que lhe era natural.
Jesus, sem dúvida, era especial.
D'Ele se irradiava peregrina beleza que fascinava os sentimentos e inundava de alegria as criaturas desesperadas. Poder-se-ia dizer que era semelhante a chuva gentil sobre terra escaldante, ou brisa leve passando sobre ramagens paradas, ou perfume suave impregnando o ar...
Era impossível permanecer insensível à sua presença.
Ou o amavam, ou dominados pela inveja, pelo ressentimento ante a sua beleza, a sua grandiosidade,  o detestavam. Ninguém lhe ficava indiferente ao encontro, desvelando o mundo íntimo ante o silêncio ou a voz que lhe traduziam o momento.
Graças a essa força magnética incomparável, ele se revelou o único na Terra que nunca teve alguém, antes ou depois, que lhe equiparasse.
Surgira, fazia pouco, e produzira uma revolução que se alongaria por todos os tempos do porvir, sem interrupção nem desaparecimento.
Aqueles abençoados dias ficariam imortalizados com a sua música na partitura da Natureza em perene festa.
-o-
Quando a azáfama do dia laborioso cessava, os seus amigos se reuniam na praia, na casa de Simão, sob a copa das árvores frondosas, agasalhados pela escumilha das noites salpicadas de astros lucilantes nela engastados, para continuar a ouvi-lo.
Noutras ocasiões, terminadas as pregações, voltavam ao grupo, a fim de comentar as realizações e solicitar esclarecimentos que lhes completassem a compreensão das ocorrências que tiveram lugar durante o festival de misericórdia.
Jesus os ouvia exaltados ou oprimidos e, paciente, falava-lhes com especial carinho, de forma que pudessem entesourar os ensinamentos para o tempo de todos os futuros tempos.
Indagações variadas surgiam em propostas, algumas estapafúrdias, outras assinaladas pelo sincero desejo de romper a roupagem da ignorância na qual estorcegavam, ampliando as dimensões do entendimento para melhor servir.
Foi numa dessas oportunidades, após as ocorrências do atendimento a paralíticos e enfermos outros que se recuperaram ao toque de suas mãos, que João, o discípulo amado, se acercou, e, sensibilizado pelo vivo interesse de penetrar nos arcanos das Divinas Leis, interrogou, ansioso:
- Por que, Mestre querido, existe o sofrimento no mundo? Não nos poderia haver criado, o Pai Todo Poderoso, sem limitações, nem angústias? Vejo o fórceps do desespero arrancando os corações das criaturas do seu ergástulo no peito e fico-me a perguntar, qual a razão para tanto padecimento?
Compreendendo a aflição íntima do jovem sonhador, que desejava libertar as almas dos látegos que as dilaceram, o Mestre compassivo esclareceu:
- Já viste o vento paciente lapidando as montanhas, a fim de alterar-lhes os contornos, mas também viste os raios arrebentando-lhes em choques poderosos e alcançando a mesma finalidade. O córrego tranqüilo cava o leito suavemente, seguindo a superfície da terra e modificando os seus acidentes, a fim de deslizar sem problemas, mas corre que as tempestades descarregam catadupas que arrasam regiões e se espraiam abrindo caminhos para escoar-se. O fogo devorador destrói o que alcança, mas a lamparina mantém a claridade sem qualquer dano...
“Assim também sucede com os fenômenos que convidam os seres humanos à transformação moral.
“A dor é mecanismo de purificação, como o fogo que derrete os metais que serão transformados em utilidades. É fórceps, como disseste, que arranca da concha grosseira o delicado ser que guarda, a fim de que ele atinja a sua finalidade existencial.
“Fizessem-se dóceis ao bem e ao próprio progresso as criaturas, e não necessitariam da força ciclópica que explode em toda parte, a fim de as despertar e conduzir pelos caminhos do dever.
“O Pai Todo Misericórdia nos fez simples, destituídos de complicações, com os atributos valiosos emanados do Seu amor, em forma de fascículo da Sua luz, a fim de que cada qual, por sua vez, desenvolvesse essa força que lhes dorme latente, ampliando-a ao infinito em cuja direção ruma.
“Porque preferem o prazer ao dever, as satisfações imediatas aos investimentos de sacrifício, fecham-se nos conflitos dos problemas que criam, quando se deveriam abrir à claridade da ascensão. Não se deixam sensibilizar pelo amor, nem pela beleza, pela harmonia vigente em toda parte, nem pela alegria, antes preferindo as construções sombrias nas quais se refugiam, fazendo jus às conseqüências dos atos insensatos, irresponsáveis...”.
Observando que os amigos silenciaram, a fim de o ouvirem melhor, ele fez uma pausa oportuna, dando-lhes ensejo de apreender o conteúdo das palavras, e logo prosseguiu:
- A vida é única e eterna, mas as existências carnais são múltiplas. O espírito mergulha no corpo e dele sai, pelos fenômenos da fecundação e da morte, sem que haja sido criado naquele momento ou se desintegre no outro.
“Qual uma semente pequenina que possui a árvore gigantesca no íntimo, aguardando a oportunidade para desenvolvê-la, o Espírito carrega em germe a grandeza do Pai, esperando as condições próprias para agigantar-se e atender a finalidade superior que a aguarda.
“Insensíveis, por enquanto, a essa mensagem de vida eterna, avançam, inconseqüentes, pelas vias de perturbação, desatentos, produzindo males que lhes voltarão de maneira diferente nas novas-futuras etapas, exigindo-lhes correção, reequilíbrio, ajustamento.
“Nesse momento, os camartelos do sofrimento são utilizados pela Vida, a fim de despertar-lhes a consciência adormecida e demonstrar-lhes que o corpo, por mais valioso e belo, é sempre transitório, e que o sentido da existência humana é mais sério e grave do que pensam.
“Surdos à delicada voz do amor, escutam o chamado tonitruante do sofrimento. Indiferentes aos suaves apelos da brisa de ternura, atendem sob o medo da tempestade.
“Desse modo, são as próprias criaturas que elaboram o seu destino através dos comportamentos que se permitem, recebendo de acordo com o que dão, colhendo conforme semeiam. Todos têm as mesmas oportunidades e são aquinhoados com iguais recursos, cabendo, a cada qual, a conduta que lhe pareça mais própria, do que decorrerá a felicidade ou desdita futura”.
Novamente silenciou por um pouco, de modo a ser entendido, para logo continuar:
- Eu venho despertar os seres humanos para cumprimento dos seus deveres, demonstrando-lhes que tudo no mundo é transitório, mas existe a vida eterna, que será conquistada a grande esforço pessoal, sem privilégios nem aventuras. Cada um ascende com o esforço dos próprios pés e conquista os espaços mediante os interesses investidos. Eu venho dar a minha vida, para que todos tenham vida em abundância, no entanto, é necessário que cada qual realize a sua parte para consegui-la.
“Sempre que liberto momentaneamente alguém das amarras do seu sofrimento, em nome do Amor, proporciono-lhe oportunidade para retificar o ontem de enganos, recuperar o tempo que aplicou indevidamente, crescer em Espírito e vencer-se. Por isso, recomendo-lhes que não voltem a pecar, para que não lhes aconteça nada pior.
“Somente uma conduta correta merece uma vida feliz”.
E desejando encerrar a questão, concluiu:
- O Pai deseja a felicidade de todos os Seus filhos, e por essa razão mandou-me a eles, para convidá-los à ascendência libertadora.
“Quanto mais alto se está, mais ampla e atraente é a paisagem. Subir, todavia, exige esforço. Sair das baixadas dos vícios para aspirar o ar puro das virtudes é o desafio que se deve enfrentar e vencer.
“Eu sigo à frente, porque sou o Caminho...”.
Respiravam-se as ânsias da Natureza bordada de prata gotejante das estrelas longínquas, quando Ele silenciou.
João, enternecido, acercou-se mais e O abrtaçou com lágrimas nos olhos, falando-Lhe com voz embargada:
- Eu seguirei contigo, Amigo amado, até o fim, doando-te a minha pobre vida, para que possa ficar ao Teu lado para sempre...
-o-
Os séculos se dobaram sobre aquele momento inesquecível, e o discípulo amado, dando prosseguimento fiel à promessa, retornou à Terra, nas roupagens de Francisco de Assis, para convocar as criaturas distraídas a retomar o aminho do nem, único, aliás, que a Ele conduz.

Do livro “Dias venturosos”.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

SOCORRE, MEU FILHO


Tema da semana:
“A infelicidade real”
de 23/04/2012 a 29/04/2012

Meimei

Não passes distraído, diante da dor.

Nesses semblantes, que o sofrimento descoloriu e nessas vozes fatigadas, em que a tortura plasmou a escala de todos os gemidos, Jesus, o nosso Mestre crucificado, continua incompreendido e desfalecente.

Nessas longas multidões de aflitos e infortunados, encontrarás a nossa própria família.

Quantos deles albergaram esperanças, iguais àquelas que nos alimentam os sonhos, sem qualquer oportunidade de realização? Quantos tentaram atingir a presença da luz, incapazes de vencer a opressão das trevas?!...

Essas crianças, caídas no terço da angústia, esses enrugados velhinhos sem ninguém, essas criaturas que a ignorância e a provação mergulharam no poço da enfermidade ou no espinheiro do crime, são nossos irmãos, à frente do Eterno Pai!...

Estender-lhes tua alma, na dádiva que possas oferecer, guardando a certeza de que, amanhã, provavelmente, estarás também suspirando pelo balsamo do socorro, na benção de um pão ou na luz de uma prece amiga!

Recorda que as mãos, hoje por ti  libertadas dos grilhões da penúria, podem ser aquelas que amanhã, chegarão livres e luminosas, em teu auxílio!...

Ao pé de cada coração desventurado, Jesus nos espera, em silêncio.

Socorre, pois, meu irmão, e na doce melodia dobem, ainda mesmo que dificuldades e sombras te ameacem a luta, ouvirás, no imo do coração, a voz do Divino Mestre, a encorajar-te, paciente e amoroso: "Tem bom ânimo! Eu estou aqui".


Do livro “Caridade”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

CONFORTO E NÓS


Tema da semana:
 “A infelicidade real”
de 23/04/2012 a 29/04/2012


Batuíra

O sofrimento em comum é agente bendito de unificação, ensinando-nos a esquecer preocupações descabidas e aflições excedentes, porquanto, nas horas amargas somos naturalmente induzidos a contar uns com os outros. Entretanto, quando a tempestade se vai, deixando-nos o passo, em céu azul, eis-nos em nós mesmos, conosco, na intimidade de nossos pontos de vista. E aí surge o grande problema – o problema de render-nos ao trabalho do bem, de tal modo que não disponhamos de tempo para vincular-nos em demasia às nossas opiniões próprias.

Disso concluímos que a influência do conforto e da prosperidade constitui em si precioso ingrediente da vida que nos cabe aproveitar em serviço e mais serviço no bem de todos.

Há quem diga que a felicidade do céu é diminuir a infelicidade da Terra ou extinguir esse mesmo infortúnio. Verdade bela e simples, ser-nos-á lícito transferi-la para o nosso caminho pessoal, compreendendo que a felicidade maior dos que se tornam felizes será sempre atenuar a infelicidade que ainda assedie a existência dos nossos irmãos menos felizes.

Deus nos subtrai a dificuldade para que aprendamos a suprimi-la da estrada alheia. Ajuda-nos para que ajudemos. Abençoa-nos para que nos habituemos a abençoar.

Reconheçamos assim que a tranqüilidade e a alegria nos bafejam para que venhamos a mobilizá-las no trabalho do bem geral.


Do livro “Mais Luz”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

FELIZES E INFELIZES


Tema da semana
A infelicidade real
de 23/04/2012 a 29/04/2012



Emmanuel

 L - Questão 921

O conceito espírita da felicidade nem sempre enxerga os felizes onde o mundo os coloca.
Há pessoas que requisitam conforto demasiado, na preocupação de serem felizes, e acabam infelizes, estiradas no tédio.
Criaturas aparecem, pleiteando destaque e, em se crendo ditosas por obtê-lo, confessam-se infortunadas depois, quando se reconhecem inabilitadas para os encargos que receberam.
Há felizes nas mesas lautas, comprando enfermidades com os excessos a que se afeiçoam e infelizes, na carência material, entesourando valores imperecíveis, no proveito das lições que o mundo lhes reservou.
Em toda parte, surpreendemos os felizes de saúde, que abusam da robustez, caindo na desencarnação prematura, e os infelizes de doença, que senhoreiam longa vida pelo respeito que dedicam ao corpo.
Em todos os lugares, os contrastes aparentemente chocantes... Situações risonhas, muitas vezes, geram suplícios porvindouros, por não saber quem as possui, empregar criteriosamente a felicidade que lhes foi emprestada. Aqui e além, surgem, sem conta, os felizes-infelizes nos enganos a que se arrojam e os infelizes-felizes, nas provações em que se elevam.
Sócrates, considerado infeliz, é o pai da filosofia.
Anytos, imaginado feliz, ainda hoje, no conceito do mundo, é o carrasco.
Jesus, suposto infeliz, é o renovador do mundo.
Barrabás, julgado feliz, até agora, na memória dos homens, é o malfeitor.
°°°
Apliquemos o entendimento espírita aos acontecimentos cotidianos e verificaremos que os felizes e os infelizes não estão qualificados pela abastança ou pela indigência que entremostrem nos quadros exteriores. São e serão sempre aqueles que, em qualquer circunstância, edificam a felicidade para os outros, de vez que as leis da vida determinam seja a criatura medida pelas outras criaturas, especificando que a felicidade ou a infelicidade articuladas por alguém, nos caminhos alheios, se voltem, matematicamente, para quem os formou.

(De “Opinião Espírita”, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz)